Alô Alô Política



24 Mar 2023

A agenda remendada de Jerônimo na China, a marcação cerrada em Geraldo e o absurdo em Itabuna

Salvador no alvo

O governador Jerônimo Rodrigues (PT) tem dito a aliados próximos que virá "com sangue nos olhos" para as eleições de 2024 em Salvador. Embora alguns integrantes da base admitam a possibilidade de mais uma pulverização de candidaturas, o governador quer apenas um candidato da base governista para enfrentar a tentativa de reeleição do prefeito Bruno Reis (União Brasil). Fontes do Palácio de Ondina dizem que o nome ainda não foi definido, mas garantem: o vice-governador Geraldo Júnior (MDB), que muito deseja disputar a prefeitura, não é, nem de longe, o favorito do líder petista.

Persona non grata

Por falar no vice-governador, Geraldo anda cada vez mais isolado na gestão estadual. Sem espaço e sem prestígio, o emedebista não é bem visto por integrantes do governo, que o consideram um "personagem incoveniente". Mas, por enquanto, ele não parece se importar muito. "É admirável a força de vontade de Geraldo em continuar tentando passar a imagem de que ele tem moral no governo", diz um parlamentar, sob anonimato.

Pense num absurdo…

Sabe aquela velha máxima imortalizada pelo ex-governador Octávio Mangabeira de 'pense num absurdo, na Bahia tem precedente'? Pois o novo episódio vem de Itabuna. Por lá, o prefeito Augusto Castro (PSD) não nomeou até hoje os cinco funcionários no gabinete do vice-prefeito Enderson Guinho (União Brasil), que rompeu com o pessedista. Guinho foi à Justiça e ganhou na primeira instância, que determinou a nomeação dos servidores no prazo de 15 dias. O prefeito não cumpriu, recorreu e pediu a suspensão do prazo, negado pela desembargadora Pilar Célia Tobio de Claro. O prazo venceu na última segunda-feira (20) e o prefeito simplesmente ignorou a decisão.

… Na Bahia tem precedente

E não para por aí. Não satisfeito, Augusto Castro decidiu, à revelia do vice-prefeito, nomear outras cinco pessoas que não frequentam o gabinete de Guinho. Para completar, o prefeito impetrou um novo agravo, desta vez ao presidente do Tribunal de Justiça da Bahia, Nilson Castelo Branco, que decidiu pela suspensão da exigência de prazo da nomeação. Estamos de olho, viu, Augusto?!

Agenda remendada

Líderes do Palácio de Ondina estão correndo contra o tempo para montar uma agenda alternativa para o governador Jerônimo Rodrigues na China. O petista baiano vai integrar a comitiva do presidente Lula, que, segundo garante fontes governistas, não comprou a pauta que Jerônimo pretendia discutir com empresários chineses, como a Ponte Salvador-Itaparica e o monotrilho do Subúrbio, projetos que não saíram do papel, embora sejam prometidos há anos. Com Jerônimo sem agenda na China e a reboque de Lula, governistas tentam esticar a estadia na China para tentar levar à frente a pauta baiana.

Salvação chinesa

A viagem de Jerônimo à China, inclusive, tem sido tratada como a tábua de salvação para o governo reembalar promessas e ter o que apresentar no balanço de 100 dias de governo, a serem completados no início de abril. O governador já anunciou que vai tratar com os chineses pelo menos três pautas que se arrastam na morosidade das gestões petistas: sobre a viabilidade da ponte Salvador-Itaparica, obra que o PT prometeu inaugurar dez anos atrás; sobre o VLT do Subúrbio, cujas obras foram abandonadas, mesmo depois de Rui Costa ter desativado as linhas de trem; além de finalmente tentar um acordo para a montadora BYD ocupar o antigo parque automotivo da Ford, que deu adeus ao Estado e deixou um rastro de desemprego e retração na economia. Falta saber se, nos 45 minutos do segundo tempo, o governo vai conseguir montar essa agenda.

Marcação cerrada

Jerônimo desenhou um esquema tático para que seus interlocutores mais próximos façam marcação cerrada sobre o vice-governador Geraldo Júnior enquanto ele estiver fora em missão internacional na China. O petista não esconde o receio de deixar a caneta nas mãos do vice. Segundo auxiliares da governadoria, Jerônimo teme que, uma vez empoderado provisoriamente com a caneta de governador em exercício, o emedebista saia das quatro linhas com anúncios e decisões fora do combinado. O governador, inclusive, já escalou o secretário de Relações Institucionais, Luiz Caetano (PT), para fazer uma espécie de marcação individual, homem a homem, para evitar arroubos e contornar eventuais situações embaraçosas.

Cochilo governista

Apesar de serem minoria na composição das comissões da Assembleia Legislativa, deputados da oposição aproveitaram o cochilo dos governistas para fazer valer o poder de fiscalização sobre a máquina estadual. Depois do estrago feito, o líder de Jerônimo na Assembleia, Rosemberg Pinto, apelou à Mesa Diretora para mudar a regra regimental e ainda aplicar efeito retroativo para anular a convocação do secretário.

Sua chamada está sendo encaminhada…

Quem também está na mira dos deputados é a secretária de Saúde, Roberta Santana, cuja fama de não atender nem retornar ligações já começa a incomodar. Um parlamentar chegou a relatar que vem tentando por 15 dias falar com a secretaria acerca de uma criança prematura com microcefalia que aguarda pela regulação há 27 dias no interior da Bahia.

O forasteiro

O presidente da União dos Municípios da Bahia UPB, Quinho Tigre (PSD), que foi coordenador da campanha de Jerônimo na região Sudoeste da Bahia, vai lançar a sua esposa, Dirleia Santos Meira, candidata a vereadora de Vitória da Conquista. Quinho não esconde de ninguém seu desejo de disputar a prefeitura da terceira maior cidade do estado em 2028 e, segundo político da região, articula a candidatura da esposa já como parte desta articulação. Contudo, a recepção não tem sido muito boa e o prefeito tem sido chamado de forasteiro em Conquista.

17 Mar 2023

A caixa preta dos convênios de Rui, Geraldo e os 40 PMs e a polêmica das invasões do MST

Caixa preta dos convênios de Rui I

Uma apuração sobre os convênios celebrados pelo governo do Estado com prefeituras em 2022 volta a suscitar forte suspeita de abuso de poder econômico nas últimas eleições. Antes de encerrar seu último ano de mandato, o ex-governador Rui Costa (PT) colocou quase R$ 1,6 bilhão à disposição de prefeitos para agilizar obras, reformas e afins. O valor é oito vezes maior do que ele mesmo havia gasto em 2021 (R$ 189 milhões), quando não houve disputa eleitoral. As obras, ou pelo menos a promessa delas, vieram majoritariamente da Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (Conder) e da Secretaria de Educação, que juntas responderam por R$ 1,3 bilhão [R$ 699 milhões e R$ 623 milhões respetivamente].

Educação em último plano

O que impressiona é que em 2021, a pasta da Educação, gerida à época por Jerônimo Rodrigues, não aplicou um centavo sequer em convênios. Os milhões aplicados aos 45 do segundo tempo escancarou o contraste de secura que a educação da Bahia viveu na última década, a ponto de figurar nas piores posições do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).

Caixa preta dos convênios de Rui II

Outro órgão que teve o caixa de convênios turbinado entre 2021 e 2022 foi a Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR), que saiu de R$ 56 milhões para R$ 155 milhões ações casadas com prefeituras e associações da agricultura familiar, vistas como a joia da coroa do voto petista nos rincões da Bahia.

Piada pronta

A declaração da secretária de Desenvolvimento Urbano da Bahia, Jusmari Oliveira (PSD), de que o governo Jerônimo iniciou estudos sobre a ponte Salvador-Itaparica caiu como uma piada no meio político. Após 10 anos da promessa de inauguração, falar em estudos é um acinte. Em tom de ironia, até governistas comentaram que tais estudos devem estar em fase de pós-doutorado, tamanha é a demora em retirar as ideias do papel.

Inimigo do Agro

Repercutiu mal entre produtores rurais e empresários do agronegócio baiano a fala do vice-governador do Estado, Geraldo Júnior (MDB), relativizando invasões de terra lideradas pelo MST em diversos municípios da Bahia. “…o MST não é uma invasão, é uma ocupação”, disse Geraldo, com clara intenção de afagar a plateia de petistas que o ouvia, sem, porém, atentar para a ilegalidade dos atos, muitos deles inclusive contidos com decisões judiciais de reintegração de posse. Em grupos de WhatsApp, o emedebista já vem sendo chamado de “o novo inimigo do agro”, justamente por desconsiderar que a insegurança jurídica causada pelas invasões tende a gerar prejuízos também na produção de alimentos e criação de animais.

