A trapalhada administrativa de Jerônimo no Carnaval, a insatisfação com o 'maridismo' de Rui e o protagonismo de Bruno

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No sufoco

Jerônimo Rodrigues começou o governo com uma trapalhada administrativa que pode custar caro ao setor de turismo e eventos. É que depois de extinguir a Bahiatursa, na transição com o então governador Rui Costa, ele remanejou os cargos daquela superintendência para a estrutura da Secretaria de Turismo, mas não constituiu formalmente uma nova unidade gestora para executar as atribuições devidas. Às vésperas do Carnaval, Jerônimo enviou à Assembleia Legislativa um projeto de lei para criar a Superintendência de Fomento ao Turismo do Estado da Bahia, a Sufotur, que na prática nada mais é do que a recriação da Bahiatursa. Sem o aval da Assembleia, essa nova entidade não tem respaldo legal para assinar contratos para, por exemplo, contratar e pagar artistas.

Orçamento fantasma

Mas foi justamente isso que Jerônimo fez. Ignorou as barreiras legais e assinou 240 ordens de pagamento no valor de R$ 28 milhões para contratar fornecedores e artistas que se apresentaram na folia. Mas para perplexidade geral, a conta milionária ficou foi publicada em nome da extinta Bahiatursa, o que pode ter efeito nulo, já que ela não tem mais validade legal e, por consequência, não dispõe de orçamento. A trapalhada foi ainda mais longe porque, publicamente nos canais oficiais de comunicação, o Governo atribuiu o patrocínio das atrações à Sufotur - entidade fantasma que, por ora, só existe no imaginário de Jerônimo.

Voto secreto I

Integrantes do núcleo duro do governo na Assembleia Legislativa avaliam adiar a votação para o posto de conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM) após os desgastes dos últimos dias. O estopim da preocupação veio após a declaração pública do senador Jaques Wagner (PT) contrário à indicação da ex-primeira-dama Aline Peixoto, esposa do ministro Rui Costa (PT). Parlamentares que acompanham o caso dizem que o adiamento é cogitado pelo fato de as lideranças governistas não terem certeza do volume de votos necessários para emplacar Aline no TCM. "Isso é a mais pura verdade. Se já tivesse os votos já teria sido votado, na base do trator mesmo", avalia um deputado.

Voto secreto II

Quem acompanha os debates, garante que Aline não é unanimidade nem mesmo no PT. Um parlamentar da base confidenciou que pelo menos quatro deputados do PT não devem votar na esposa de Rui, pelo que se observa em conversas reservadas (lembrando que o voto é secreto). Dois deles disseram, em conversas reservadas, concordar com as falas de Wagner e outro é desafeto histórico de Rui.

Cenários

Nos corredores da ALBA, deputados governistas avaliam uma saída para o imbróglio, que além de desgaste nacional, tem causado constrangimento e fissuras na base, que claramente está dividida em relação ao nome da ex-primeira-dama. Já há quem comente sobre a possibilidade de retirar a candidatura Aline e guardar o nome da ex-primeira-dama para uma próxima vaga em tribunal de contas. A questão é que a vaga mais próxima é em maio, já prometida ao deputado Fabrício Falcão (PCdoB).

Repercussão

O assunto virou pauta nacional e já chegou aos ouvidos do presidente Lula (PT), que não tem gostado da repercussão, segundo conta um deputado com acesso ao Palácio do Planalto. A preocupação de Lula é que a empreitada de Rui para colocar a esposa no TCM respingue no governo, gerando desgaste. Contudo, de acordo com o parlamentar, sob anonimato, Lula avisou que o assunto é coisa da Bahia e que não pretende se meter.

Longe dos holofotes

Enquanto isso, o outro candidato, o ex-deputado Tom Araújo, tem evitado dar declarações públicas e mantém diálogo com parlamentares do governo e da oposição. Com um perfil discreto e pacífico, Tom tem se apresentado como nome da Assembleia Legislativa - e assim tem se comportado nos bastidores, conversando com todos. Pesa a favor dele, dizem parlamentares de ambos os lados, o fato de ter boa relação com deputados de todas as correntes, boa capacidade de diálogo e uma carreira ilibada. "Você nunca ouviu Tom levantar a voz para ninguém nem muito menos fazer ofensas pessoais. Sempre foi e é respeitador, e tem uma história política e de vida admirada por todos. Por tudo isso, é um candidato muito perigoso", avalia um deputado, sob anonimato.

