Prejuízo de Senhor do Bonfim com cancelamento do São João foi de R$ 10 milhões, diz prefeito

A pandemia do novo coronavírus provocou o cancelamento das festas juninas, muito tradicionais na Bahia, o que acarretou em um prejuízo milionário especialmente para aquelas cidades cujos festejos são mais fortes. Senhor do Bonfim é uma delas. Por lá, noutros tempos, os últimos dias teriam sido de festas no Espaço Gonzagão.
 
Contudo, diante do cenário de avanço da covid-19, o município não pode realizar aquela que é o principal evento em termos de movimentação econômica. Segundo o prefeito Carlos Brasileiro, a festa movimenta em média R$ 10 milhões. “O comércio perde, a hotelaria perde, as lanchonetes, os restaurantes, mas acho que tudo isso passa”, diz ele.
 
Nesta entrevista exclusiva para o Site Alô Alô Bahia e para o Jornal CORREIO, Brasileiro fala sobre as ações tomadas no município para impedir o avanço da covid-19 e também sobre o prejuízo com o cancelamento do São João. O prefeito ainda revela que estuda, em 2021, realizar oito dias de festa de São João ao invés de quatro. Ou seja, o dobro para compensar a ausência em 2020.
 
Ele, contudo, descarta realizar um São João fora de época quando a pandemia estiver controlada.
 
Segundo dados da prefeitura, Senhor do Bonfim tem hoje 103 casos confirmados da covid-19, com uma morte e 66 recuperados, mais da metade. Acredita que a situação está controlada?
 
Diante dos números, diante do fato de sermos um polo regional e diante do crescimento dos casos no Brasil e na Bahia, eu diria que estamos na dianteira, reagindo. Só tivemos uma morte, mas foi porque o cidadão tinha outros problemas e não procurou auxílio médico no tempo certo, foi hospitalizado em um hospital particular e já estava muito comprometido. Temos feito testes rápidos, uma das poucas cidades da Bahia. Foram mais de 2 mil testes rápidos, o que tem ajudado a gente a identificar e zonear as áreas de contaminação, envolver os parentes, amigos que a pessoa teve contato.
 
Quais ações da prefeitura o senhor destaca como mais importante para evitar um avanço mais severo da doença?
 
Fizemos barreira em toda a cidade, que é um polo regional, com mais de 27 acessos. Deixamos dois acessos para a cidade com barreiras móveis por 24 horas para manter o devido controle de moradores de outras cidades, principalmente quando o comércio está aberto. O comércio tem duas semanas fechado, porque houve um crescimento em 72h há cerca de 15 dias. Nós tínhamos ainda 3 casos por semana, e aí tivemos 15 casos em 72 horas. Então decidimos fechar o comércio de novo. Dentro dessa estratégia de controle de barreiras sanitárias, trabalhando muito também com a fiscalização até dos serviços essenciais, a gente tem conseguido esse controle.
 
Como o senhor lidou com a questão do fechamento do comércio?
 
A gente começou a fechar o município logo no início, nas primeiras notícias da pandemia chegando na Bahia. Fechamos por três semanas o comércio, depois a gente viu que os números estavam bem estabilizados, registrando um caso por semana, dois no máximo. E estes casos controlamos em casa porque a gente tem uma equipe de monitoramento, formada por médicos, enfermeiros, eles acompanham o paciente três vezes por dia, ouvindo as queixas dele sobre febre, tosse, falta de ar. Então, nós abrimos o comércio por um mês e se manteve em um nível controlado. Depois, começou a aumentar um pouco, principalmente com casos assintomáticos, porque aí passou a ser a transmissão comunitária. Aí a gente voltou a fechar por 15 dias, depois abriu 15 e agora fechou 15.
 
Com esse fechamento do comércio é possível que os casos tenham parado de subir, o senhor pretende reabrir o comércio?
 
Geralmente os nossos decretos são de 15 dias, mas com possibilidade de mudança de 7 em 7 dias. Nesse último mês, a gente baixou um para 15 dias, ele vence domingo, e sábado a gente fez uma reunião e avaliou que só tivemos 3 casos sintomáticos, bem diferente de 15 dias atrás. Então cresceu o número de casos, mas em compensação também a recuperação aumentou. No sábado a gente faz uma nova avaliação, se o quadro nos der uma segurança de que os assintomáticos também não estão evoluindo, aí a gente pode pensar na abertura. Não tem como não fechar se houver um crescimento. Mesmo se o crescimento for leve vamos ter que manter fechado.
 
Qual a estrutura do município para atender às pessoas com covid-19?
 
A gente criou um centro com 32 leitos com 12 respiradores e 6 monitores para casos graves. Se não estabilizar, a gente faz o trabalho de enviar para Salvador ou para Juazeiro, Petrolina. Já enviamos dois para Salvador, que já foram curados e o de Petrolina também foi curado, só tivemos 3 mais graves. A gente leva de ambulância se for para Petrolina e se for para Salvador vai de avião via Petrolina.
 