Direta

A avaliação interna na base governista é que a declaração de Geraldo pró-invasões do MST não foi por acaso. O fato é que atinge em cheio produtores rurais e proprietários de terras da Bahia.

Geraldo e os 40 PMs

E por falar em Geraldo, enquanto a maioria dos municípios baianos tem no máximo dois policiais para combater a criminalidade, o vice-governador tem em seu gabinete nada menos que 40 PMs. Ou seja: Geraldo tem ao seu lado o número de policiais equivalente a 20 municípios pequenos do estado. A situação é no mínimo absurda diante dos índices alarmantes do estado, que tem o maior número de homicídios do país, e expõe também como os governos do PT têm lidado com a segurança pública. Convenhamos: esse caso é mais um daqueles que ilustra a famosa frase de Octávio Mangabeira: Pense num absurdo, na Bahia tem precedente.

Missa de corpo presente

A Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA) finalmente voltará a ter sessões totalmente presenciais. Foi o que garantiu o presidente Adolfo Menezes (PSD), atendendo à solicitação do líder da bancada da oposição, deputado Alan Sanches (UB), que alegou não haver mais restrições sanitárias para que os 63 deputados compartilhem o mesmo espaço no plenário da Casa. A medida desagradou e muito o líder da base governista, Rosemberg Pinto (PT), por avistar dificuldade em garantir a missa de corpo presente dos parlamentares para aprovar matérias de interesse do governador Jerônimo Rodrigues (PT). Na terça (15), por exemplo, a sessão foi encerrada porque não havia número suficiente de deputados no plenário. Da tropa de 40 governistas, só quatro deram as caras.

Zoada legislativa

E mesmo com número reduzido, a bancada da oposição na ALBA tem conseguido fazer algum barulho no Legislativo baiano. Além de ter feito a movimentação para o retorno das sessões presenciais, na semana passada, numa manobra bem articulada, conseguiu aprovar o convite ao secretário da Segurança Pública, Marcelo Werner, para falar na Comissão de Direitos Humanos sobre a violência na Bahia.

Quem avisa amigo é

Deputados da base governista têm alertado lideranças da gestão estadual em relação à atuação da Agerba no transporte intermunicipal. Parlamentares dizem que a agência tem feito vistas grossas para os péssimos serviços oferecidos por empresas que fazem a ligação entre cidades baianas, principalmente na região metropolitana de Salvador, além de não fiscalizar o transporte irregular. Para eles, o caso representa uma crise potencial para o governo.

Morde e assopra

O grupo de Jerônimo Rodrigues (PT) parece ainda não ter decidido se defende ou não a herança de Rui Costa (PT). Por um lado, a tropa governista tem se vangloriado da inauguração, por Jerônimo, de obras iniciadas ainda na gestão de Rui. Por outro, quando o tema vira segurança pública, aliados dizem que este é um novo governo e que os dados são do antigo, criticando indiretamente a gestão do antecessor na área.

Em busca de consenso

O grupo de oposição à prefeita Moema Gramacho (PT) tem procurado se articular para formar um bloco forte e competitivo capaz de vencer a turma da petista, que ainda não definiu quem será seu candidato na sucessão. Com uma gestão mal avaliada, Moema tem sofrido com a falta de nomes para 2024 e vê uma disputa acirrada entre aliados para ver quem será o candidato. Enquanto isso, a oposição se articula e, caso lance uma candidatura unificada do grupo, observadores da política na cidade garantem que Moema será destronada.

Fumaça preta

No Norte da Bahia, em Juazeiro, o grupo governista no estado intensificou as conversas para definir quem vai para o embate com a prefeita Suzana Ramos (PSDB). Lideranças do PCdoB já avisaram que pretendem lançar o deputado estadual Zó na disputa. Contudo, enfrentam forte resistência de caciques petistas, que insistem em um nome do partido para a corrida e argumentam que Zó tem um problema: não é da terra. Natural de Xique-Xique, o parlamentar não é tido como local pelos juazeirenses. Já no PT, há um racha: enquanto uma parte da legenda defende o nome do ex-prefeito Isaac Carvalho, outra não abre mão do também ex-prefeito Paulo Bomfim, afilhado político de Carvalho. A disputa nos bastidores está bastante acirrada e, por enquanto, não há sinal de fumaça branca.

Prévia para 2024

Enquanto isso, a prefeita Suzana Ramos surfa em ondas tranquilas. Com boa avaliação na cidade, a prefeita conseguiu importantes vitórias políticas em 2022. Na disputa pelo governo, deu ao seu candidato, ACM Neto (União Brasil), a vitória no segundo turno no município, mesmo com a ampla vantagem de Lula na cidade. E, de quebra, elegeu seu filho, Jordávio Ramos, deputado estadual com mais de 37 mil votos, mais que o dobro do que Zó, o segundo colocado (cerca de 13,9 mil).

Fogo de palha

Anunciado nesta semana pré-candidato a prefeito de Barreiras, o deputado estadual Eures Ribeiro (PSD) teve no município uma votação, em 2022, que não o elegeria nem para vereador. Ex-prefeito de Bom Jesus da Lapa, Eures teve em Barreiras 473 votos para deputado e ficou atrás de outros 15 nomes, alguns inclusive que não venceram o pleito. Em 2020, o vereador eleito na cidade com menor votação teve 577 sufrágios. Embora pretenda entrar na disputa, Eures não tem apoios fortes na cidade. Para colegas parlamentares, tudo não passa de “jogada de marketing”.

Foto: Divulgação.

10 Mar 2023

Rui no cangote de Jerônimo, a operação do governo para a aprovação de Aline Peixoto no TCM e a fritura de Rosemberg

Rui no cangote I

O governador Jerônimo Rodrigues respirou aliviado e espera ter autonomia de agora em diante depois de ter finalmente realizado o desejo do seu antecessor Rui Costa de colocar a ex-primeira-dama Aline Peixoto no Tribunal de Contas dos Municípios (TCM). A operação para que 40 deputados estaduais votassem na esposa de Rui foi afiançada, entre outras coisas, graças ao toma lá dá cá mediado por Jerônimo, com o pagamento generoso de emendas, oferta de cargos na máquina estadual e até em empresas terceirizadas que prestam serviço ao governo baiano. Agora que a fatura foi liquidada, o staff governista projeta um reequilíbrio na relação Rui-Jerônimo, sem que o ministro interfira tanto no dia a dia das decisões administrativas.

Rui no cangote II

Segundo interlocutores, o próprio Jerônimo já teria se queixado da falta de independência para tomar decisões em questões relativamente simples, mas que ainda estão sujeitas ao aval do agora ministro da Casa Civil. Exemplo disso é a lista para nomeação de assessores de funções técnicas que ainda repousa na mesa de Jerônimo aguardando sinal verde do ex. Sem liberdade almejada, o novo governador vê seus primeiros dias de mandato escorrer pelos dedos, com agendas que ainda não têm sua digital.

Nas entocas

Diversas nomeações no Diário Oficial do Estado deram o ritmo para a votação da bancada do PP na indicação de Aline Peixoto ao TCM. Pessoas ligadas aos pepistas foram agraciadas com cargos nos últimos dias, conforme movimentações publicadas no diário oficial, para garantir o apoio em bloco da legenda à ex-primeira-dama.

Caça às bruxas

Caciques da base governista estão desconfiados da votação obtida por Aline Peixoto e começaram uma caça às bruxas velada. Isso porque o Palácio de Ondina esperava ter 43 votos favoráveis à agora conselheira do TCM, mas teve 40. A avaliação é que três deputados da base se comprometeram a apoiar a esposa de Rui Costa, mas não entregaram o voto. Há suspeitas, mas por enquanto o silêncio é palavra de ordem.

Sem acordo

Embora a operação para a eleição de Aline Peixoto tenha sido bem-sucedida, o processo deixou rachas na base governista. Além das suspeitas de traição, o deputado Fabrício Falcão (PCdoB) não escondeu sua insatisfação com o líder do governo, Rosemberg Pinto (PT), que afirmou não haver acordo para a próxima vaga em tribunal de contas. Antes do processo, Fabrício retirou sua candidatura ao TCM para apoiar Aline em troca de apoio na próxima empreitada. A irritação do deputado comunista foi tanta que ele chegou a sair de um grupo de WhatsApp de parlamentares.

