16 Jan 2024
Masp confirma digitalização de 20 mil itens do acervo do baiano Rubem Valentim

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Após esse processo, o material foi identificado, higienizado e descrito, iluminando pontos pouco conhecidos do percurso do artista. São cadernos com notas, esboços, desenhos, notas fiscais da venda de obras, áudios de entrevistas recuperados e correspondências com personalidades que revelam histórias como a do seu retorno ao Brasil, após morar em Roma, na Itália, na década de 1960, quando chegou a expor suas obras.
Escolhendo a capital federal para essa volta, o artista nascido em Salvador lecionou na Universidade de Brasília (UnB)entre 1966 e 1968. Lá, chegou a comprar um terreno na Asa Sul, onde sonhava em concentrar toda sua obra, projeto que não chegou a concretizar.
"Os manuscritos trazem muitas informações sobre o processo de criação desse centro cultural em Brasília, que nunca se realizou", diz Matheus de Andrade, assistente curatorial no Masp, que investiga em seu mestrado a atuação didática e política de Valentim. "Essa documentação contribui para a compreensão da trajetória do artista, algo muito importante para a pesquisa e raro no Brasil", revela em entrevista à revista Carta Capital.
A chegada do acervo, há quase 4 anos, também marca uma virada de chave na era digital dos museus, segundo Adriana Villela, coordenadora do Centro de Pesquisa do Masp. "O maior desafio nem é digitalizar, mas garantir o acesso, estruturar os metadados e fazer a manutenção dos arquivos, com back-ups e atualizações", explica.
O processo envolve toda uma mudança nas leituras sobre a arte, visto que, na década de 1990, a presença de mulheres num acervo, por exemplo, era ignorada, e muitos artistas acabaram não sendo catalogados. "Há uma tendência, nesse processo de recebimento e digitalização de acervos, de se pensar em artistas que não tiveram a possibilidade de ter suas trajetórias registradas em catálogos", reflete Andrade.
Escultor, pintor e gravador, Valentim foi reconhecido em vida, mas sua presença na história da arte brasileira ganhou mais relevância recentemente, quando a representação dos negros nos museus passou a ser questionada. Segundo o Masp, por exemplo, só nos últimos dois anos, mais de 80 atendimentos de pesquisas de instituições nacionais e internacionais interessadas no artista foram feitos.
Em Salvador, sua terra natal, o artista foi lembrado e valorizado nos últimos anos também. Ele está, por exemplo, entre os representados com exposição permanente na galeria do subsolo do Mercado Modelo, inaugurada recentemente (foto abaixo).
Além disso, em dezembro de 2022, o Museu de Arte Moderna da Bahia celebrou seu centenário com o lançamento de um livro biográfico em espaço no museu que leva seu nome e que abriga outra exposição permanente.
Ainda em 2023, esculturas suas fizeram parte da Bienal Internacional de São Paulo e ele ganhou a exposição "Fazer o moderno, construir o contemporâneo: Rubem Valentim" no conceituado Instituto Inhotim, em Minas Gerais, ainda em cartaz.
Para os interessados em consultar o acervo exclusivo do Masp, com os materiais chegados em 2020, o Centro de Pesquisa atende pesquisadores e o público em geral mediante agendamento, de segunda a sexta, das 13h às 18h. Para agendar a visita, é necessário enviar um e-mail para centrodepesquisa@masp.org.br e aguardar um retorno.
* Por José Mion, com informações da Carta Capital. Fotos: Reprodução/Carta Capital, Geraldo Moniz e Paula Froes / Correio.
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