Pioneirismo na Bahia: vinícola UVVA completa dois anos com 26 prêmios

José Mion é jornalista, assessor de imprensa, apaixonado por Gastronomia e escreve para o Alô Alô Bahia.

Terceira geração de produtores de batata na Chapada Diamantina, Fabiano Borré traz no DNA a fórmula para o sucesso nos negócios. Na Fazenda Progresso, em Mucugê, atualmente o tubérculo é carro-chefe, mas é de lá também outro projeto bem-sucedido do grupo FP, do qual o empresário é CEO, o Latitude 13 Cafés Especiais, cuja produção é dividida entre outras terras.

Há dois anos, no entanto, os olhares do Brasil para a Bahia foram reforçados com a inauguração da UVVA, que rapidamente tornou-se uma das principais vinícolas do Nordeste, e hoje emprega 130 pessoas em áreas que vão da produção, vinificação e laboratório à administração, turismo e o operacional do restaurante Arenito, instalado na bela estrutura na Chapada Diamantina.
 
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"Sempre entendemos o significado e a responsabilidade que o pioneirismo representa”, nos disse o gaúcho que “virou” baiano aos nove anos de idade, quando o pai e o avô, Ivo e Pedro, compraram as primeiras terras no estado, dando início à história dos Borré na região.

Em conversa com o Alô Alô Bahia, Fabiano contou sobre a relação da marca com a Bahia – “o sentimento de pertencimento desencadeado pelos baianos que visitam a UVVA é lindo de se ver” -, com a cultura nordestina, além de antecipar novidades da vinícola, de projeto de hotelaria a grandes eventos, além dos próximos passos rumo a um ainda mais destacado crescimento. Confira:

- Você é da terceira geração de produtores de batata e café. Como surgiu o apreço pelo vinho e o desejo por produzir os próprios?

Fabiano Borré – CEO da Vinícola UVVA: Nosso projeto de vinhos é justamente o resultado destes 40 anos em que nossa família se estabeleceu, evoluiu e entendeu o potencial deste território que é a Chapada Diamantina. O Agronegócio da Fazenda Progresso é a grande base de sustentação para esta nova oportunidade na indústria do turismo e dos vinhos finos. Através da experiência e conhecimentos acumulados nestas últimas décadas, através das três gerações ainda hoje envolvidas nos negócios do grupo, é que temos, paulatinamente, dado novos passos com as inovações.

O apreço pelos vinhos já fazia parte do cotidiano, como simples apreciadores. O potencial e as possibilidades vitivinícolas para nos tornarmos produtores nos foi trazida institucionalmente pela Secretaria de Agricultura do Estado da Bahia e consolidada na sequência, pelo belíssimo trabalho de assessoria da Embrapa Uvas e Vinhos. A UVVA foi um projeto profundamente estudado e debatido, principalmente porque sempre entendemos o significado e a responsabilidade que o pioneirismo representa. Saiu do papel quando tivemos a convicção sobre os resultados para os vinhos e para a região.
 
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- Que retrospectiva você faz desses dois primeiros anos de atuação?

FB: É um balanço bastante positivo. Nesse período desde a abertura da vinícola, há apenas dois anos, a UVVA vem se consolidando no cenário enoturístico e contribuindo decisivamente para o estabelecimento deste novo terroir de vinhos finos brasileiros. Traduzindo esses dois anos em números, lançamos 12 rótulos entre vinhos tintos, brancos e espumantes. Mais de 15 mil turistas foram recebidos em nossos tours e restaurante, além dos vinhos terem sido agraciados com reconhecimento nacional e internacional, num total de 26 prêmios até o momento, chancelas que muito nos orgulham e atestam a excelência dos produtos. Mas, um dos saldos que mais nos agrega valor é o emocional, o sentimento de pertencimento desencadeado pelos baianos que visitam a UVVA é lindo de se ver.
 
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- Para celebrar, vocês lançaram a safra 2020 do Cordel, cuja versão 2019 foi muito bem-conceituada em guias de grande destaque mundial, como o Descorchados. Como você espera que a safra 2020 se comporte no mercado como um todo?

FB: O Cordel 2020 chega ao mercado herdando a notoriedade da safra 2019 e respeitando a sua essência. Desembarca também já reconhecido com 90 pontos pelo James Suckling e 91 pontos pelo Guia Descorchados, o que é muito importante porque demonstra a consistência do produto. O Cordel é um vinho de corte, um blend, que possui um perfil definido, mas cuja composição varia ano a ano. Na UVVA acreditamos no conceito de que safra é única e devemos elaborar os vinhos respeitando as uvas que vem dos vinhedos. Na safra 2020, tivemos um clima levemente mais frio, o que permitiu a inclusão da uva Syrah neste vinho (o rótulo é composto de Syrah [65%], Cabernet Sauvignon [22%], Merlot [12%] e Malbec [1%]), aportando frescor e os aspectos frutados já característicos do Cordel. Aqui vale a oportunidade de mencionar que o nome foi escolhido para homenagear a cultura nordestina do Cordelismo, o contar histórias de maneira leve e alegre, que tem uma relação direta com a experiência que queremos nas degustações do Cordel.
 