Barrado no baile

E o pior é que, em conversas reservadas, Fabrício Falcão não deve ter mesmo a vaga. Isso porque, de acordo com fontes da coluna, caso a cadeira em tribunal de contas vá para o PCdoB, o escolhido deve ser o deputado federal Daniel Almeida, que preside a legenda na Bahia.

Fato sem fake

O líder do governo na Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA), Rosemberg Pinto (PT), deve desculpas públicas por ter atacado o jornalista João Pedro Pitombo que trouxe à tona um vínculo que a ex-primeira-dama Aline Peixoto - e agora conselheira do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM-BA) - omitiu do seu currículo enviado à Assembleia Legislativa da Bahia. Tão logo teve sua indicação aprovada ao TCM na última quarta (8), Aline foi exonerada da função de assessora especial no gabinete da secretária de Saúde do Estado, o que prova a existência do vínculo empregatício com o governo estadual.

Dormiu no ponto

E Rosemberg, que já tem sido bastante criticado na liderança governista, ganhou mais um motivo para ter sua posição questionada. Nesta semana, a comissão de Direitos Humanos da ALBA, presidida pelo deputado Pablo Roberto (PSDB), aprovou um convite do secretário da Segurança Pública, Marcelo Werner, para falar sobre a violência no Estado. A aprovação foi considerada uma cochilada da liderança do governo, que, embora tenha a maioria da comissão, dormiu no ponto e deixou que a oposição aprovasse o convite. Em conversas de WhatsApp, parlamentares governistas já elegeram Rosemberg como culpado.

Crise à vista

Interlocutores do governo de Jerônimo Rodrigues enxergam num horizonte não muito distante o risco de uma grave crise na segurança pública, sobretudo pelo ritmo desenfreado e diário de conflitos entre facções criminosas. Quem alerta sobre o tema leva em conta os registros cada vez mais numerosos de homicídios e ocorrências rotineiras de trocas de tiros, somado ao fato de que o novo governador ainda não colocou na mesa um plano de ação para conter a ousadia dos criminosos.

À procura de um culpado

Diante do tamanho que a situação ganhou, há quem fale em herança maldita deixada por Rui na área da segurança. Consideram que Jerônimo tem pouco tempo na cadeira para ser cobrado pela questão, mas que ao mesmo tempo seu governo representa a continuidade de um ciclo de 16 anos, não havendo brecha para se isentar da questão ou até responsabilizar adversários. Se tiver que reclamar de alguém, Jerônimo terá de endereçar críticas ao seu antecessor Rui Costa - que nos últimos quatro anos colocou a Bahia como o estado brasileiro com maior número de mortes violentas do País.

Oportunismo

O governo do Estado quer vender como benfeitoria uma correção salarial que está para fazer nos subsídios de professores indígenas. A categoria foi esquecida pelo ex-governador Rui Costa na última adequação do piso nacional feita em abril de 2022 e mesmo com reiteradas reclamações não teve o direito concedido. Agora o governador Jerônimo foi aconselhado a dar atenção especial ao assunto, sobretudo pela conexão identitária com a comunidade indígena. Nesse sentido, já enviou projeto à Assembleia Legislativa para reparar o descaso de Rui, aplicando efeito retroativo a março do ano passado. O problema é que, para extrair louros políticos dessa pauta, o novo gestor quer transformar uma correção salarial em promoção.

Foto: Mateus Pereira GOVBA. Também estamos no Instagram (@sitealoalobahia), Twitter (@Aloalo_Bahia) e Google Notícias.

3 Mar 2023

Os números alarmantes da violência, a pressão sobre Rui e a aproximação do PL com o PT

Passivo vermelho I

Para além dos números de guerra mostrados no levantamento do Monitor da Violência sobre a liderança da Bahia no ranking de mortes violentas nos últimos quatro anos, o Estado carrega um passivo assustador que foi criando corpo desde a gestão do ex-governador Jaques Wagner. De 2007 a 2014 a Bahia registrou cerca de 43 mil mortes violentas - número perto da realidade de Rio de Janeiro e São Paulo, que estavam na casa de 47 mil ocorrências - ambos são mais populosos. Na era Rui Costa, a violência disparou e os casos computados entre 2015 e 2022 chegaram a 47 mil, enquanto Rio e São Paulo baixaram seus índices para 32 mil e 38 mil, respectivamente, no mesmo período. No geral da série histórica (2007-2022) 90 mil baianos entraram para as estatísticas como vítimas de mortes violentas. São Paulo ficou com 79 mil e o Rio com 86 mil.

Passivo vermelho II

Os números da violência na Bahia chegam a superar os registros de países com maiores índices de homicídios do mundo. A Jamaica, por exemplo, foi considerada pelo portal Insight Crime o país mais violento do mundo, chegando a registrar quatro homicídios diários. Na Bahia, conforme dados do Monitor da Violência, esse número de assassinatos diários chega a 14. No total, em 2022, foram 5.124 mortes violentas, o que coloca o estado como o mais violento do país, com quase 50% mais homicídios do que o segundo colocado, Pernambuco. Os dados do estado superam ainda os índices de Honduras, Guatemala e El Salvador, que estão entre os países mais violentos das Américas, conforme dados do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC).

Empurroterapia

Enquanto isso, o governador Jerônimo Rodrigues (PT) adota a mesma estratégia de transferir responsabilidade utilizada por seus antecessores, que culpavam questões nacionais e medidas do governo federal passado para justificar os elevados índices de violência da Bahia. Jerônimo, por sua vez, passou a culpar a cobertura da mídia sobre a insegurança no estado. E nesse jogo de "empurra empurra" quem paga o pato são os baianos, seja nas grandes médias ou pequenas cidades, que seguem vivendo em meio à escala da violência.

Acusou o golpe

Líder do governo na Assembleia, o deputado Rosemberg Pinto (PT) admitiu que o governador Jerônimo Rodrigues dormiu no ponto ao extinguir a Bahiatursa na reforma administrativa e ter deixado um vácuo na estrutura da Secretaria de Turismo, o que impossibilitou a celebração de contratos para festas e eventos. O ajuste só foi feito na última terça (28 de fevereiro) quando a Assembleia Legislativa aprovou a criação da Superintendência de Fomento ao Turismo (Sufotur), nova unidade gestora que abrigará atribuições da extinta Bahiatursa. Mas só para não perder o costume da ilegalidade, Jerônimo estampou a Sufotur na publicidade do Carnaval, antes mesmo dela ser oficialmente criada.

Fascista do bem

Por falar em Rosemberg Pinto, ele ganhou o noticiário nacional por atacar o jornalista da Folha de São Paulo, João Pedro Pitombo. Até pouco tempo quem praticava episódios dessa natureza era chamado sonoramente pela esquerda de “fascista”. Ao que parece, o critério foi revisto, sobretudo na Bahia, onde petistas e demais canhotos assentiram silenciosamente para as agressões do líder de governo de Jerônimo Rodrigues. Seria uma versão de “fascista do bem”?

Estopim

Fato é que a agressão de Rosemberg expôs o clima de instabilidade na base governista com relação à indicação da esposa do ex-governador Rui Costa, Aline Peixoto, para o posto de conselheira do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM). Na última semana, uma apuração feita por João Pedro Pitombo mostrou que Aline Peixoto omitiu do currículo enviado à Assembleia Legislativa da Bahia seu vínculo com a Secretaria Estadual da Saúde (Sesab) desde 2008. Sem contar que a liderança de Rosemberg ficou ainda mais questionada e, segundo integrantes do grupo, já há na base uma discussão para tirar o deputado do posto.

Pressão

Embora haja pressão sobre Rui para desistir da empreitada de indicar a esposa ao TCM, aliados do ministro da Casa Civil dizem que o cacique petista segue irredutível. Eles argumentam que uma eventual desistência, nesta altura do campeonato, seria encarada como uma derrota pessoal de Rui, fracasso que o ex-governador não pretende carregar. Dizem, ainda, que seria também uma vitória para o senador Jaques Wagner (PT), que expôs publicamente sua posição contrária à indicação de Aline Peixoto. Como pano de fundo do imbróglio, continuam os governistas, há uma queda de braço entre Rui e Wagner pelo comando do PT no estado.

Sem surpresa

Surpreendeu um total de zero pessoas a informação divulgada nesta semana de que o PL na Bahia iria liberar seus deputados para, caso queiram, votar com o governo de Jerônimo na Assembleia Legislativa (ALBA). Nos bastidores da política baiana, já são claros os indícios de aproximação do ex-ministro João Roma, presidente do partido no estado, com o grupo petista. Até mesmo o deputado Vitor Azevedo, ex-chefe de gabinete de Roma, é considerado "independente" no Legislativo, mas mantém diálogo com o governo. E o parlamentar Raimundinho da JR é vice-líder de Jerônimo na Casa. Ambos, pasmem, integrantes do partido de Jair Bolsonaro.

