Bronze em Londres-2012, baiana Adriana Araújo vai leiloar medalha olímpica e deve abrir restaurante em Salvador

Bronze em Londres-2012, baiana Adriana Araújo vai leiloar medalha olímpica e deve abrir restaurante em Salvador

Redação Alô Alô Bahia

redacao@aloalobahia.com

Daniela Leone, do Jornal Correio*

Marina Silva/CORREIO

Publicado em 27/04/2024 às 08:33 / Leia em 5 minutos

Um símbolo histórico vai a leilão. Adriana Araújo decidiu se desfazer da medalha de bronze conquistada nos Jogos de Londres, em 2012, a primeira de uma brasileira no boxe olímpico. O resultado do talento da pugilista baiana vai ganhar novo dono. Os lances serão abertos na segunda-feira, em um site para colecionadores, com o valor inicial estipulado em R$ 120 mil.

“Pretendo conseguir ao menos R$ 150 mil. É o que essa medalha está valendo hoje no mercado”, diz Adriana. “O boxe para mim está acabando. Esse é o meu último ano. Tem um momento que as lesões chegam, e o corpo começa a gritar, por mais que a nossa mente queira [continuar]. Me programei para fazer mais duas ou três lutas, uma delas pelo título mundial. Preciso ter uma renda quando parar. A medalha é a oportunidade de ter o dinheiro necessário para fazer esse investimento”, explica a boxeadora.

Uma cláusula contratual exige dela sigilo quanto ao nome da empresa responsável pelo leilão.

Aos 42 anos, Adriana garante não ter se abalado ao retirar a medalha em definitivo do guarda-roupa. “Não está mexendo comigo. É um símbolo. O que está marcado e guardado é o feito. Isso é algo que ninguém tira. Não tenho esse apego todo à medalha, mas sim a tudo que eu construí para chegar onde cheguei. A medalha vai me ajudar a dar continuidade à minha vida pessoal”, projeta a atleta, que já trabalhou como motorista de aplicativo e, atualmente, é supervisora do Centro de Treinamento de Boxe e Artes Marciais, no Largo de Roma.

Dinheiro vai para abrir restaurante em Brotas

O bronze dos Jogos de Londres vai permitir a realização de um outro sonho. As mãos determinadas a socar as adversárias dentro dos ringues também preparam iguarias típicas da culinária baiana. Moqueca, caruru, vatapá, abará, acarajé, mocotó, rabada, feijoada, xinxim de bofe, sarapatel… Todas estarão no cardápio do restaurante que Adriana Araújo pretende abrir com parte do dinheiro do leilão da medalha olímpica. O ponto ganhará o nome dela e ficará em Brotas, bairro onde cresceu e mora até hoje.

Restaurante de Adriana será em Brotas e terá iguarias típicas da culinária baiana no menu

“Eu quero abrir um botequinho ou um restaurante, um espaço pequeno para atender a galera que gosta de comer uma boa comida caseira. As melhores comidas estão nos pequenos lugares. A galera pensa que eu só sei dar murro na cara, mas sempre gostei de cozinhar. Sei fazer um pouquinho de cada coisa, mas a comida baiana é a principal”, diz em meio a risos, orgulhosa.

Sem as luvas, Adriana Araújo recebeu a reportagem do CORREIO – parceiro do Alô Alô Bahia – na casa onde mora e mostrou muita habilidade com as panelas. Coentro, cebola, quiabo, calabresa, bacon, carne de sertão, camarão, tomate e uma dose certa de dendê convidavam o paladar e, pouco depois, uma quiabada de lamber os beiços estava posta na mesa. A equipe já virou cliente.

Atleta mostrou habilidade nas panelas, e fez uma quiabada de lamber os beiços

Recomeço nos ringues

Bronze em Londres-2012, sete vezes campeã Pan-Americana (2005, 2007, 2008 2009, 2010, 2011 e 2012) e ouro nos Jogos Sul-Americanos de 2010, na Colômbia, Adriana Araújo migrou do boxe olímpico para o profissional e, em março de 2020, no começo da pandemia de Covid-19, alcançou o 5º lugar no ranking do Conselho Mundial de Boxe (WBC). A nova posição a credenciava para desafiar a então campeã mundial da categoria superleve (até 63,5 kg), a norte-americana Jessica McCaskill, mas as lutas acabaram suspensas em função da propagação e gravidade do vírus.

O título da WBC só foi disputado em outubro daquele ano, contra a inglesa Chantelle Cameron, e a baiana acabou derrotada por decisão unânime dos jurados.

“Apesar de agradecida pela oportunidade, fiquei frustrada e muito chateada pelo curto tempo para me preparar. Eu sabia da oportunidade de me consagrar campeã, mas fui avisada 20 dias antes da luta para disputa do título e estava 12 kg acima do peso. Eu tinha que lutar, pelo compromisso, mas o corpo não correspondia”.

Adriana ficou quase dois anos sem entrar nos ringues e, em julho de 2022, anunciou a aposentadoria.

“Como atleta, a gente nunca quer parar. Eu sabia que tinha condições de lutar, de fazer mais pelo meu esporte, estado e país, mas eu estava chateada com tudo. Tudo sempre foi muito difícil para mim e, naquele momento, eu tinha cansado de lutar. Precisava sair do estresse mental, mas nunca parei de verdade, sempre me mantive ativa”, admite.

A volta aconteceu no último dia 14, quando enfrentou a canadense Melinda Watpool, em Pickering, no Canadá, pela categoria médio (até 72 kg), três acima da sua divisão original. Perdeu por pontos, mas comemorou a consequência pós-combate.

“Fiquei três anos e meio sem lutar, estava sem ritmo. Fui mais na experiência e na coragem, pela oportunidade de aparecer novamente no cenário internacional, para ter a chance de disputar novos títulos. Eu tô muito satisfeita com essa luta, porque eu agora estou em 4º lugar na colocação pelo WBC, o que me dá uma nova oportunidade para disputar um título”, projeta.

Com as luvas ou as panelas, Adriana Araújo não tem medo de recomeçar. “Tudo é oportunidade e a gente tem que estar pronta”. Se você é colecionador, siga o conselho dela e agarre a chance no leilão também.

* Colaborou Brenda Viana.

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