Aldri Anunciação sobre adaptar Torto Arado para teatro: “Desafio será respeitar imaginário em torno da obra”

A história do livro “Torto Arado”, do escritor baiano Itamar Vieira Junior, vai se expandir para os palcos. O responsável pela adaptação do texto para o teatro será o diretor, ator, dramaturgo, roteirista e apresentador de TV Aldri Anunciação. A estreia da peça está prevista para o primeiro semestre de 2024. 

A produção será de Fernanda Bezerra, diretora da Maré Produções Culturais. Aldri ficará com o texto e a direção do projeto. Ele é autor de sucessos como “Namíbia, Não!”, que originou o longa “Medida Provisória”, dirigido por Lázaro Ramos. Foi o próprio Aldri, inclusive, que adaptou o livro “Namíbia, Não!” para o teatro e, em seguida, para o cinema. 

Ganhador do Prêmio Jabuti em 2020, o livro “Torto Arado” é um romance de 2019 que conta a história de duas irmãs, Bibiana e Belonísia, marcadas por um acidente de infância, e que vivem em condições de trabalho escravo contemporâneo em uma fazenda no sertão da Chapada Diamantina. 

O livro foi um dos lidos pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante a pandemia. Em 2021, o próprio Itamar publicou em suas redes sociais uma foto de Lula segurando o livro. “Esta foto recebi da assessoria do presidente @lulaoficial com mensagens muito especiais. Disse que rememorou sua infância no sertão”, comentou o escritor na época. 
 
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(Autor de Torto Arado, Itamar Vieira Junior - Foto:  Matheus Pirajá/Divulgação)

Em entrevista ao Alô Alô Bahia, Aldri Anunciação falou sobre sua relação com a obra, contou como recebeu o convite para fazer a adaptação para o teatro e quais serão os desafios a enfrentar até a finalização do projeto, além de dar alguns spoilers sobre o elenco e planos para a estreia. Confira a entrevista completa:

Alô Alô Bahia: Como você recebeu o convite para fazer a adaptação? De onde ele partiu? 

Aldri Anunciação: Em turnê com a temporada "Namíbia -10 Anos", comentei com a produtora Fernanda Bezerra no camarim que “Torto Arado” teria sido o último livro lido por minha mãe antes dela falecer. Nossa família tem origem em trabalhos no campo (como roceiros) na cidade de Pedrão (próxima de Alagoinhas). Fernanda Bezerra prontamente fez o convite para eu adaptar e dirigir o espetáculo “Torto Arado”. Ela havia adquirido os direitos de adaptação com a Editora Todavia.

AAB: Você já trabalhou com outras adaptações de livros para o teatro. Qual será o principal desafio com Torto Arado?

AA: Nesses últimos oito anos, tenho tido experiência de adaptação de linguagens. Começa já com "Namíbia, Não!" (livro da Editora Perspectiva, vencedor do Prêmio Jabuti 2013), de minha autoria, que adaptei para o palco e para o cinema, com o título de "Medida Provisória" (juntamente com Lázaro Ramos, Lusa Silvestre e Elísio Lopes Jr). Outra experiência de adaptação foi o meu conto literário "A Mulher do Fundo do Mar", que ganhou encenação nos palcos em 2016. Além do livro "Pele Negras, Máscaras  Brancas", de Frantz Fanon, que ganhou sua primeira adaptação teatral brasileira através de minhas mãos em 2019, em espetáculo com mesmo nome. Essas três adaptações realizadas foram experiências desafiadoras mas que tiveram um resultado que me ensinou muito sobre como contar uma mesma história em linguagens completamente diferentes. O principal desafio da versão teatral de "Torto Arado" será equalizar e respeitar o imaginário que todos construíram em torno dessa bela história de Itamar Vieira Jr.
 
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AAB: Quais serão as fases do processo até a estreia da peça e em que fase ele está agora? 

AA: Primeiro, são os ajustes de linguagem, preservando ao máximo o universo temático e a poética da obra original no processo de escrita do texto dramático. Depois, a maximização das possibilidades de uso das ferramentas que o teatro e a encenação disponibilizam para promover o encontro das personagens com o público na encenação-palco. O momento atual é de ajustes, pesquisa e reinscrição do texto.

AAB: Quanto ao elenco, serão nomes exclusivamente baianos? Nomes mais conhecidos ou novos talentos?

AA: A obra de Itamar Vieira Jr. se utiliza metonimicamente de uma parte para falar do todo; fala de um território baiano para expor uma problemática brasileira de subjugação e exploração de povos. Nesse sentido, é uma obra brasileira e a diversidade de vozes certamente expressará uma honestidade com a obra. A definição e desenho de atores e atrizes (assim como técnicos e técnicas) não será recortada por uma territorialidade mas, sim, pela vontade e entendimento dos envolvidos. Sou muito racional na construção artística. A emoção já faz parte do ser humano; por isso, prezo por profissionais e artistas que entendem e desejam falar o que a obra está expressando. Adoro ser divertidamente político nas produções as quais me envolvo; a união de diversão e política é uma premissa importante nas artes brasileiras. Não consigo ver isso separadamente no nosso ofício, seja no cinema, na literatura ou no teatro. Penso que será esse entendimento que fará o desenho dos artistas que estarão nesse projeto. E isso inclui novos talentos e nomes conhecidos. 
 
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AAB: O que está sendo pensado para marcar a estreia da peça em Salvador? 

AA: Sabemos que a definição do local de estreia depende de muitos fatores que envolvem aspectos de produção e logística. Meu desejo é uma estreia em Salvador por razões que respondem ao gérmen da obra de Itamar Vieira Júnior. Mas ainda é cedo para definir essa localidade da estreia.

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Foto: Reprodução/Redes Sociais.

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