Clube dos insatisfeitos

Quem não esconde a indignação com a situação é a médica Raissa Soares, que disputou o Senado em 2022 quase sem apoio do partido na Bahia e, ainda assim, obteve mais votos do que João Roma para o governo - ela superou a casa dos 1 milhão de votos, enquanto o ex-ministro chegou a 738 mil. Vice-presidente do partido no estado, Raissa condenou a aproximação do PL com o PT e, pelo que se comenta, vai pedir providências nacionais. O vereador de Salvador Alexandre Aleluia também criticou duramente os rumos do partido. Assim como eles, o restante da ala bolsonarista não anda nada satisfeita com a condução do partido.

Lá e Lô

Além dos deputados, quem também anda conversando com o governo é o prefeito de Porto Seguro, Jânio Natal (PL), um dos principais apoiadores de Jair Bolsonaro na Bahia. Nesta semana, Jânio se reuniu com o líder do governo, deputado Rosemberg Pinto (PT), em encontro articulado pelo parlamentar Raimundinho da JR, que contou com o apoio do prefeito de Porto Seguro em 2022.

2024 é logo ali

A questão agora é saber como ficará o cenário em Porto Seguro em caso de acordo de Jânio com o PT, já que o prefeito é rival mortal do grupo da ex-prefeita Claudia Oliveira (PSD), apoiadora de Jerônimo e eleita deputada estadual. Claudia já vem avisando a seus correligionários na cidade que não vai abrir mão de uma candidatura na cidade em 2024 - dela ou de algum aliado.

Braços cruzados

Na Assembleia Legislativa (ALBA), integrantes da base governista não andam muito satisfeitos com a articulação política de Jerônimo, embora muitos deles digam que o novo governador é muito mais afável com os parlamentares do que Rui Costa. Em conversas reservadas, dois deles andam se queixando que ainda não foram procurados para discutir espaços no governo e reclamam que até mesmo deputados do PP, que nas eleições não apoiaram Jerônimo, já ganharam cargos na gestão estadual. Já avisaram a quem é de direito que vão cruzar os braços.

Foto: Divulgação. Também estamos no Instagram (@sitealoalobahia), Twitter (@Aloalo_Bahia) e Google Notícias.

24 Feb 2023

A trapalhada administrativa de Jerônimo no Carnaval, a insatisfação com o 'maridismo' de Rui e o protagonismo de Bruno

No sufoco

Jerônimo Rodrigues começou o governo com uma trapalhada administrativa que pode custar caro ao setor de turismo e eventos. É que depois de extinguir a Bahiatursa, na transição com o então governador Rui Costa, ele remanejou os cargos daquela superintendência para a estrutura da Secretaria de Turismo, mas não constituiu formalmente uma nova unidade gestora para executar as atribuições devidas. Às vésperas do Carnaval, Jerônimo enviou à Assembleia Legislativa um projeto de lei para criar a Superintendência de Fomento ao Turismo do Estado da Bahia, a Sufotur, que na prática nada mais é do que a recriação da Bahiatursa. Sem o aval da Assembleia, essa nova entidade não tem respaldo legal para assinar contratos para, por exemplo, contratar e pagar artistas.

Orçamento fantasma

Mas foi justamente isso que Jerônimo fez. Ignorou as barreiras legais e assinou 240 ordens de pagamento no valor de R$ 28 milhões para contratar fornecedores e artistas que se apresentaram na folia. Mas para perplexidade geral, a conta milionária ficou foi publicada em nome da extinta Bahiatursa, o que pode ter efeito nulo, já que ela não tem mais validade legal e, por consequência, não dispõe de orçamento. A trapalhada foi ainda mais longe porque, publicamente nos canais oficiais de comunicação, o Governo atribuiu o patrocínio das atrações à Sufotur - entidade fantasma que, por ora, só existe no imaginário de Jerônimo.

Voto secreto I

Integrantes do núcleo duro do governo na Assembleia Legislativa avaliam adiar a votação para o posto de conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM) após os desgastes dos últimos dias. O estopim da preocupação veio após a declaração pública do senador Jaques Wagner (PT) contrário à indicação da ex-primeira-dama Aline Peixoto, esposa do ministro Rui Costa (PT). Parlamentares que acompanham o caso dizem que o adiamento é cogitado pelo fato de as lideranças governistas não terem certeza do volume de votos necessários para emplacar Aline no TCM. "Isso é a mais pura verdade. Se já tivesse os votos já teria sido votado, na base do trator mesmo", avalia um deputado.

Voto secreto II

Quem acompanha os debates, garante que Aline não é unanimidade nem mesmo no PT. Um parlamentar da base confidenciou que pelo menos quatro deputados do PT não devem votar na esposa de Rui, pelo que se observa em conversas reservadas (lembrando que o voto é secreto). Dois deles disseram, em conversas reservadas, concordar com as falas de Wagner e outro é desafeto histórico de Rui.

Cenários

Nos corredores da ALBA, deputados governistas avaliam uma saída para o imbróglio, que além de desgaste nacional, tem causado constrangimento e fissuras na base, que claramente está dividida em relação ao nome da ex-primeira-dama. Já há quem comente sobre a possibilidade de retirar a candidatura Aline e guardar o nome da ex-primeira-dama para uma próxima vaga em tribunal de contas. A questão é que a vaga mais próxima é em maio, já prometida ao deputado Fabrício Falcão (PCdoB).

Repercussão

O assunto virou pauta nacional e já chegou aos ouvidos do presidente Lula (PT), que não tem gostado da repercussão, segundo conta um deputado com acesso ao Palácio do Planalto. A preocupação de Lula é que a empreitada de Rui para colocar a esposa no TCM respingue no governo, gerando desgaste. Contudo, de acordo com o parlamentar, sob anonimato, Lula avisou que o assunto é coisa da Bahia e que não pretende se meter.

Longe dos holofotes

Enquanto isso, o outro candidato, o ex-deputado Tom Araújo, tem evitado dar declarações públicas e mantém diálogo com parlamentares do governo e da oposição. Com um perfil discreto e pacífico, Tom tem se apresentado como nome da Assembleia Legislativa - e assim tem se comportado nos bastidores, conversando com todos. Pesa a favor dele, dizem parlamentares de ambos os lados, o fato de ter boa relação com deputados de todas as correntes, boa capacidade de diálogo e uma carreira ilibada. "Você nunca ouviu Tom levantar a voz para ninguém nem muito menos fazer ofensas pessoais. Sempre foi e é respeitador, e tem uma história política e de vida admirada por todos. Por tudo isso, é um candidato muito perigoso", avalia um deputado, sob anonimato.

Maridismo

Justamente por isso, tem fracassado a tentativa de lideranças petistas de transformar a disputa numa batalha de governo x oposição. Observadores da política baiana dizem que, pela insatisfação e constrangimento da base governista, a batalha é, na verdade, entre a Assembleia Legislativa e o "maridismo" de Rui Costa.

Efeito retardante

O passeio que o governador Rui Costa fez no tramo 3 do metrô em setembro do ano passado, às vésperas das eleições, causou efeito reverso no andamento das obras. Naquela ocasião, o petista anunciou uma espécie de evento teste para encantar eleitores com a ideia de que logo logo a ligação viária estaria em funcionamento. A propaganda, obviamente, não chegou à realidade e ainda retardou em cerca de 30 dias o calendário das obras, já que foi preciso parar tudo e montar o cenário para simular correria. Quem passa pela região só tem uma pergunta: cadê o metrô?

Efeito zero

Falando em promessa, o governador Jerônimo tratou de reaquecer as expectativas em torno da ponte Salvador-Itaparica, com a recente criação do “Comitê Gestor do Sistema Rodoviário Ponte Salvador - Ilha de Itaparica - SRPSI”. A iniciativa, com sigla e tudo, provoca efeito zero no mundo real, tal como foram todas as mobilizações dos governos petistas até então. Vale lembrar que a primeira previsão de inauguração da ponte foi para 2013 - dez anos atrás.