Quantos leitos de UTI Senhor do Bonfim tem?
 
Ainda não temos leitos de UTI, mas acreditamos que até o dia 5 de julho teremos 25 leitos de UTI na estrutura do Hospital Municipal Dom Antônio Monteiro. Desse total, seriam 10 para adulto, 10 para neonatal e 5 para observação, mas com a crise o governador (Rui Costa) autorizou que a gente adaptasse os 25 leitos para covid-19. Quando passar, volta a funcionar conforme planejado, o que irá funcionar em caráter regional com as UTIs funcionando.
 
Estamos em período junino. As festas em Senhor do Bonfim são sempre muito famosas. Acreditamos que tenha havido um prejuízo grande para a economia do município, certo?
 
Aqui é a capital baiana do forró. Sem nenhum bairrismo, é o melhor São João do Brasil. Campina Grande e Caruaru têm grande circulação do dinheiro, um dia a gente vai chegar lá, mas aqui a força do nosso São João é a tradicionalidade, é uma festa mais cultural, com diversidade de comidas típicas. Somos um polo regional, claro que as pessoas estão sofrendo bastante não só pela saudade dos festejos, que é uma coisa que está dentro das nossas raízes. Mas a gente procurou conscientizar porque é um dia de muita alegria mesmo, mesmo com a pandemia tem que festejar dentro das casas, com sua família, obedecendo as regras de distanciamento, mas que não vão pra rua, que não acendam fogueiras, que nesse momento de muito frio a fumaça é um contribuinte forte para quem já tem problema de respiração e também pode ajudar a proliferação do vírus. Agora, é evidente que é uma perda muito grande porque a gente geralmente investe R$ 2 milhões no São João, entre decoração, atrações, festas. Então é natural, o comércio pede, a hotelaria perde, as lanchonetes, os restaurantes, mas acho que tudo isso passa. Nos mantemos firmes, animados, esperançosos e se pudermos no ano que vem, vamos fazer oito dias e não quatro para compensar esse ano.
 
O São João chega a movimentar quanto na cidade?
 
Gira em torno de R$ 8 milhões, R$ 10 milhões. Em 2018, aqui teve aproximadamente circulação de R$ 10 milhões porque coincidiu com o final de semana, o feriado foi na segunda então foi muito positivo. O ano passado caiu um pouco, a média foi de R$ 8 milhões. A prefeitura investe R$ 2 milhões, capta de patrocínio em torno de R$ 700 mil. A gente investe R$ 2 milhões, arrecada R$ 700 mil, e R$ 1,3 milhão saem dos cofres públicos. É muito positivo para a sociedade toda. É o fator econômico mais forte. Realmente o melhor momento econômico do município é o São João. 
 
Quantos turistas a cidade costuma receber?
 
A gente recebe em média 5 mil turistas fixos, mas tem os flutuantes, que são aqueles que fazem bate-volta. Na nossa região as cidades são todas próximas, com 30 km, 40 km de distância, então tem muita gente das outras cidades que vem para a festa e volta de madrugada. No Espaço Gonzagão, que foi um espaço construído em 2008, temos em média um público de 50 mil pessoas todas as noites. É uma senhora festa mesmo. Isso é importante porque vem artistas nacionais, mas o que mais valoriza o nosso São João é a cultura mesmo de 100 anos, que está no sangue das pessoas, é o forró nas casas, nos sítios, nas chácaras, nas ruas. Nós criamos aqui o forró na feira, muito interessante porque tem duas atrações tocando no meio da feira, com personagens folclóricos, dançarinos, quadrilhas, isso é o que faz o São João diferente, com blocos que saem nas ruas.
 
O senhor vê a possibilidade de um São João fora de época caso a pandemia dê uma reduzida boa até o final do ano, por exemplo?
 
Não vejo. Fizemos um levantamento e eu acho que não cabe em Bonfim um São João fora de época. Eu penso em fazer um grande evento em Bonfim, uma festa, mas não com o espírito junino.
 
Muitos prefeitos têm falado da questão econômica, que tem sofrido um impacto grande. Em Senhor do Bonfim qual é o impacto da arrecadação?
 
Nós até aqui perdemos em média 25% do ICMS e FPM (Fundo de Participação dos Municípios), em torno de 30%. Tiveram leis aprovadas federais de restituição. Bonfim vai receber pouco mais de R$ 6 milhões (com o auxílio do governo federal). Claro que o recurso é importante, mas você sabe que é uma restituição. Não é de agora porque é Covid-19. É importante porque já tem município da região preocupado em como pagar a folha. Os comerciantes e empresários estão sofrendo não só pelo temor da doença, mas para manter lojas abertas, o emprego das pessoas.
 
A população tem cumprido o isolamento?
 
Temos tido uma média de 70% de aprovação das medidas. Mais de 90% das pessoas entendem, mesmo que chateadas. A gente incentivou também a trabalhar no delivery, que nas cidades do interior não chegou tão forte.
 
Foto: divulgação. Siga o insta @sitealoalobahia.

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