Maridismo

Justamente por isso, tem fracassado a tentativa de lideranças petistas de transformar a disputa numa batalha de governo x oposição. Observadores da política baiana dizem que, pela insatisfação e constrangimento da base governista, a batalha é, na verdade, entre a Assembleia Legislativa e o "maridismo" de Rui Costa.

Efeito retardante

O passeio que o governador Rui Costa fez no tramo 3 do metrô em setembro do ano passado, às vésperas das eleições, causou efeito reverso no andamento das obras. Naquela ocasião, o petista anunciou uma espécie de evento teste para encantar eleitores com a ideia de que logo logo a ligação viária estaria em funcionamento. A propaganda, obviamente, não chegou à realidade e ainda retardou em cerca de 30 dias o calendário das obras, já que foi preciso parar tudo e montar o cenário para simular correria. Quem passa pela região só tem uma pergunta: cadê o metrô?

Efeito zero

Falando em promessa, o governador Jerônimo tratou de reaquecer as expectativas em torno da ponte Salvador-Itaparica, com a recente criação do “Comitê Gestor do Sistema Rodoviário Ponte Salvador - Ilha de Itaparica - SRPSI”. A iniciativa, com sigla e tudo, provoca efeito zero no mundo real, tal como foram todas as mobilizações dos governos petistas até então. Vale lembrar que a primeira previsão de inauguração da ponte foi para 2013 - dez anos atrás.

Protagonista

O Carnaval voltou após dois anos e recolocou Salvador nos holofotes do país. Por aqui, voltaram aquelas velhas discussões de qual o melhor circuito, a melhor música da folia, os melhores blocos ou camarotes. Mas uma coisa foi unânime: o prefeito Bruno Reis foi o principal ator político da festa. Bruno participou ativamente da folia e teve sucesso em produtos criados para a festa, a exemplo do After Batekoo, na praça Castro Alves, além de ter conduzido uma política bem sucedida de reposicionamento do circuito do Centro. Com uma operação bem feita pela prefeitura, Bruno surfou na cobertura da mídia, impulsionado pelo episódio com a cantora Anitta, que chamou o prefeito de "delícia". E ainda passou no teste da pipoca. Por diversas vezes, Bruno curtiu a folia no chão, no meio dos foliões, que tiravam fotos e gravaram vídeos com o ele. Entre aliados, já há quem diga que o prefeito vive seu melhor momento.

Briga por holofote

Já o vice-governador Geraldo Júnior (MDB) passou a festa inteira tentando chamar atenção e chegou a se autointitular “governador do Carnaval”, gerando piada até mesmo entre seus aliados. No afã de aparecer, ainda ia em todos os cantos usando fardas das forças de segurança, tentando tirar os holofotes do secretário Marcelo Werner e até de Jerônimo. No final, ainda tentou capitalizar para ele o sucesso da folia no Centro.

Estreia tímida

Enquanto isso, o governador Jerônimo Rodrigues teve uma estreia tímida no Carnaval. Embora tenha participado de diversas atrações, na capital e no interior, não conseguiu atrair para si holofotes. O fato, inclusive, gerou uma crítica de Jerônimo, que, em uma reunião, questionou a integrantes de sua equipe por quê as ações do governo não estavam aparecendo durante a festa. Quem presenciou o momento garante que o constrangimento foi geral.

Perguntar não ofende

Lembram que, após repercussão nacional antes do Carnaval, Jerônimo negou que Rui ainda não desocupou o Palácio de Ondina e disse que já havia se mudado para a residência oficial do governador? Pois Jerônimo poderia, também, explicar o motivo de estar utilizando o Passeio Público, em Salvador, para atender deputados e prefeitos e não em Ondina.

Foto: Divulgação. Também estamos no Instagram (@sitealoalobahia), Twitter (@Aloalo_Bahia) e Google Notícias.

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