Protagonista

O Carnaval voltou após dois anos e recolocou Salvador nos holofotes do país. Por aqui, voltaram aquelas velhas discussões de qual o melhor circuito, a melhor música da folia, os melhores blocos ou camarotes. Mas uma coisa foi unânime: o prefeito Bruno Reis foi o principal ator político da festa. Bruno participou ativamente da folia e teve sucesso em produtos criados para a festa, a exemplo do After Batekoo, na praça Castro Alves, além de ter conduzido uma política bem sucedida de reposicionamento do circuito do Centro. Com uma operação bem feita pela prefeitura, Bruno surfou na cobertura da mídia, impulsionado pelo episódio com a cantora Anitta, que chamou o prefeito de "delícia". E ainda passou no teste da pipoca. Por diversas vezes, Bruno curtiu a folia no chão, no meio dos foliões, que tiravam fotos e gravaram vídeos com o ele. Entre aliados, já há quem diga que o prefeito vive seu melhor momento.

Briga por holofote

Já o vice-governador Geraldo Júnior (MDB) passou a festa inteira tentando chamar atenção e chegou a se autointitular “governador do Carnaval”, gerando piada até mesmo entre seus aliados. No afã de aparecer, ainda ia em todos os cantos usando fardas das forças de segurança, tentando tirar os holofotes do secretário Marcelo Werner e até de Jerônimo. No final, ainda tentou capitalizar para ele o sucesso da folia no Centro.

Estreia tímida

Enquanto isso, o governador Jerônimo Rodrigues teve uma estreia tímida no Carnaval. Embora tenha participado de diversas atrações, na capital e no interior, não conseguiu atrair para si holofotes. O fato, inclusive, gerou uma crítica de Jerônimo, que, em uma reunião, questionou a integrantes de sua equipe por quê as ações do governo não estavam aparecendo durante a festa. Quem presenciou o momento garante que o constrangimento foi geral.

Perguntar não ofende

Lembram que, após repercussão nacional antes do Carnaval, Jerônimo negou que Rui ainda não desocupou o Palácio de Ondina e disse que já havia se mudado para a residência oficial do governador? Pois Jerônimo poderia, também, explicar o motivo de estar utilizando o Passeio Público, em Salvador, para atender deputados e prefeitos e não em Ondina.

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11 Feb 2023

Os voos da FAB de Rui Costa, o apego do ex-governador e o balcão de negociações para colocar Aline Peixoto no TCM

Os voos de Rui

O ex-governador e atual ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT), tem utilizado avião oficial da Força Aérea Brasileira (FAB) em seus deslocamentos para a Bahia, já que tem feito questão de vir ao estado semanalmente. Mesmo fora do governo desde 1º de janeiro, quando passou o bastão para Jerônimo Rodrigues (PT), Rui continua participando de agendas da administração estadual nos finais de semana ao lado do sucessor e afilhado político. "Rui tem feito questão de estar nestas agendas oficiais para justificar o voo da FAB. E isso parece que não vai acabar tão cedo", revela uma fonte com trânsito no governo estadual.

A sombra do ex

A forte influência de Rui tem causado desconforto no núcleo duro do novo governo, uma vez que Jerônimo tem um perfil mais discreto e retraído, enquanto o ex-governador parece ainda não ter desapegado do cargo e segue mandando e desmandando na gestão. Eles dizem que o governador prefere não se impor sobre Rui e tem atendido aos pedidos e desejos do antecessor, sem questionar - pelo menos por enquanto. 

Apego ao Palácio

O ponto mais simbólico desta situação é que Rui ainda não liberou o Palácio de Ondina para Jerônimo, após 40 dias do novo governador ter assumido. Segundo informações de parlamentares, Rui ainda segue planejando a morada em Brasília e, por isso, ainda não fez a mudança do Palácio, que é a residência oficial dos governadores do estado. Jerônimo, por enquanto, aguarda pacientemente a boa vontade do antecessor para se mudar.

Tudo por amor

Para os novos governistas, o pano de fundo de tamanha influência de Rui no governo é a indicação da esposa dele, Aline Peixoto, para o Tribunal de Contas dos Municípios (TCM), uma vez que o ministro tem, ele próprio, negociado cargos e obras do governo estadual, passando por cima de Jerônimo. Para casos de maior resistência, houve até proposta de que o governo federal poderia dar um “plus” de obras e incentivos em suas bases eleitorais no interior do Estado. O governador, entretanto, pelo que dizem governistas, não se incomoda com a situação e, como se não bastasse, ainda é um dos principais entusiastas do pleito de Aline para o TCM.

Enfermaria de Contas

A falta de conhecimento técnico de Aline para a função que seu marido pretende lhe empurrar virou tema de quase toda roda de conversa entre os políticos baianos. Mas em uma delas, em especial, ouviu-se a seguinte avaliação: “já pensou, você entrar no hospital e ser socorrido por um juiz, um engenheiro…? Do mesmo jeito, assusta pensar que uma enfermeira vai fazer uma análise contábil e jurídica de contas públicas dos municípios”, exclamou um interlocutor político ligado ao grupo governista, mas que resiste à ideia de ver a ex-primeira-dama na Corte.

Voto constrangido

A base governista já dá como certa a indicação de Aline, que, de acordo com influentes parlamentares, já tem mais de 35 votos na Assembleia Legislativa da Bahia, o que garante a ela o cargo vitalício com salário superior a R$ 41 mil. Há, contudo, uma insatisfação da base com a situação, o que foi evidenciado pelo semblante preocupado e o tratamento áspero por parte de deputados aliados ao governo com jornalistas na última quarta-feira. Um influente parlamentar petista chegou a xingar um repórter “idiota” após a publicação de uma matéria num veículo nacional sobre a indicação de Aline para o TCM.

O perseguido

O próprio Rui tem reclamado bastante com pessoas próximas da cobertura negativa que tem sido feita na imprensa nacional sobre a possível indicação da esposa para o TCM. Ele confidenciou a um aliado que tem sido perseguido por alguns veículos, que não deram, na visão dele, o mesmo tratamento negativo a outros três ministros de Lula que também colocaram suas esposas em tribunais de contas de seus respectivos estados.

Silêncio conveniente

Enquanto isso, parte da esquerda baiana, que tanto critica o aparelhamento do estado e as influências familiares para cargos em instituições, simplesmente se cala. Até o momento, não há nenhuma crítica robusta vinda de PT, PCdoB e afins ao movimento de Rui Costa para indicar a esposa para o TCM. Coerência que chama, né?!

Governo dividido

O imbróglio em torno da possível indicação de Aline para o TCM expõe a disputa velada entre Rui e Wagner no governo de Jerônimo, que tem procurado se manter em cima do muro entre os dois padrinhos. A primeira batalha foi pelas indicações do primeiro escalão e, agora, está sendo para o segundo. Wagner, pelo menos por enquanto, tem levado vantagem após indicar o enteado Eduardo Sodré Martins para a Secretaria do Meio Ambiente e o assessor Bruno Monteiro para a pasta da Cultura, além de ter levado a presidência da Embasa. Entre os dois, não é novidade para ninguém que Jerônimo é muito mais próximo de Rui. Contudo, pelo menos por enquanto, Jerônimo tem procurado não se meter na briga.

Nada de novo no front

Na educação, pasta que já foi comandada por Jerônimo, o novo governo começou com uma verdadeira crise no número de matrículas, que atingiu o menor volume dos últimos anos. O número de estudantes matriculados teve um baque de cerca de 50 mil alunos em relação a 2022, saindo de mais de 700 mil para cerca de 655 mil. Entre 2016 e 2021, por exemplo, o volume de estudantes sempre foi em torno dos 800 mil. O ensino médio da Bahia, vale lembrar, está entre os piores do país, de acordo com o Ideb, e o estado lidera o número de analfabetos no Brasil.

Em compasso de espera

Completados 40 dias do novo ano, a Assembleia Legislativa não recebeu um projeto sequer do governador Jerônimo Rodrigues, nem mesmo a adequação para pagamento do piso nacional dos professores que ele já se comprometeu em cumprir. Um dos fatores que explica a vagareza estadual é a dependência de alinhar projetos e ações com o governo federal, a exemplo da pauta de combate à fome que, ao que parece, perdeu urgência e ficou a reboque de arranjos políticos.

Amigo da onça

Integrantes do PL na Bahia já dão como certo o alinhamento do ex-ministro João Roma, presidente do partido no estado e que se diz aliado de Jair Bolsonaro, com o grupo do PT no estado. O sinal mais claro, para eles, são os claros indícios de aproximação do deputado Vitor Azevedo, que foi chefe de gabinete de Roma, com o governo de Jerônimo Rodrigues. Um parlamentar comentou nos corredores da ALBA que já avisou a Roma que está fora da movimentação e que fará oposição ferrenha ao governo petista.

