Luedji Luna: conheça a cantora que vai dividir palco com Gil, Caetano e Ivete no aniversário de Salvador

Fechada, desconfiada, de poucos amigos, de poucas palavras. Em bom baianês, de poucas ideias. É assim que a soteropolitana Luedji Gomes Santa Rita, de 35 anos, se descreve. Já quando sobe ao palco, é a sua versão Luedji Luna que toma conta. Esta, ainda em suas próprias palavras, comunicativa, gaiata, sexy. “O palco potencializa a nudez que a minha música traz sobre mim”, analisa a artista. 

Luedji, na língua chócue, significa amizade, além de ter ligações com os rios e a Lua. Talvez você já o tenha visto na literatura. “Lueji - O Nascimento de um Império” é o nome de um dos livros do famoso escritor angolano Pepetela, que não passou despercebido nas leituras de Orlando, pai da cantora baiana. Numa mistura de realidade e ficção, o livro conta a história de uma rainha do povo Lunda, em Angola. O nome artístico é fruto da junção do que consta na certidão com um apelido da adolescência. 

Luedji Luna nasceu há sete anos, com uma mudança para São Paulo em busca de oportunidades que lhe permitissem viver de música. Em 2017, lançou seu primeiro álbum - “Um Corpo no Mundo”. No dia 2 de abril, ela sobe ao palco ao lado de Ivete Sangalo, Gilberto Gil e Caetano Veloso, num show inédito que encerra as comemorações do aniversário de 474 anos da cidade de Salvador. 

“Recebi esse convite com muita alegria. Acho que nesses sete anos de carreira faltava esse encontro de gerações”, diz Luedji, que já havia dividido o palco com Ivete no Festival de Verão 2023, mas nunca com Gil e Caetano. “São nomes importantes da música baiana, da música brasileira, e vai ser uma honra cantar com eles, um marco muito importante na minha carreira”, completa.
 
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A descoberta da música

Luedji não se tornou cantora e compositora, já nasceu assim. Tomou consciência disso aos 17 anos, quando compôs sua primeira canção - “Pele”, que faz parte de seu mais recente álbum, “Bom Mesmo é Estar Debaixo D’Água”. Sua primeira formação musical aconteceu dentro de casa e com as andanças pelas ruas de Salvador. 

“Meu pai tocava nos finais de semana numa banda amadora, mas com músicos muito bons e profissionais. Na minha casa, tanto meu pai quanto minha mãe sempre apreciaram músicas. E Salvador é uma cidade muito musical, não tem como fugir da música na cidade, tudo é muito sonoro, tudo é muito barulhento, inclusive”, diz Luedji. 

Ainda chegou a cursar Direito na Ufba para, somente aos 25 anos, iniciar seus estudos musicais e, assim, passar a fazer apresentações. Mas a advocacia nunca foi um desejo, apenas uma possibilidade de meio de sobrevivência quando não enxergava uma vida sustentada financeiramente por música. Nunca chegou a advogar. 
 
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A mudança para São Paulo

Há sete anos, Luedji se mudou sozinha para São Paulo, onde conta ter tido mais portas abertas do que na capital baiana. “Em Salvador quase todo mundo é artista. São muitas pessoas talentosas para um mercado ainda escasso. Ao menos na época que comecei, hoje acredito que bem menos”. 

Deixar a cidade não foi algo simples. “Salvador para mim é o lugar dos afetos, é onde está a minha família e onde estão meus amigos e amigas. É onde eu lembro como é bom ser preta, como é bom ser baiana”, compartilha Luedji. Paradoxalmente, a vida paulistana a deixou ainda mais soteropolitana, numa necessidade pulsante de reafirmar identidades. Faz questão de usar branco nas sextas-feiras e fazer moqueca, que nunca havia preparado quando morava por aqui. 
 
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Nascida no Cabula e criada em Brotas, Luedji se revela uma amante do Centro de Salvador. Entre seus lugares preferidos na cidade, elegeu o boêmio Santo Antônio Além do Carmo e o encantador Pelourinho, sem deixar de mencionar a paixão pelas idas à Praia da Gamboa e pelas lambretas da Mouraria. 

A carreira

Luedji conta, com orgulho, nunca ter precisado mudar seu estilo para atender às demandas do mercado musical. “Fiquei conhecida nacionalmente com um disco extremamente estranho para o mercado na época, no qual eu cantava o que eu queria, do jeito que eu queria, com a estética sonora que eu queria. E eu sigo assim, sendo honesta com a minha música e comigo mesma”, destaca. 

Seu grande fantasma - que a acompanha desde o início da carreira -, na verdade, tem nome: esquecimento. “O grande desafio, para qualquer artista, depois que você se torna conhecido, é se manter na mídia, se manter relevante. E esse desafio é ainda maior para artistas negros, mulheres negras. É muito fácil esquecer dos feitos de pessoas negras”, coloca Luedji. 
 
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A militância

Luedji é fruto da militância política. Seus pais, Orlando e Adelaide, eram jovens universitários quando se conheceram no contexto de luta. Ele se tornou historiador e, ela, economista. Ambos funcionários públicos. 

“Eu fui um projeto político dos meus pais e de uma geração de militantes que prepararam seus filhos para ocupar espaços de poder. Essa conversa sempre foi muito objetiva na minha casa, no sentido de que é sobre felicidade, mas é também sobre um projeto anterior, é sobre o fruto de várias lutas”, coloca Luedji. 

“Eu me considero militante. Na verdade, não há alternativa quando se é mulher preta, quando se é artista. É uma militância que está nas minhas escolhas afetivas e profissionais, que está em tudo. A gente vive numa sociedade estruturalmente racista e não dá para simplesmente só ser. É preciso ser uma pessoa negra. É preciso reafirmar esse lugar e disputar espaços, narrativas e discursos”, completa. 

A maternidade

Luedji se tornou mãe em 2020. O pequeno Dayo, hoje com 2 anos, inspirou os versos de "Ameixa", canção produzida por Luedji e Zudizilla, rapper gaúcho, pai de Dayo e companheiro da cantora. Ela celebra o privilégio de ter uma maternidade equilibrada com a paternidade. 
 
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“Dayo é criado por pai e mãe, o que torna a minha maternidade leve e tranquila, já que é compartilhada com a paternidade. Tenho um companheiro que cria e cuida do Dayo junto comigo”, destaca. “Eu quis ser mãe e estou sendo mãe do jeito que sempre sonhei”, acrescenta Luedji. 

Em comemoração ao aniversário de 474 anos de Salvador, a Prefeitura da cidade celebra o Festival Viva Salvador, que conta com programação desde 15 de março até 2 de abril. No último dia, um show especial encerra as atividades com chave de ouro. Os cantores baianos Ivete Sangalo, Gilberto Gil, Caetano Veloso e Luedji Luna sobem juntos ao palco, em um show inédito, no Farol da Barra, às 19h40. O acesso é gratuito. A apresentação será transmitida na íntegra ao vivo no Globoplay (aberto para não-assinantes) e Multishow, e contará com inserções na TV Bahia e um compilado de melhores momentos na TV Globo. 

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