13 Jul 2022
Palacete Tira-Chapéu: na esquina da história e do futuro

Durante décadas, o Palácio Tira-Chapéu, que tem esse nome em alusão à rua que fica na frente (assunto para um outro texto), reinava na esquina nas proximidades da Câmara Municipal de Salvador, do Palácio Rio Branco e do Elevador Lacerda. É um dos últimos grandes imóveis ecléticos, com exceção do Palácio Rio Branco (futuro Hotel Rosewood), que ainda se destaca na Rua Chile. Os que restaram, também ecléticos, passarão em segundo momento por restauros.
Impressiona observar os detalhes de cada um dos ambientes do palácio, antiga Associação dos Empregados no Comércio da Bahia (AECB). Cada cômodo guarda um retrato de um tempo quando ainda era importante adornar paredes, tetos, portas e janelas. O arquiteto responsável pelo projeto foi o italiano Rossi Baptista, também autor da residência Catharino no bairro da Graça (inaugurada em 1912), hoje Palacete das Artes. A fachada e o interior do Tira-Chapéu evocam a suntuosidade e valores presentes nos anos 20 do século XX, e, além disso, é uma testemunha silenciosa de uma cidade e suas transformações no decorrer do tempo. Em seus ambientes, discursaram autoridades, trabalharam diversas pessoas em atividades das áreas médicas, educacionais e comercial. Foi um verdadeiro palco do protagonismo de baianas e baianos por décadas, que agora está ressurgindo como um centro gastronômico e cultural que reunirá maravilhas em um só lugar.
Alguns anos depois de formado em História, tive a satisfação de analisar as camadas de tempo em cada um dos andares do edifício do Tira-Chapéu. Naqueles anos, o tempo tinha deixado cicatrizes nas paredes decoradas, nos estuques, nos andares com alguns mobiliários e na fachada sem o brilho de um passado não tão distante. Subindo a destacada escadaria, fui recepcionado pelo belo vitral com o deus Hermes, por onde passavam luzes coloridas sinalizando que, no meio do pó, tínhamos belezas. Perambulando por cada um dos andares, do térreo ao sótão, dei continuidade às pesquisas com o intuito de analisar o rico patrimônio eclético da Cidade do Salvador e descobrir mais sobre um dos maiores nomes do empreendedorismo baiano: o Comendador Bernardo Martins Catharino, responsável pela construção do Palácio e depois a doação para AECB. Hoje, anos depois, retorno feliz em ver o andamento de um dos maiores restauros dos últimos anos na capital da Bahia.
Falar sobre o empreendimento Palácio Tira-Chapéu é lembrar da relevância que iniciativas em diálogo, e respeito com o patrimônio histórico, possuem em nossas cidades. Nesse caminho, o ressurgimento do antigo Palace Hotel, com o nome Fera Palace Hotel, é um marco em Salvador, é um marco na história recente do Centro Histórico da capital baiana. À frente desse e de outros projetos está Antonio Mazzafera, que está conseguindo transformar sonhos em realidade.
“Estamos restaurando o palácio na íntegra, como foi inaugurado em 1917. Aqui, iremos implementar um grande centro gastronômico, com diversos restaurantes e bares, para atrair o soteropolitano e turistas para essa região tão bela. O Centro Histórico com a Rua Chile é uma região que está passando por um processo de revitalização para potencializar a ocupação urbana”, disse o empresário em coletiva nesta quarta-feira (13), no local.
A abertura do Fera Palace Hotel trouxe, ou estimulou ao longo dos anos, outros empreendimentos que restauraram prédio antigos, como a antiga sede do Jornal A Tarde, hoje Hotel Fasano, trabalho brilhante da construtora Prima, que chama a atenção pelo rigor e sofisticação do restauro. No antigo Palace, primeiro hotel de luxo da cidade inaugurado nos anos de 1930, cores de uma baianidade pulsante estão presentes em cada um dos andares que hoje é uma referência mundo à fora.
Para além de um ícone do patrimônio histórico soteropolitano, o Palacete Tira-Chapéu representa uma ponte para o desenvolvimento de novas iniciativas, como lembra Paulo Marques, Diretor do Fera Empreendimentos, “possibilitando o melhoramento das potencialidades turísticas do Centro Histórico e caminhos de realizações de novos projetos conciliando novas moradias e serviços na região”. Para o responsável da Elysium (empresa que coordena o restauro), Wolney Unes, “o empreendimento representa uma chance de unir e potencializar áreas do centro antigo de Salvador”.
Para tudo isso continuar é fundamental o apoio de gestores públicos sensíveis à causa e que enxerguem que o futuro de Salvador também está na valorização de sua cultura, do seu povo e da sua história. Parabéns a todos os envolvidos nesse projeto.
Fotos: Rafael Dantas. Também estamos no Instagram (@sitealoalobahia), Twitter (@Aloalo_Bahia) e Google Notícias.