Prestes a se dividir entre Bahia e São Paulo, maestro Carlos Prazeres fala sobre projetos e da relação com Salvador

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Após mais de 10 anos morando em Salvador, onde assumiu, em 2011, o cargo de Diretor Artístico Regente Titular da Orquestra Sinfônica da Bahia (OSBA), o maestro Carlos Prazeres passará a se dividir entre a Bahia e São Paulo, ainda em 2022. Ele assumirá também a Orquestra Sinfônica Municipal de Campinas, depois de transformar, em termos de técnica e repertório, o trabalho da OSBA, aproximando a música de concerto do público popular.
 
Carismático, Carlos segue lotando os espaços por onde passa com a orquestra, e não são só com os projetos como CineConcerto (com trilhas de filmes), Baile Concerto (clássicos da Axé Music) e São João Sinfônico (forró). Os clássicos Bach, Mahler, Stravinsky, Villa-Lobos e Beethoven também emocionam o público que, em sua grande maioria, achava que a música instrumental e clássica executadas neste formato era “coisa de elite”.
 
Durante as apresentações, o maestro interage com o público, explica didaticamente o que está por vir ou o que acabou de ser mostrado, conta histórias, usa fantasias em apresentações específicas, conta piadas colocando para fora seu lado comediante e sabe muito bem como se promover nas redes sociais, estimulando o “público crush” a criar uma relação de carinho com a pessoa física além do profissional.
 
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Em entrevista exclusiva à repórter Paloma Guedes, ele fala ao Alô Alô Bahia sobre a decisão de se dividir entre os dois estados e, claro, sobre o seu amor pela Bahia e pelos baianos.
 
Após mais de 10 anos de casamento com a Orquestra Sinfônica da Bahia (OSBA), esse ano você decidiu assumir também a posição de Diretor Artístico e Maestro na Orquestra Sinfônica Municipal de Campinas. Ficou entediado com uma orquestra só? Quais foram suas motivações para aceitar o trabalho?
 
Muito pelo contrário. Na verdade, foi justamente o fogo desse casamento e o acolhimento da sociedade baiana pelo nosso trabalho que me incentivaram a aceitar o convite de Campinas. A Bahia me deu régua e compasso para buscar estabelecer lindas conexões com o público campineiro e estender esse amor sinfônico ao Sudeste.
 
Como é possível conciliar e se dedicar, com a dedicação que o bom trabalho pede, às duas orquestras?
 
Essa é uma praxe muito comum na minha profissão. Veja o caso do canadense Yannick Nézet-Séguin, diretor do Metropolitan Ópera de Nova Iorque, da Orquestra da Philadelphia (ambas entre as Top 5 nos Estados Unidos) e da Orquestra Metropolitan no Canadá, só para citar um entre tantos exemplos. Um maestro não deveria reger mais do que 50% da temporada de sua orquestra oficial, uma vez que o mesmo é um intérprete e a orquestra também precisa trabalhar com outras interpretações, o que a torna mais rica artisticamente. Além disso, muito além de reger, o cargo de diretor artístico pressupõe que o maestro dirija artisticamente a instituição, apontando seus caminhos, buscando conexões com seu público e desenhando sua temporada. Me conectar com Campinas também será parte do meu ofício a partir de agora.
 
Você pretende usar experiências vividas com a OSBA em Campinas ou são duas orquestras totalmente diferentes, com propostas diferentes?
 
Eu pretendo utilizar a experiência que vivo aqui na Bahia e sei que dá certo, mas respeitando as idiossincrasias entre duas cidades tão distintas. Por exemplo, o OSBA TAGS, nosso programa de inserção de vídeo antes das peças mais solenes da temporada oficial, é algo que criei e quero muito utilizar por lá com outro nome, pois sei que dá certo. Já o CineConcerto, com todos fantasiados, não tem a cara da sinfônica de Campinas. Em compensação, já busquei me informar da enorme importância da cena de hip hop de lá. Já pensou uma junção pontual de uma orquestra com esse gênero? Com o skate, com a arte de rua, tão características do estado de São Paulo? Eu fico aqui viajando e já querendo colocar em prática todas essas ideias por lá.
 
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O maestro deixa sua marca no estilo das orquestras por onde passa?
 
Sim, essa é uma função primordial de um bom diretor. Se ele não deixa sua marca, no meu entender, ele não conseguiu êxito na sua função.
 
Eu sei que você é sempre cheio de projetos, como por exemplo a live “Música na Sala”, vídeos para inicialização musical de crianças nas escolas, entre outros. Existem outros projetos guardados na manga que você possa contar?
 
Eu penso no Sarau Solidário. É um programa meu, independente das orquestras. Penso que podemos levar arte para as praças da cidade em troca de comida e roupas para as pessoas em situação de rua. Nesse sarau vamos levar música, poesia, dança, teatro, literatura, circo e tudo aquilo que nos eleva artisticamente. Através da arte, estimular a consciência social de cada um, buscando que as pessoas enxerguem uma população invisível ao invés de fugirem da mesma.
 
Você vem de uma família portuguesa de músicos e fez parte dos seus estudos na Alemanha. A música de concerto permite uma mistura de influências sonoras de lugares e culturas diferentes? Você acha que toda essa vivência, inclusive da sua cidade Natal, Rio de Janeiro, e de Salvador colaboram para que seu estilo de reger seja único?
 
Eu acredito que sim. Nasci no Rio e vivi décadas por lá, mas já morei em Berlim, hoje vivo em Salvador e agora vou morar também em Campinas. Todas as experiências que vivi nestes lugares, além das minhas viagens, contribuem muito para o meu estilo de reger e, principalmente, o meu estilo de conduzir artisticamente uma orquestra.
 
Sobre a Bahia… você já virou soteropolitano. O que você mais gosta e menos suporta no dia a dia de viver em Salvador?
 
Eu amo o soteropolitano com seu jeito doce, acolhedor, carinhoso. Amo sua forma de sentir, sua espontaneidade única. Acho lindo sentir isso nos concertos, é uma energia diferente do mundo todo! De negativo, acho Salvador quente demais pro meu gosto. Eu curto um friozinho…
 
Me conte um pouco da sua relação, não apenas profissional, com a Bahia e as pessoas do estado.
 
A Bahia mudou muito meu jeito de enxergar o mundo. Cheguei aqui um "playboy carioca” e minhas experiências, meus relacionamentos, meus amores e minhas amizades me tornaram uma pessoa melhor. Hoje tenho mais consciência social, tenho plena noção dos meus privilégios e agradeço todos os dias por isso.
 
Você é uma figura pública e usa suas redes sociais não somente para falar de trabalho. Já chegou a ter algum tipo de incômodo ou mesmo arrependimento por mostrar sua rotina pessoal de viagens, exercícios físicos, saídas com amigos e fortes opiniões sobre política e questões sociais?
 
Já passei por situações constrangedoras por isso, mas este sou eu, não me arrependo, não. Sempre fui um livro aberto. Sou muito feliz e gosto de compartilhar essa felicidade com as pessoas. Se a gente planta amor, acaba colhendo amor.
 
O título de “Maestro Crush” te envaidece?
 
E tem como não me envaidecer? Eu amo esse “público crush" e nossa "orquestra crush”.
 
Fotos: Gabrielle Guido. Também estamos no Instagram (@sitealoalobahia), Twitter (@Aloalo_Bahia) e Google Notícias

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