Memórias de infância: artista pinta casas na praia do Jardim de Alah

Memórias de infância: artista pinta casas na praia do Jardim de Alah

Redação Alô Alô Bahia

redacao@aloalobahia.com

Gilberto Barbosa para CORREIO

Arisson Marinho/CORREIO

Publicado em 29/05/2024 às 15:31 / Leia em 4 minutos

No mirante da praia do Jardim de Alah, em Salvador, um conjunto de pinturas de casas se destaca, acrescentando mais vida à paisagem do litorânea. As pinturas foram feitas pela artista Mirian Aragão, 68 anos, que estava caminhando pela região quando viu a possibilidade de transformar o cenário idílico em uma tela urbana.

Mais que emprestar um caráter artístico à beleza natural, a iniciativa também serviu de estímulo para a manutenção da limpeza na área de praia.

“Eu estava caminhando pela praia quando vi as pedras e tive a ideia de criar uma cidade. Passava quase todos os dias na região, até que saí com a tinta e comecei o projeto. Tinha muito lixo naquele local, então eu limpei e comecei a pintar. Espero que com as casas, as pessoas parassem de jogar os dejetos ali”, explica.

Foram necessários quatro dias para Mirian finalizar o projeto. Ela conta que levava os materiais numa bolsa e, durante a caminhada, sentava-se no mirante, onde passava cerca de duas horas, produzindo as casas a partir da tinta acrílica, material usado em pinturas de telas.

“Conversei com um amigo ambientalista e ele disse que a pintura não agredia a natureza. Tem chovido muito aqui na cidade, mas as casas ainda estão lá. Se começar a apagar a tinta, eu farei o retoque. A maior dificuldade durante esses dias era me levantar, depois que terminava de pintar porque aquele é um terreno complicado, escorregadio e o mirante era alto, o que me deixava com medo de cair”, diz.

O resultado foi compartilhado nos grupos do bairro, recebendo diversos elogios dos moradores. Mirian também exibe sua rotina de artista plástica na rede social, onde é possível constatar a diversidade das suas telas, que possuem temas variados, que vão desde vestuário, como chapéus, camisetas, mesas, até violões.

Uma característica, no entanto, norteia o trabalho de Miriam: a pintura de casas, que são uma lembrança de sua origem no munícipio de Ipiaú, no sul baiano.

“Eu nasci no povoado de Rio do Peixe e fui para Ipiaú muito cedo, onde passei minha infância. Eu amava ver as casas, as paisagens, os palhaços e o circo. Eu crio muitas coisas a partir dessas lembranças da minha época de criança no interior”.

A relação de Mirian com a arte começou ainda criança, através da irmã, que fazia cursos de pinturas no município de Jequié. A irmã se desencantou e desistiu das produções artísticas, mas isso não reduziu o gosto de Miriam em criar as obras. Apesar disso, mudanças de endereços e a necessidade de cuidar dos três filhos a afastaram da arte.

“Com o tempo, as crianças foram crescendo e saindo de casa e eu passei a me sentir muito sozinha, então decidi procurar alguma coisa para passar o tempo e me animar. Meu marido me incentivou, dizendo que esse era o meu estilo. Ele também pinta e quando comprava os materiais dele, sempre trazia uma tela para mim”, conta.

Os amigos também são grandes incentivadores de Mirian na arte. Ela relata que, além do apoio, eles encomendam os materiais feitos por ela, que cobra entre R$ 70 e R$ 500 por produção, variando de acordo com o tamanho e a complexidade do projeto.

“Hoje, eu estava fazendo uma tela numa parede da casa de uma amiga e fiquei mais de dez horas na produção. Eles falam que eu cobro um preço muito baixo, mas eu não sei cobrar mais caro. Eu gosto de fazer isso e não tenho a intenção de enriquecer com esse trabalho”, finalizou.

A reportagem procurou a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano (Sedur) para obter esclarecimentos sobre o impacto ambiental e a necessidade de autorização da prefeitura para intervenções artísticas na praia, mas não conseguiu retorno até a publicação desta matéria.

 

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