Filha, mãe e avó: tradição do Bonfim atravessa gerações de baianas em Salvador

Com informações do Correio24Horas

“Eu era menina, isso há mais de 60 anos”. Não adianta perguntar a data pois a baiana de acarajé Marialda de Oliveira, 68, não se lembra com exatidão quando participou da Festa do Senhor do Bonfim pela primeira vez. Nas imagens embaralhadas que vem à mente, quando se esforça para recordar os tempos de menina, sempre há presença de uma figura. “Minha mãe era filha de Xangô e me vestia de baiana para participar da festa, conforme eu fui crescendo, passei a usar as roupas dela”, relembra.

A história de Marialda se repete entre muitas das mulheres negras que sobem a colina sagrada para lavar a escadaria e o adro da Basílica do Senhor do Bonfim todos os anos. A festa completa, na quinta-feira (11), 279 anos de tradição. Ensinamentos passados de mãe para filha, desde a receita da água de cheiro que benze até a indumentária correta para usar no dia especial. A mãe de Marialda faleceu, mas há um pouco dela em toda segunda quinta-feira do ano, quando a filha se prepara para participar da lavagem.

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“É uma celebração que significa muita coisa, uma tradição maravilhosa que a gente faz questão de continuar. Toda vez que saio de casa, peço proteção ao Senhor do Bonfim”, diz. Quando se esquece, ele faz questão de lembrar. “Tenho um quadro dele em casa e, quando estou me arrumando na agonia, olho para ele e lembro logo que tenho que fazer minha oração”, completa.

A tradição que Valquiria dos Anjos (foto), 65, herdou dos pais passou por suas mãos antes que chegasse as duas filhas. Assim que a mais nova nasceu, há 36 anos, a baiana fez questão de bordar a roupa branca que a menina usaria nas primeiras lavagens do Bonfim. Assim como Marialda, Valquiria tem lembranças espaçadas de ter participado da celebração com os pais, quando tinha apenas 3 anos.

“Comecei colocando roupinha de baiana que eu mesma fazia na mão. No início ela não gostava muito, mas eu comecei a apresentar a festa e a oração para ela. Aí foi tomando gosto e hoje em dia faz questão de ir”, conta Valquiria. As duas filhas representam a certeza de que a tradição familiar que começou há mais de 60 anos continuará por muitos anos. Até a neta, de 21 anos, também participa.

Outra que estará acompanhada da filha quando sair de casa rumo à Basílica do Senhor do Bonfim na quinta-feira é Marta Barbosa, 52. A filha de 30 anos seguiu os passos da mãe e dá continuidade à tradição secular. “Quero passar para ela a tradição. Ela já faz acarajé e abará, mas quero que, quando eu não estiver mais aqui, ela dê continuidade ao meu legado e dos nossos ancestrais”, almeja.

Nem todas têm a mesma sorte. As filhas de Claudina Silva Souza decidiram seguir um caminho diferente da mãe: são evangélicas e querem distância da lavagem. Para a mãe, pouco importa. Aos 72 anos, Claudina mantém as tradições e coordena grupos de baianas que participam da festa. “Elas não gostam que eu vá, principalmente agora que a idade chegou. Mas eu não ligo, pego minha trouxinha escondida e saio de casa com minha roupa de baiana”, conta brincalhona.

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* Publicado por N.R. Texto de Maysa Polcri, do Jornal Correio*. Foto: Arisson Marinho/CORREIO.

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