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3 Feb 2023

Os Peixotos do PT, o "maridismo" de Rui e a gastança ilegal do governo no período eleitoral

Os Peixotos

Os deputados estaduais do PT decidiram que era hora de retirar o sobrenome “Lula” que haviam adicionado aos seus nomes parlamentares na Assembleia como forma de protesto e apoio ao então ex-presidente quando ele estava encarcerado. Esta semana, no corredor da Casa, um deputado explicava a servidores e curiosos que a alteração no nome já havia cumprido seu propósito, quando foi interpelado por um deles: “e agora, vai adicionar o Peixoto?”. O parlamentar demorou a entender a provocação, mas tão logo a ficha caiu, ele abriu um constrangedor sorriso amarelo e saiu pela tangente. A origem da provocação tem nome e sobrenome: Aline Peixoto, esposa do ex-governador e atual ministro da Casa Civil, Rui Costa, que muito deseja indicar a companheira para o posto de conselheira do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM).

De joelhos

Rui Costa, inclusive, colocou a bancada baiana da esquerda de joelhos por causa de sua obsessão particular de emplacar a esposa no TCM. A prática nefasta de usar a gestão pública para favorecer familiares e cônjuges sempre foi criticada por seus correligionários, que agora se calam em indisfarçável constrangimento - sobretudo pela péssima repercussão em âmbito nacional. Mesmo assim, o núcleo duro de Rui mantém a ofensiva sobre deputados pelos votos que podem sacramentar a operação “maridismo”.

Contrariado

Quem não anda nada satisfeito com a indicação é o senador Jaques Wagner (PT), que não esconde de ninguém sua contrariedade à causa. Fontes governistas garantem que, mesmo com a repercussão nacional negativa e a insatisfação de aliados, Rui segue intransigente e não pretende abrir mão da vaga para Aline.

Ironia do destino

Se hoje deseja dar à esposa uma cadeira no TCM, Rui já chegou a defender a extinção do tribunal. Disse, em 2017, que haveria uma economia de R$ 200 milhões aos cofres públicos caso a Corte tivesse suas atividades encerradas. Falou ainda que integrantes do TCM tinham "prazer mórbido" de rejeitar contas de prefeituras.

Incremento ilegal

A suspeita de uso ostensivo da máquina estadual nas últimas eleições na Bahia começa a se traduzir em números. A dotação orçamentária do Estado chegou a R$ 79 bilhões, quando o montante aprovado pela Assembleia Legislativa foi de apenas R$ 52 bilhões. A diferença de R$ 27 bilhões representa uma escalada de 50%, o que fere a legislação, porque a Lei Orçamentária Anual (LOA) limita eventual incremento em 30%. Os dados constam no relatório da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) emitido pela Secretaria da Fazenda do Estado (Sefaz).

Custo eleitoral

Nesse bojo, o ex-governador Rui Costa (PT) aumentou em quase R$ 3 bilhões os gastos classificados pela Sefaz como “Outras Despesas Correntes”, o que pode incluir custos com consumo de água, luz, telefone, aluguel, combustível, alimentação, diárias e viagens. Em 2021 foram executados R$ 14,7 bilhões, mas em 2022 - ano eleitoral - a fatura saltou para 17,2 bilhões.   

Birra de Rui nas emendas

Teve dinheiro para tudo, menos para o pagamento das emendas impositivas, conforme determina a lei. É verdade que o valor executado em 2022 (R$ 42 milhões) foi superior ao pago em 2021 (R$ 29 milhões), mas passou longe de atender todos os deputados de maneira igualitária, segundo mostra o Portal Transparência Bahia. Pra variar, os parlamentares de oposição - os que de alguma forma foram atendidos - destinaram valores bem abaixo daquilo que têm direito. Maior que o revés político é o prejuízo dos municípios que ficaram sem os investimentos destinados pelos parlamentares que os representam. O novo líder da oposição na Assembleia, deputado Alan Sanches (UB), vice-líder na Legislatura anterior, atribui o desequilíbrio à “birra política” do ex-governador Rui Costa.   

Manda quem pode, obedece quem tem juízo

Tal como um estudante que ensaia seus primeiros rabiscos seguindo os traços de uma caligrafia, o governador Jerônimo Rodrigues (PT), ao que parece, ainda não escreve suas próprias letras com autonomia, vide as nomeações para a montagem de governo. Ora segue a grafia de Rui Costa, ora é doutrinado pelo senador Jaques Wagner - dois ex-governadores que detêm influência direta em nomeações para áreas estratégicas da gestão - vide a quebra de braço vencida por Wagner com a nomeação de Leonardo Góes para a presidência da Empresa Baiana de Águas e Saneamento (Embasa).

Queda de braço

A escolha de Leonardo Góes para o comando da Embasa representou uma vitória de Wagner sobre Rui na queda de braço para ver quem ficaria com a indicação para a presidência da empresa. Enquanto Wagner defendia Góes, Rui desejava emplacar a servidora Rita de Cássia Sarmento Bonfim. Pelo que se comenta entre fontes governistas, Goés terá agora a missão de levar à frente a privatização da Embasa, que já vem sendo ensaiada pelo governo petista há anos, mas enfrenta barreiras principalmente entre servidores da empresa.

Novo revés

A escolha do governador Jerônimo Rodrigues por Márcia Teles para o comando do Inema foi interpretada na base governista como uma derrota do vice-governador Geraldo Júnior (MDB), que tentava emplacar o vereador Henrique Carballal (PDT), seu aliado de primeira hora, no comando do órgão estadual. Geraldo chegou a desejar indicar o aliado para a Bahiatursa, que acabou sendo extinta, e passou a tentar o Inema, mas a investida naufragou e Carballal, por enquanto, segue fora do governo.

Amigos, amigos, negócios à parte

Geraldo e Carballal, inclusive, foram vistos numa conversa nada amistosa na Câmara Municipal de Salvador nesta quinta-feira (2), durante a abertura dos trabalhos do Legislativo. Enquanto as atenções estavam voltadas para as entrevistas coletivas do prefeito Bruno Reis e do presidente da Câmara, Carlos Muniz, os dois aliados, com cara de poucos amigos, discutiam no plenário da Casa. O assunto não se sabe, mas quem viu o diálogo garante que, pelo semblante e humor de ambos, não era nada bom.

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27 Jan 2023

O menino de ouro da ALBA, Rui volta a querer esposa no TCM e os contratos prorrogados de Jerônimo

Menino de "ouro"

Deputados estaduais andam impressionados com o forte esquema de segurança sobre um parlamentar eleito para seu primeiro mandato. Segundo relatos colhidos pela coluna, alguns dos profissionais que acompanham o jovem deputado andam fortemente armados, inclusive dentro da Assembleia Legislativa. O esquema de segurança é pesado: um dos profissionais entra na frente, faz uma espécie de vistoria, enquanto outro grupo fica aguardando o sinal do batedor para levar o protegido. Quem viu a cena não perdeu a oportunidade: “será que é medo do povo?”.

Rui Rei

O nome da ex-primeira-dama da Bahia Aline Peixoto voltou a ganhar força nas bolsas de apostas para ocupar a vaga de conselheira do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM), cobiçada por deputados estaduais e federais. O assunto voltou à pauta nesta semana e tem causado desconforto entre partidos da base governista, que veem com desconfiança o desejo do ministro Rui Costa (PT) impor o nome da esposa, deixando de lado aliados políticos que há anos estão de olho na vaga. Só para lembrar: a Assembleia Legislativa elege o representante e o voto é secreto.

Cofre vazio

Com dificuldades para cumprir com os compromissos feitos durante a campanha do ano passado, o governador Jerônimo Rodrigues (PT) tem prorrogado diversos contratos milionários firmados com prefeituras do interior entre o final de 2021 e ao longo de 2022. Os convênios envolvem a Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado (Conder), Superintendência dos Desportos do Estado (Sudesb) e a Secretaria da Educação, conforme publicações somente nesta semana no diário oficial. Em alguns casos, os convênios tiveram o valor reduzido ou o cronograma de pagamento alterado. Chama a atenção a prorrogação de dois contratos da Secretaria da Educação, de R$ 39 milhões e R$ 28 milhões. Eles deveriam ser concluídos no início deste ano, mas foram adiados para o segundo semestre.

Socorro federal

Integrantes do governo dizem que, embora não admita publicamente, Jerônimo tem tido dificuldade para pagar tudo que foi prometido e, por isso, tem adiado os compromissos na esperança de receber uma ajuda federal. Ao longo da campanha, vale ressaltar, Jerônimo já havia admitido que, para governar, iria depender do governo federal. Pelo menos essa promessa ele parece cumprir (contém ironia).

