Loja em shopping de Salvador reúne 100 empreendedores negros para impulsionar marcas

Loja em shopping de Salvador reúne 100 empreendedores negros para impulsionar marcas

Redação Alô Alô Bahia

redacao@aloalobahia.com

com informações do CORREIO

Marina Silva/CORREIO

Publicado em 18/05/2025 às 15:28 / Leia em 5 minutos

O cliente chega à loja e o papel dos vendedores não é somente ajudá-lo a encontrar o produto que deseja ou verificar o que há no estoque. Todos eles têm na ponta da língua a história de cada item em exposição. O consumidor sabe quem fez o que comprou e para quem o dinheiro dele foi.

A loja fica no Shopping Bela Vista, um dos maiores de Salvador, e tem 239 m². São cerca de 100 marcas de produtos autorais confeccionados em pequena escala, quase exclusivos, por pequenos empreendedores. Esse negócio tem cor, tem gênero e tem cara. Cerca de 90% dos criadores são negros e 85% são mulheres.

A Afrocentrados Conceito foi criada por Cynthia Paixão, uma mulher negra de 39 anos, em 2021. Começou no Shopping Vasco da Gama, em uma loja de 19m². Ela tinha uma marca de moda praia, e, quando o negócio começou a dar certo, não quis crescer sozinha. Ficou com apenas uma prateleira para si e colocou outras 13 marcas para serem vendidas no espaço.

Tanta gente respondeu à publicação de Cynthia nas redes sociais que perguntava “Loja de afroempreendedores. Quem topa?” que teve até fila de espera. Foi aí que ela conseguiu um espaço de 50m² no Shopping Bela Vista, em 2023, passando a atender 30 marcas.

Ainda não estava satisfeita. No ano seguinte, mudou para a loja atual, no mesmo centro comercial. E já tem um plano no papel para abrir outro espaço, ficando com dois. “Estou organizando a casa para poder expandir com segurança”, diz ela, que conta que o negócio teve uma receita de R$500.000 em 2024 e tem expectativa de superar este número em 2025.

Já saindo do papel está o e-commerce do negócio. “Vamos começar com parcerias com plataformas de vendas online, como Amazon e Mercado Livre, e depois vamos criar nosso próprio site. Temos pedidos fora do estado e até do país e essa etapa vai ser muito importante. Estou focada em estudar isso”, compartilha Cynthia.

Como funciona

A CEO vai apresentando a loja e apontando qual empreendedor faz qual produto. “Quem vem aqui sabe que vai encontrar peças afrobrasileiras e autorais”, conta. Tem itens de decoração, moda, papelaria, cosméticos e até sex shop e setor alimentício, com produtos gourmet em fase de curadoria.

A Afroconceitos fornece a estrutura necessária para um ponto fixo de venda a um custo reduzido. Cobre vendedores, sistema de pagamento, impostos, equipe de marketing, equipe de assessoria de imprensa e mentoria. Os empreendedores pagam um aluguel que varia de R$200 a R$2.000 e 30% do valor das vendas fica com a loja. Todo mês, junto com o pagamento dos 70%, os empreendedores recebem um relatório com quantidade e tipo de itens vendidos, registro de trocas e perfil dos clientes.

A mentoria de Cynthia funciona organicamente, a partir das fraquezas que ela observa nas marcas. Dá sugestões de melhorias e dicas a partir da experiência que tem. “Não tenho formação acadêmica, minha formação é da vida. Sou é muito curiosa”, diz ela, que fez e faz cursos em áreas como gestão, finanças e marketing.

Os empreendedores que reúne são de Salvador, região metropolitana, Rio de Janeiro e São Paulo. Cynthia diz que muitos chegam até ela através do perfil no Instagram. São 11.200 seguidores ativos por lá, compartilha, tendo o número na ponta da língua. Mas, para chegar até a loja, é preciso passar por uma seleção. Do controle de qualidade Cynthia não abre mão.

“Buscamos ter as melhores marcas neste espaço. A gente coloca o empreendedorismo negro em posição de grife, que vende para pessoas que buscam identidade. Os clientes compram arte, cultura, conceito. A gente tem peça aqui de R$400 que é um dos carros-chefes. Mas muita gente ainda acha que se é empreendedorismo negro não tem qualidade e tem que vender barato”, provoca Cynthia.

Cenário

A empreendedora sabe reconhecer os avanços, como mais espaços colaborativos voltados para donos de negócios negros e redes de apoio, como projetos de aceleração e financiamento para pequenos negócios negros. Mas não deixa de chamar a atenção para o que ainda é obstáculo, como a dificuldade do mercado consumidor em reconhecer e valorizar os produtos.

De acordo com dados mais recentes do Sebrae, 52,4% dos donos de negócios no Brasil são negros, ou seja, cerca de 15,6 milhões. O número apresentou um crescimento de 28% desde 2012.

Por outro lado, estes ganham, em média, 46,5% menos que os brancos. Quando somadas duas minorias, o cenário é ainda mais complicado. As mulheres negras donas de negócios representam 32,2% e ganham 50,5% menos que mulheres brancas.

Enquanto o principal motivo para os brancos empreenderem é viajar pelo Brasil (54%), a principal motivação para os negros é comprar a casa própria (53,8%). “O empreendedorismo surgiu na minha vida através da dor, pela necessidade de sobreviver. E é assim com a maioria dos donos de negócios negros. É diferente da pessoa que pega um dinheiro para investir. O empreendedor negro abre o negócio para pegar o dinheiro”, diz Cynthia.

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