30 May 2023
Incêndio no TCA escancara escassez de grandes espaços para eventos em Salvador
Além do TCA, também estão fechados o Teatro Sesc, previsto para retornar no segundo semestre após reforma; o Teatro ICBA; e o Teatro Isba, ainda sem previsão de retorno. Também foram encerradas as atividades do Teatro XVIII, que fica no Pelourinho, enquanto o Teatro ACBEU foi demolido para a construção do empreendimento de luxo do Grupo Alive, no Corredor da Vitória.
O Teatro Diplomata, em Patamares, foi readequado para realizar apenas formaturas, fora alguns espaços fechados há anos por problemas estruturais, como é o caso do Cine Teatro do ICEIA, no Barbalho.
Estão abertos, até então, oito espaços pela Prefeitura de Salvador, segundo informações da Fundação Gregório de Mattos (FGM), e outros sob a gestão do Governo do Estado. Mas a questão vai mais fundo. Além da escassez de equipamentos para receber eventos, a quantidade de lugares dos que estão em funcionamento na capital baiana é limitante para a realização de certos eventos, principalmente se comparado ao Teatro Castro Alves, que comporta 1.500 pessoas. O Jorge Amado, atualmente o teatro com mais espaço, não tem nem a metade do tamanho do TCA: são 418 cadeiras.
Limitação impacta setor e a população
O presidente da Associação Baiana das Produtoras de Eventos (Abape), Moacyr Villas Boas, diz que o cenário é negativo para o setor em diversos âmbitos. "O impacto é grande, sem precedentes porque a medida que a gente não tem espaço pra cultura, pra apresentação de espetáculos culturais na cidade, sejam eles peças de teatros, espetáculos musicais, shows, etc, Salvador acaba ficando fora do circuito. Os espetáculos, os artistas que costumam sair em turnê acabam, infelizmente, não tendo como se apresentar em Salvador", explica.
Para ele, os profissionais da cultura, que vivem disso, e a própria população, que fica sem ter esse acesso a espetáculos perdem com isso. A produtora cultural e gestora de projetos Marlucia Sie acrescenta que a quantidade atual de equipamentos culturais não supre as necessidades, sobretudo para produtores que trazem espetáculos de fora de Salvador.
"Não supre, até porque são vários produtores. Isso hoje é o maior problema que nós temos", conta. Para a gestora, que trabalha mais com eventos realizados no TCA, o impacto do fechamento do espaço para reforma é sentido no bolso. Ela afirma que está tendo que reembolsar cerca de R$ 40 mil para viabilizar as pautas que já tinha agendadas.
A saída inicial foi migrar os eventos para o Centro de Convenções, mas com custos. "Eu vou ter que montar palco, eu vou ter que botar cadeiras, montar luz, som. [...] No TCA eu tenho um custo, mas fazer isso aqui eu tenho duas vezes maior meu custo, em torno de 40k. E o que eu tô fazendo é parceria com os produtores nacionais e a gente está tentando viabilizar um meio termo", conta.
O efeito também é sentido na cadeia de trabalho. Se antes ela contratava cerca de 15 pessoas para auxiliar nos eventos realizados no TCA, hoje o número reduziu para 4 pessoas, com a redução do espaço. "A gente trabalhando também gera emprego. Tem o baleiro que tá lá na porta do teatro - não é emprego, mas é serviço. O cara que vende cerveja, o cara que vende amendoim está lá na porta do teatro. Tem as pessoas que contratamos para trabalhar... Eu contrato, no mínimo 15 pessoas diretamente comigo, fora todas as empresas de som, luz, equipes de incêndio, uma ambulância. Em torno são mais de 50 pessoas".
Um dos questionamentos levantados por Moacyr Villas Boas é sobre a falta de um Teatro Municipal na cidade. Segundo ele, a associação está pleiteando essa possibilidade com o secretário do município, Pedro Tourinho. "A gente está insistindo muito para que tenhamos um teatro municipal. Uma cidade da importância cultural, do tamanho cultural e da representatividade de Salvador e que a Bahia tem, como movimento cultural, artístico, que serve como espelho para o Brasil e para o mundo, é vergonhoso a gente ter apenas um grande teatro na cidade, que no caso é o Teatro Castro Alves. A gente precisa ter outros espaços para eventos de pequenos, de médio e grande porte", afirma.
Respostas dos órgãos
A Secretaria de Cultura da Bahia (Secult-Ba) informou que o Complexo do TCA segue em funcionamento, com a Concha Acústica. Ainda segundo o órgão, a sala do Coro será reaberta em junho, com retomada dos projetos selecionados na "Convocatória para Ocupação de Pauta da Sala do Coro do TCA – 1º Semestre de 2023", e realocação dos eventos que aconteceriam neste semestre. Ainda de acordo com a Secult, nos próximos dias, "será divulgado um cronograma com todo o processo de reforma" da sala principal do TCA, que "vai passar por um processo de reforma e requalificação acústica, normativa, técnica e tecnológica, e teremos o teatro mais moderno do Brasil".
Sobre o fechamento de outros espaços e as demandas de produtores, o órgão diz que "tem dialogado com o governo federal e com a iniciativa privada sobre parcerias para qualificar a rede de equipamentos culturais já existente e vislumbrar novos espaços para a cultura", assim como um programa de requalificação para reformar espaços culturais da cidade que estão sem funcionar.
A Prefeitura de Salvador, por meio da Fundação Gregório de Mattos, informou que é responsável pela administração de oito espaços culturais e que "articula parceria com o SESI para dinamização de um espaço cultural na Cidade Baixa". Além disso, que "compreende que espaços culturais são pontos que ressoam nos âmbitos da produção criativa, intercâmbio, formação, qualificação, difusão e circulação da produção cultural de Salvador".
Shoppings e espaços comerciais
Por conta da situação, o setor cultural tem tentado regulamentar a Lei Municipal nº 7.848/2010, que determina aos shoppings centers e espaços comerciais a criação de teatros e casas de espetáculos em suas instalações. Uma audiência acontece nesta terça-feira (30), no auditório do Edifício da Bahia Center na Rua Rui Barbosa.
Com intermédio do vereador Sílvio Humberto, por meio da Comissão da Cultura Municipal de Salvador, será discutida a situação dos teatros e casas de espetáculos da capital baiana, e como regulamentar a lei. "A demanda chegou por meio de duas produtoras, que conversou conosco e apresentou a lei, que desde 2010 existe, e até então tinha um prazo de regulamentação de 60 dias e não foi regulamentada", explica o vereador.
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Foto: Marina Silva/CORREIO.