1 Dec 2023
Conheça as duas baianas que estão na COP28, em Dubai

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“Acho que quanto mais tem gente debatendo, mais a gente se fortalece e encontra soluções coletivas. Na verdade, o Brasil, eu creio, é uma das maiores delegações que tem aqui na COP, são mais de 2.500 pessoas, é um recorde da participação. Vejo tudo isso com muito orgulho e admiração, porque a gente não quer ser a única, a gente quer ser mais uma, a gente quer que outras histórias também apareçam, que outras histórias sejam vistas”, diz Lourivânia.
Ela também é ativista social e vice-coordenadora do Centro de Estudos Multidisciplinares em Cultura (Cult/Ufba). Participa da Rede Pintadas e outras iniciativas, como a Plataforma de Mulheres de Base que implementa projetos de formação de mulheres. A Huairou Comission, vinculada à plataforma, é uma entidade internacional que atua em 45 países com mulheres em áreas de risco e é através dela que Louri soube da chamada para "Histórias de Resiliência e Adaptação". Ela fez a inscrição e não esperava ser chamada.
“Eles entenderam que a história de Pintadas era muito interessante e fiquei entre as selecionadas. Foram 220 iniciativas do mundo todo e eles selecionaram apenas 19. A única história do Brasil selecionada foi a minha e tem mais uma da América Latina que é do Peru. Depois essa mesma entidade me indicou para uma outra coalizão de organizações que estava financiando algumas lideranças para vir participar e eu fui também selecionada por essa outra organização, então eu chego na COP por essas duas vias”, conta Lourivânia.
O caminho de Lara Borges foi um pouco diferente. A estudante do ensino médio do Colégio Evolução, em Porto Seguro, decidiu participar de um projeto que unia inglês, meio ambiente e inteligência artificial (IA). O projeto se chama Estimule Empatia e foi promovido pelo Edify Education, empresa de soluções educacionais em inglês presente em mais de 400 escolas. A ideia era unir professores e alunos em uma grande campanha sobre a questão climática e o futuro do planeta, e a imagem gerada pela IA com a frase feita por Lara foi premiada com uma viagem para Dubai, para acompanhar a COP28 junto com o professor.

Mesmo não sabendo por onde começar, a estudante tinha uma hora para escrever e através da metodologia do yoga recebeu a inspiração para seu texto. Lara ainda tinha o seu foco destinado para o Exame Nacional do Ensino Médio e após o envio esqueceu que havia se inscrito para o concurso.
“Fechei os meus olhos e comecei a imaginar quais eram os pontos principais que eu queria e fiz uma listinha. Queria abordar sobre matemática, meio ambiente e também sobre como o ser humano sempre não está pensando no todo, mas só nele mesmo. Quando estava próximo de sair o resultado, eu estava triste achando que não tinha me saído bem no Enem e o diretor ligou para minha mãe. Fiquei preocupada porque não sabia do que se tratava, até que ela falou que eu tinha ganhado a viagem”, relata Lara.
As expectativas das baianas estão altas. A COP28 reúne os 198 países que ratificaram a Convenção-quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC) em 1992 e é realizada todos os anos desde 1995. Além disso, as discussões da conferência cobrem todos os tópicos da agenda climática, como redução de emissões, resiliência, financiamento e inclusão.
“Acho que a COP28 será uma das mais importantes porque ela vai mostrar se realmente os países estão evoluindo após o Acordo de Paris e também achei interessante ser sediada nos Emirados, por serem um dos principais produtores de petróleo. Eu quero demonstrar que jovens também são uma ferramenta muito importante na política, porque pelo fato de nós estarmos com o pensamento crítico ainda evoluindo, somos muitas vezes deixados de lado”, disse Lara.
A estudante está viajando ao lado de seu professor de inglês, Moisés Sant’Ana, e é a sua primeira vez em um avião. A estadia deles terá duração de seis dias e irão visitar a Conferência em todos, mas Lara está ansiosa para conhecer Dubai por ser uma cidade tecnológica. O inglês será o aliado principal de Lara Borges na viagem porque as discussões acontecem totalmente na língua inglesa e ela acredita que não terá dificuldades.
“Eu vim de colégio público, ganhei uma oportunidade ao vir morar com minha mãe que tem mais renda, e ela me colocou no Evolução. Ainda com medo de me ver com dificuldade, mas eu consegui me destacar e a família está super feliz. Venho de uma família de pedagogos, então educação sempre foi importante e ganhar isso com mérito meu e da educação é muito importante, tanto para mim quanto para eles”, expressou a estudante.
Para Lourivânia, as expectativas estão altas, mas são um pouco diferentes da estudante porque não estará na COP28 apenas como ouvinte. Após pegar dois voos somando quase de 20 horas em aeronaves, a jornalista passou o dia na Expo City, em Dubai, pela manhã realizando o longo credenciamento para que pudesse fazer parte de painéis na COP28 que possui um processo extenso de segurança e pela tarde observou a abertura da conferência.
Nesta sexta-feira (1º) ela fará parte da Recepção da Global Resilience Partnership de boas-vindas e de uma sessão chamada “O que significa, na prática, uma amplificação significativa e autêntica das vozes locais em espaços globais”, onde ela participará de uma discussão sobre abordagens práticas para amplificar de forma significativa e autêntica as vozes locais, com base em três anos de experiência com os centros regionais de resiliência na COP26, COP27 e COP28.
A jornalista ainda será palestrante no dia 9 de dezembro, onde fará parte da mesa: “Narração de histórias de resiliência de mulheres na linha da frente”. E também no dia 10 de dezembro e estará na mesa: “Como garantir que a ação humanitária antecipatória está mitigando as vulnerabilidades que se cruzam”
A barreira do idioma faz com que a locomoção na conferência seja mais trabalhosa, mas a estrutura é algo surpreendente para ambas as baianas. O local recheado de tecnologia e arquitetura, as duas planejam visitar os museus e conhecer o quanto puderem da cidade. Segundo Louri, “você parece que está em um filme futurista”.
“Eu não conheço ninguém da minha relação mais direta que tenha participado da COP e posso te dizer que, se você me perguntasse sobre COP talvez quatro anos atrás, eu não saberia te dizer o que era. A partir da minha participação, outras pessoas também vão saber o que é COP e vão se interessar em participar. A importância de se estar realmente nesses espaços e trazer as nossas experiências, demandas e reivindicações, para que esse espaço realmente seja um espaço de diversidade, das várias vozes, para que elas sejam ouvidas e possam fazer parte das estratégias de desenvolvimento. O Brasil vai mobilizar esse grande evento daqui a dois anos e a gente precisa se preparar muito para isso. Não se preparar apenas de infraestrutura para receber quem vai estar no Brasil, mas preparar também as nossas comunidades, os nossos jovens, as nossas lideranças, para que possam participar efetivamente desse espaço”, finaliza a jornalista.
* Publicado por N.R. Texto por Yasmin Oliveira, do Jornal Correio*. Com orientação da subeditora Monique Lôbo. Fotos: Arquivo pessoal.