Recados

O governador Jerônimo Rodrigues tem deixado claro que pretende adotar uma postura diferente do seu antecessor e padrinho político, Rui Costa, no diálogo com entidades. Contudo, mantém o mesmo discurso revanchista e rancoroso de Rui. Nesta semana, ele participou de reunião do Colegiado Estadual de Gestores Municipais de Assistência Social da Bahia e até começou bem, ressaltando que, pela primeira vez, um governador participava de reunião da entidade, mas depois aproveitou a presença de dezenas de secretários da assistência social para mandar recados. Disse que os palanques foram desarmados, mas que não iria esquecer quem estava neles e ainda afirmou que não vai "esquecer quem estava comigo".

Efeito colateral

Uma manobra articulada na transição de governo entre Rui Costa e Jerônimo Rodrigues vai elevar ainda mais o custo na aquisição de remédios em farmácias baianas. É que, além do reajuste nacional que sempre acontece no mês de abril, o governo estadual já elevou o percentual de ICMS cobrado sobre a linha farmacêutica de 17% para 19%. O aumento do imposto também recairá sobre bens e serviços, como no preço da cerveja, da gasolina e do consumo de energia elétrica. Na contramão do dispositivo aprovado pelo Congresso Nacional para conter os preços dos produtos, a gestão petista na Bahia agiu na calada da noite e não poupou nem quem sacrifica boa parte do seu dinheiro com remédios.

Piada pronta

Soou como uma piada a notícia de que o governador Jerônimo Rodrigues pretende gastar quase 1 milhão de reais para afundar duas embarcações na Baía de Todos-os-Santos. Isso porque um dos navios a ser “sepultado” é o antigo ferry-boat Juracy Magalhães, que está fora de operação. O detalhe é que o empenho da Secretaria de Turismo para agilizar a negociação - com prazo célere até o início de fevereiro - contrasta com a lentidão com que o mesmo governo trata os problemas crônicos de baixa qualidade e insegurança do serviço de travessia Salvador-Bom Despacho, o que inclui longas filas de espera para embarque e navios à deriva em alto mar com defeitos mecânicos. “Eles já afundaram o serviço, agora tão afundando os barcos, literalmente. Parece até uma piada”, protestou uma pessoa nas redes sociais.

Mudou de ideia?

Deputados e entidades ligadas ao setor agropecuário reagiram com ceticismo à possibilidade de recriação da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA), admitida nesta semana pelo secretário do Desenvolvimento Rural, Osni Cardoso (PT). O fim da empresa, há oito anos, foi duramente criticado nos últimos anos, sem nenhuma sinalização do governo de voltar atrás. Contudo, bastou o tema ser levantado na campanha e as críticas se intensificarem, para a volta do órgão ser considerada. O curioso é que essa era uma promessa do adversário de Jerônimo, ACM Neto (União Brasil).

Barato que sai caro

Um prefeito baiano está sendo investigado pelo Ministério Público estadual por ter utilizado recursos do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) para pagar uma multa determinada pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE). Pela determinação, o gestor deveria pagar o débito com recursos próprios, mas tentou o famoso "jeitinho" e agora pode ser enquadrado pela Lei de Improbidade Administrativa.

Foto: Divulgação.

20 Jan 2023

Jerônimo encaminha privatização da Embasa e o rombo da ponte Salvador-Itaparica

Embasa a caminho da privatização

O governador Jerônimo Rodrigues (PT) colocou em campo uma operação audaciosa que abre R$ 319 milhões do capital da Empresa Baiana de Águas e Saneamento (Embasa) para venda no mercado financeiro. O movimento é visto como um ensaio para a privatização da estatal. A proposta publicada no Diário Oficial do Estado no último dia 12 abriu licitação para contratar uma instituição financeira que fará a estruturação e emissão de debêntures (títulos da Embasa). Em tempo ágil, o Governo já espera receber manifestações de interesse das empresas concorrentes até o próximo domingo (22).

As digitais de Rui

A modelagem foi concebida e sancionada pelo ex-governador e ministro da Casa Civil, Rui Costa, atropelando os apelos feitos por movimentos sociais e até por parlamentares do próprio PT na época em que foi aprovada a toque de caixa na Assembleia Legislativa. A grande contradição é que em 2013, no governo de Jaques Wagner, setores da esquerda na Bahia comemoram a revogação de uma lei de 1999 que tinha justamente a perspectiva de abrir o capital da Embasa.

Combinar com os Russos

A abertura de capital da Embasa pode significar quase nada. A empresa estatal não tem, por exemplo, contrato assinado com a prefeitura de Salvador. Dificilmente um investidor vai entrar em um negócio com tamanha insegurança jurídica.  Resta saber se o governador Jerônimo vai avançar sem combinar com o prefeito da capital.

No centro do alvo

A Embasa é considerada por integrantes da base governista como o principal entrave para as definições em torno do segundo escalão da administração de Jerônimo Rodrigues (PT). O comando da empresa é disputado pelo ministro Rui Costa e pelo senador Jaques Wagner, que defendem as indicações de Cássia Sarmento Bonfim e Leonardo Goés, respectivamente. As conversas continuam sem sinal de consenso. Parlamentares da base dizem que Jerônimo tem procurado não se meter na disputa e aguarda um acordo entre os dois caciques petistas para nomear o novo presidente da Embasa.

Herança vermelha

O governador Jerônimo Rodrigues tem enfrentado dificuldades para cumprir os compromissos assumidos por seu grupo político durante a campanha do ano passado. Com uma disputa acirrada, o então governador Rui Costa saiu prometendo obras e assinando convênios a torto e a direito, sem se preocupar com a consequência disso para os cofres do estado. Mas a conta chegou e as lideranças, principalmente do interior do estado, já começaram a bater na governadoria para cobrar as promessas.

Operação Jabuti

Uma manobra do governo Rui Costa, no apagar das luzes de 2022, remanejou cifras milionárias para cobrir o déficit na parte que cabe ao Estado no custeio das obras da ponte Salvador-Itaparica. A operação passou pelas mãos do líder do governo da Assembleia Legislativa, deputado Rosemberg Pinto (PT), que encaixou uma emenda jabuti durante o parecer que deu em plenário sobre uma matéria que tratava de outro empréstimo. Ao estilo rolo compressor, o texto foi lido apressadamente sem detalhar que se tratava de 300 milhões de dólares - que convertidos em reais passam de R$ 1,5 bilhão. Depois de colocar uma lupa sobre o caso, percebeu-se que o valor era referente a um empréstimo autorizado em 2016, mas que tinha outra destinação. A manobra para viabilizar recursos alternativos escancarou a ausência de planejamento orçamentário do projeto.

Aniversário fantasma

Se tivesse nascido no ano em que foi anunciada, a ponte Salvador-Itaparica teria hoje dez anos de vida. A promessa feita pelo ex-governador Jaques Wagner de que a obra ficaria pronta em 2013, e que chegou a estampar a capa de jornais, virou uma das piadas mais horrendas para o povo baiano. Nas redes sociais, em tom de ironia, muita gente chegou a propor uma espécie de aniversário fantasma para “comemorar” a ponte igualmente fantasma.

Rainha da Inglaterra

O secretário de Turismo da Bahia, Maurício Bacelar, passou a ser chamado nos bastidores de Rainha da Inglaterra depois da decisão do governador Jerônimo Rodrigues (PT) de empoderar a atuação de Diogo Medrado, ex-Bahiatursa, dentro da Setur. Em decreto publicado no último dia 14, o governador delega a Medrado a competência de celebrar convênios, acordos, contratos, ajustes e protocolos, aditivos e afins no âmbito da respectiva Secretaria. Segundo interlocutores, a autonomia esvazia os poderes de Bacelar em deixar sua digital nas operações, sobretudo, de festas e eventos.

Gastança vermelha

Por falar em festas e eventos, a Bahiatursa, no seu último ano de vida em 2022, gastou R$ 206 milhões financiando festejos pelo interior do estado. Mas, pasmem: seu orçamento era de apenas R$ 38 milhões. A maior parte da gastança excepcional se concentrou no segundo semestre durante a campanha eleitoral, com atividades em cidades estratégicas para para abocanhar apoios de lideranças regionais.

Entre a cruz e a espada

O governador Jerônimo Rodrigues enfrenta um verdadeiro dilema em relação à promessa de instalar câmeras em farda de policiais militares. Enquanto os chamados petistas-raiz pressionam para que o governador leve a ideia à frente, aliados mais próximos têm alertado Jerônimo para os riscos da medida, principalmente para um crescimento da insatisfação da tropa da PM, que já não anda satisfeita com a condução da segurança pública pelos governos petistas.