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- No final do ano passado, vocês fizeram um evento em São Paulo, reafirmando a estratégia da UVVA de estar no mapa dos consumidores de São Paulo, o maior mercado potencial do País. Como vê a recepção do vinho nacional, principalmente o baiano hoje em dia, em São Paulo e em outras localiades?

FB: O vinho precisa se tornar conhecido, romper barreiras geográficas e alguns paradigmas, principalmente no tocante ao vinho nacional. Nesse sentido, apresentar um produto novo, de um terroir novo, exige um esforço extra. Por esta razão, acreditamos que eventos de degustação acompanhados de explicações consistentes sobre o local e meios de produção colaboram para que o mercado conheça e entenda os produtos.

A receptividade dos vinhos da UVVA tem sido muito boa e a curiosidade sobre este novo terroir baiano tem aguçado os sentidos dos enófilos e profissionais. Ainda somos um estado conhecido pelas praias, pelo verão e o Carnaval. Então, a primeira questão é demonstrar que possuímos também uma região montanhosa, com 1.150 metros de altitude, um clima frio, cujas temperaturas mínimas podem chegar a 7 graus no inverno e este é um fator determinante para a produção e o perfil dos vinhos aqui em Mucugê. 

Nosso maior ideal é consolidar a UVVA na Bahia, primeiramente. Eventos como os de São Paulo e Rio de Janeiro, em 2023, e os que realizaremos em outras praças em 2024, incluindo obviamente a nossa capital Salvador, nos ajudam a apresentar o terroir e trilhar esse caminho.
 
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- Atualmente, quantas garrafas vocês chegam a produzir ao ano e qual a expectativa para este ano?

FB: A UVVA foi concebida tecnicamente para chegar a um potencial produtivo de 260.000 garrafas por ano, englobando todos os tipos de vinhos. Desde 2019, com a primeira safra, temos evoluído gradativamente nesse sentido e projetamos que o número seja alcançado a partir desta safra 2024. Existe uma relação cronológica complexa entre a idade das videiras, a qualidade das uvas e os estilos de vinhos (barricado ou não). Geralmente, nossos tintos, por exemplo, só são disponibilizados ao mercado, na média, 3 anos após o ano safra.

Para este ano, no que tange a vinhos, provavelmente a novidade seja a chegada ao mercado do nosso primeiro Merlot varietal, que já está pronto e apenas aguardando o tempo ideal de repouso em garrafa. Nos anos à frente, a essência do trabalho será a chegada das novas safras dos vinhos que já construímos, cada uma trazendo sua singularidade específica.
 
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- Alguma novidade a mais sendo preparada, além do Cordel 2020? Existe uma curiosidade grande pelo que pode vir a chegar de novidade na sede da vinícola também.

FB: No tocante ao turismo, prevemos o incremento de atrações englobando cada vez mais arte, cultura e gastronomia ao cenário do vinho. Uma novidade, ainda nos próximos meses, será um tour específico e focado em nossa atual exposição de arte, do artista plástico Marcos Zacariades. Para a Vindima, que ocorre entre os meses de junho e julho, este ano teremos uma maior estrutura e uma oferta mais ampla de datas. Este é um programa imperdível para aqueles que são aficionados pelo mundo dos vinhos e ávidos por conhecimento. Na linha do horizonte, a curto prazo, também teremos um novo espaço exclusivo para eventos sendo construído em meio aos vinhedos, que virá para oportunizar diferentes vivências em meio a essa paisagem da UVVA. Possuímos, sim, um projeto de hotelaria para compor a vivência do vinho, mas as obras ainda não foram iniciadas.
 
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- A mostra de Marcos Zacariades deve ficar em cartaz na UVVA até julho deste ano. Alguma nova prevista já? Como nasceu esse desejo de ter uma galeria dentro da vinícola?

FB: Sempre vislumbramos a UVVA como um espaço para manifestações artísticas, em especial da arte brasileira. Nos valemos disso, inclusive, na ambientação interna da vinícola, que prioriza os designers nacionais. Há um processo de conjunção do vinho com a arte, que atualmente tem seu ápice na exposição “Tempo Espelhado” do Marcos Zacariades em nossa Cave. Aliás, este é um trabalho que merece ser conhecido. A ideia da exposição e da galeria surgiu de um encontro meu com o Marcos, foi um momento específico em que tudo convergiu a favor. As obras que compõem a exposição encontraram abrigo na proposta e valores que UVVA queria trazer à tona, de valorização e reflexão sobre alguns temas diretamente ligados à história da Chapada e também da sociedade como um todo. O vinho também é arte e da mesma maneira tem um papel transformador. (Sobre uma próxima exposição), ainda estamos avaliando o futuro e a forma como a arte se perpetuará dentro da UVVA após essa exposição específica, mas a conexão será mantida.

* Fotos: Rafael Martins (Fabiano Borré) e Divulgação.

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