10 Mar 2023
Rui no cangote de Jerônimo, a operação do governo para a aprovação de Aline Peixoto no TCM e a fritura de Rosemberg
O governador Jerônimo Rodrigues respirou aliviado e espera ter autonomia de agora em diante depois de ter finalmente realizado o desejo do seu antecessor Rui Costa de colocar a ex-primeira-dama Aline Peixoto no Tribunal de Contas dos Municípios (TCM). A operação para que 40 deputados estaduais votassem na esposa de Rui foi afiançada, entre outras coisas, graças ao toma lá dá cá mediado por Jerônimo, com o pagamento generoso de emendas, oferta de cargos na máquina estadual e até em empresas terceirizadas que prestam serviço ao governo baiano. Agora que a fatura foi liquidada, o staff governista projeta um reequilíbrio na relação Rui-Jerônimo, sem que o ministro interfira tanto no dia a dia das decisões administrativas.
Rui no cangote II
Segundo interlocutores, o próprio Jerônimo já teria se queixado da falta de independência para tomar decisões em questões relativamente simples, mas que ainda estão sujeitas ao aval do agora ministro da Casa Civil. Exemplo disso é a lista para nomeação de assessores de funções técnicas que ainda repousa na mesa de Jerônimo aguardando sinal verde do ex. Sem liberdade almejada, o novo governador vê seus primeiros dias de mandato escorrer pelos dedos, com agendas que ainda não têm sua digital.
Nas entocas
Diversas nomeações no Diário Oficial do Estado deram o ritmo para a votação da bancada do PP na indicação de Aline Peixoto ao TCM. Pessoas ligadas aos pepistas foram agraciadas com cargos nos últimos dias, conforme movimentações publicadas no diário oficial, para garantir o apoio em bloco da legenda à ex-primeira-dama.
Caça às bruxas
Caciques da base governista estão desconfiados da votação obtida por Aline Peixoto e começaram uma caça às bruxas velada. Isso porque o Palácio de Ondina esperava ter 43 votos favoráveis à agora conselheira do TCM, mas teve 40. A avaliação é que três deputados da base se comprometeram a apoiar a esposa de Rui Costa, mas não entregaram o voto. Há suspeitas, mas por enquanto o silêncio é palavra de ordem.
Sem acordo
Embora a operação para a eleição de Aline Peixoto tenha sido bem-sucedida, o processo deixou rachas na base governista. Além das suspeitas de traição, o deputado Fabrício Falcão (PCdoB) não escondeu sua insatisfação com o líder do governo, Rosemberg Pinto (PT), que afirmou não haver acordo para a próxima vaga em tribunal de contas. Antes do processo, Fabrício retirou sua candidatura ao TCM para apoiar Aline em troca de apoio na próxima empreitada. A irritação do deputado comunista foi tanta que ele chegou a sair de um grupo de WhatsApp de parlamentares.
Barrado no baile
E o pior é que, em conversas reservadas, Fabrício Falcão não deve ter mesmo a vaga. Isso porque, de acordo com fontes da coluna, caso a cadeira em tribunal de contas vá para o PCdoB, o escolhido deve ser o deputado federal Daniel Almeida, que preside a legenda na Bahia.
Fato sem fake
O líder do governo na Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA), Rosemberg Pinto (PT), deve desculpas públicas por ter atacado o jornalista João Pedro Pitombo que trouxe à tona um vínculo que a ex-primeira-dama Aline Peixoto - e agora conselheira do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM-BA) - omitiu do seu currículo enviado à Assembleia Legislativa da Bahia. Tão logo teve sua indicação aprovada ao TCM na última quarta (8), Aline foi exonerada da função de assessora especial no gabinete da secretária de Saúde do Estado, o que prova a existência do vínculo empregatício com o governo estadual.
Dormiu no ponto
E Rosemberg, que já tem sido bastante criticado na liderança governista, ganhou mais um motivo para ter sua posição questionada. Nesta semana, a comissão de Direitos Humanos da ALBA, presidida pelo deputado Pablo Roberto (PSDB), aprovou um convite do secretário da Segurança Pública, Marcelo Werner, para falar sobre a violência no Estado. A aprovação foi considerada uma cochilada da liderança do governo, que, embora tenha a maioria da comissão, dormiu no ponto e deixou que a oposição aprovasse o convite. Em conversas de WhatsApp, parlamentares governistas já elegeram Rosemberg como culpado.
Crise à vista
Interlocutores do governo de Jerônimo Rodrigues enxergam num horizonte não muito distante o risco de uma grave crise na segurança pública, sobretudo pelo ritmo desenfreado e diário de conflitos entre facções criminosas. Quem alerta sobre o tema leva em conta os registros cada vez mais numerosos de homicídios e ocorrências rotineiras de trocas de tiros, somado ao fato de que o novo governador ainda não colocou na mesa um plano de ação para conter a ousadia dos criminosos.
À procura de um culpado
Diante do tamanho que a situação ganhou, há quem fale em herança maldita deixada por Rui na área da segurança. Consideram que Jerônimo tem pouco tempo na cadeira para ser cobrado pela questão, mas que ao mesmo tempo seu governo representa a continuidade de um ciclo de 16 anos, não havendo brecha para se isentar da questão ou até responsabilizar adversários. Se tiver que reclamar de alguém, Jerônimo terá de endereçar críticas ao seu antecessor Rui Costa - que nos últimos quatro anos colocou a Bahia como o estado brasileiro com maior número de mortes violentas do País.
Oportunismo
O governo do Estado quer vender como benfeitoria uma correção salarial que está para fazer nos subsídios de professores indígenas. A categoria foi esquecida pelo ex-governador Rui Costa na última adequação do piso nacional feita em abril de 2022 e mesmo com reiteradas reclamações não teve o direito concedido. Agora o governador Jerônimo foi aconselhado a dar atenção especial ao assunto, sobretudo pela conexão identitária com a comunidade indígena. Nesse sentido, já enviou projeto à Assembleia Legislativa para reparar o descaso de Rui, aplicando efeito retroativo a março do ano passado. O problema é que, para extrair louros políticos dessa pauta, o novo gestor quer transformar uma correção salarial em promoção.
Foto: Mateus Pereira GOVBA. Também estamos no Instagram (@sitealoalobahia), Twitter (@Aloalo_Bahia) e Google Notícias.