Reação

O secretário da Segurança Pública, Marcelo Werner, inclusive, já teria sido alertado por lideranças do alto escalão da Polícia Militar de que a medida não é adequada. O principal ponto levado por eles a Werner é que a instalação das câmeras passa a ideia de que é a grande proposta do governo para reduzir os alarmantes índices de violência no estado. Com isso, argumentam eles, o governo passa a impressão de que é a PM é a responsável pelos altos números de homicídios. Werner, contudo, tem dito que pretende levar à frente a promessa de Jerônimo.

Direito de resposta:
Com relação à nota “Embasa a caminho da privatização”, publicada na coluna Alô Alô Política desta sexta-feira (20), a Embasa esclarece que o edital publicado no Diário Oficial do Estado, no dia 12 de janeiro, trata da emissão de debêntures incentivadas, conforme a Lei Federal 12.431/2011, ou seja, da emissão de títulos de crédito voltados para o financiamento de infraestrutura no país com taxas e prazos de amortização facilitados. Não se trata de venda de ações da Embasa (abertura de capital), como informado na nota, e nem privatização.


Foto: Divulgação.

13 Jan 2023

O teste de fogo de Jerônimo, a popularidade de Neto e Bruno no Bonfim e o caos da segurança na Bahia

Teste de fogo

O governador Jerônimo Rodrigues (PT) enfrenta seu primeiro teste de fogo na articulação política nestes primeiros dias de gestão. Se as definições para o secretariado deixaram alguns aliados insatisfeitos, as negociações para o segundo escalão estão provocando a ira de muitos integrantes da base, entre líderes partidários e parlamentares. Entre os chateados estão PV e PSB que, segundo analisam integrantes das duas legendas, foram pouco contemplados no primeiro escalão e esperam mais espaços no segundo. Socialistas se queixam que o Avante, por exemplo, ficou com uma secretaria muito mais robusta (Agricultura) do que a destinada ao PSB (Desenvolvimento Econômico). Parlamentares dizem que a equação é difícil de ser resolvida, pois muitos espaços foram prometidos e dificilmente poderão ser cumpridos. Em outras palavras: muita gente para pouco cargo.

Um a um

Lideranças ouvidas pela coluna pontuaram que Jerônimo preferiu adotar uma postura muito perigosa de negociação política para os espaços no governo. O governador petista tem conversado individualmente com deputados, o que, na avaliação de lideranças, enfraquece o poder dos partidos. Jerônimo, por enquanto, tem procurado assumir ele mesmo as conversas.

A volta dos que não foram

Envolvida no escândalo do financiamento de festas de São João na Bahia pela Petrobras, Cesira Maccarinelli Ferreira foi nomeada pelo governador Jerônimo Rodrigues para um cargo de assessora especial em seu próprio gabinete. Ela foi uma das organizadoras dos festejos pela Associação de Apoio e Assessoria a Organizações Sociais do Nordeste (Aanor), cuja contratação ocorria sem licitação e beneficiava aliados. Na época, em 2009, o caso envolvia montantes em torno de R$ 3 milhões e ganhou repercussão nacional. Cesira já havia atuado nos governos de Jaques Wagner e Rui Costa e trabalhou também com Jerônimo quando ele foi secretário da Educação.

Ano novo, velhos problemas

Enquanto a propaganda do governo destaca a construção de novas escolas (ocorrida apenas na véspera das eleições), a realidade da educação da Bahia continua deplorável. Em Juazeiro, quinta maior cidade do estado, por exemplo, o Ministério Público estadual (MP-BA) instaurou um inquérito para apurar a falta de professores na rede de ensino controlada pelo governo. Pelos relatos à 11ª Promotoria do município, faltam docentes das disciplinas de Matemática, Biologia, Física, História, Geografia, Química e Educação Física no ensino médio. A dúvida agora é: Jerônimo não resolveu como secretário, vai resolver como governador? O povo quer saber.

Crise das águas

O MP-BA intensificou o cerco contra a Embasa, cujos serviços são muito criticados - tanto na capital quanto no interior. A 5ª Promotoria de Candeias decidiu prorrogar um inquérito para investigar a suspeita de poluição ao meio ambiente devido ao lançamento de resíduos de sulfato de alumínio oriundos de tanques da Estação de Tratamento de Água (ETA) da cidade. A substância, embora tenha índices de toxidade baixos, provoca danos à saúde das pessoas.

Popularidade alta

Se a Lavagem do Bonfim é considerada um termômetro político, então o prefeito de Salvador, Bruno Reis, e o ex-prefeito ACM Neto, ambos do União Brasil, registraram índices elevados de popularidade durante a festa. Eles foram acompanhados por uma multidão, entre aliados políticos, apoiadores e pessoas que seguiram o cortejo até a Basílica do Senhor do Bonfim. Foi tanta gente que, no início do trajeto, na saída da Conceição da Praia, tiveram dificuldade para caminhar e acabaram fazendo o trajeto em tempo maior do que o normal. E olhem que ACM Neto nem anunciou que iria ao evento.

Sintonizados

Errou quem disse que Bruno tinha medo de ser ofuscado e preferia que ACM Neto não fosse ao Bonfim. Ao contrário, o prefeito foi principal entusiasta da ida de Neto, que por sinal não esconde de ninguém que hoje o principal projeto dele é reeleição do aliado.

Mudança de postura

Pelo lado governista, é preciso reconhecer: Jerônimo Rodrigues se esforçou bastante para passar uma imagem de simpático, diferente do seu antecessor, Rui Costa, que em algumas ocasiões nem fazia o trajeto inteiro. Jornalistas que cobrem a festa lembraram que Rui tinha o costume de "apertar o passo" e evitava parar demais ao longo do caminho, o que mudou com Jerônimo.

Autoestima

Já o vice-governador Geraldo Júnior (MDB) decidiu alçar voo solo e fez boa parte do percurso sozinho, literalmente. Petistas criticaram a postura do vice-governador e acreditam que foi uma tentativa (frustrada) de tirar os holofotes de Jerônimo. Uma figura política, ao perceber a cena, não perdeu a oportunidade: “Na próxima vida eu quero nascer com essa autoestima de Geraldo”, brincou.

Prioridades invertidas

A ligeireza de Jerônimo em enviar tropas da polícia baiana a Brasília escancarou o contraste com a falta de resposta do governo à escala da violência que se viu no interior do estado um dia antes da quebradeira na capital federal. Em Feira de Santana, por exemplo, seis pessoas foram assassinadas entre a noite de sexta-feira (6) e a madrugada de sábado (7) num intervalo assustador de apenas quatro horas. Também em Feira, naquela mesma madrugada, três internos do Conjunto Penal foram mortos, dois deles decapitados, depois de um racha numa facção criminosa. Nesse período, não se ouviu nenhuma manifestação do novo governador, cuja pauta se concentrou em questões fora de sua alçada no plano nacional. A Bahia ficou em segundo plano.

Cifras apertadas

De perfil técnico e com competência elogiada pelo segmento, o novo secretário de Segurança Pública da Bahia tem o desafio de virar a chave da política de enfrentamento à criminalidade, a começar pelo orçamento dedicado ao investimento na pasta. Ao longo dos últimos 16 anos os governos Rui e Wagner anunciaram aplicação de valores em segurança pública que pareciam ser expressivos quando estampados nas placas de publicidade, mas que na realidade eram bem pequenos diante do que realmente poderia ser feito. Só para se ter uma ideia, o valor destinado a investimento em segurança pública de 2007 a 2021 não chegou nem a 5% do total de recursos que o estado teve em mãos para aplicar. Do universo de R$ 32 milhões de despesas em investimentos, só R$ 1,3 milhão foi para a Segurança, o que representa 4,07% em 15 anos.

Consequências trágicas

Os resultados dessa condução desastrosa atingem diretamente a rotina dos baianos com uma onda de insegurança e violência, que praticamente consolidou o Estado como o mais violento do Brasil. Em 2022, segundo o Monitor da Violência - levantamento feito pelo G1 com o Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (NEV-USP) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública -, a Bahia liderou o ranking dos estados em todas amostras trimestrais que levava em conta homicídios dolosos, latrocínios e lesões corporais seguidas de morte. A Bahia também viu disparar no ano passado a quantidade de roubos (71.389 ocorrências), que foram 44% em maior número do que os registrados em 2021 (49.601), de acordo com a Polícia Civil.

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