Paulo Borges: "Dou a linha, mas não costuro a roupa"

É preciso traquejo para conversar com Paulo Borges. Ele não é para qualquer um. Nunca foi! Sua inteligência sabe fulminar qualquer senso comum e sua inquietude é capaz de desconsertar até mesmo o mais cético dos seres.

Paulo, criador do SPFW, é uma caixinha de surpresas, com direito a rico enredo. Sua vida, por mais fabulosa que possa ser, é baseada em outros princípios  em outros valores. E é sobre isso que aqui ele nos abre o jogo, contando as suas verdades, numa entrevista inédita. Confere até o final, linha por linha, que é uma aula de bom senso - artigo raro em tempos atuais.

Alô Alô Bahia - Quando decidiu que não seria mais um na multidão?

Paulo Borges - Nunca pensei sobre isso. Adoro ser 1 na multidão!!!

Alô Alô Bahia - A sua habilidade de trabalhar com moda é um dom ou é um resultado de muita dedicação e esforço?

Paulo Borges - Acredito que a mistura de tudo isto. Dom, destino, paixão, mas tudo adicionado a muito esforço, dedicação e foco.

Alô Alô Bahia - Paulo Borges é rotulado como criador do SPFW, como o homem que proporcionou novas divisas para a moda brasileira. E do outro lado do espelho, o que lhe traduz?

Paulo Borges - Paixão. Me vejo uma pessoa apaixona pelo que faz, crente dos valores criativos dos brasileiros, e um ser apaixonado pelo seu país.

Alô Alô Bahia - Vive-se mais de glamour, ou dá para fazer dinheiro trabalhando com produção cultural?

Paulo Borges - O glamour é um produto criado para mitificar o meio. Só se vê glamour de fora. Dentro do processo é trabalho intenso, e bem planejado e gerenciado, pode-se ganhar dinheiro com certeza.

Alô Alô Bahia - Como reinventar, a cada estação, a semana de moda mais famosa do país?

Paulo Borges - Não tenho uma receita para isto. Acredito que tudo faz parte de um todo. Um processo criativo intenso e orgânico. Claro que ter uma inquietude constante ajuda a pensar sempre além. Estamos olhando para a frente, na frente. Acredito que este é o meu papel.

Alô Alô Bahia - O que faria, profissionalmente falando, se um pudesse escolher um novo começo?

Paulo Borges - Adoro cinema e fotografia. Não dá para prever como seria se fosse diferente, mas talvez nestas áreas eu me sentiria muito feliz.

Alô Alô Bahia - Reformular tendências num processo contínuo, gera consumo nas massas. Em um mundo que caminha para a consciência sustentável, até onde se pode ir?

Paulo Borges - Todo processo é de "repensar". Tudo e todo processo. A sustentabilidade faz parte disto. Há quase 10 anos o SPFW defende estas bandeiras e acreditamos em consumo consciente, inovação de todos os processos, e com certeza o mundo será reinventado a partir destes princípios. E a moda por ser um processo criativo e de consumo que tem a inovação como principal pilar de sustentação, já está trabalhando com isto.

Alô Alô Bahia - Como caminha a moda baiana?

Paulo Borges - É difícil analisar algo em termos coletivos. Primeiro porque não acredito em ' modas regionais', acredito em moda e pronto. Seja ela de onde for e para quem for. Com certeza hoje o nome que mostra criatividade na moda baiana é o Vitorino ( Campos), mas claro que existem outros nomes.

Alô Alô Bahia - Seu amor por Salvador é público. Quando ele surgiu?

Paulo Borges - Eu já conheço a Bahia há muito tempo, mas tem quase 13 anos que me encontrei com a Bahia. Um encontro de alma, de vida. Há 15 anos atrás nunca imaginava que um dia iria ter a minha vida tão ligada a Salvador. Hoje sinto que minha alma está completamente enraizada nesta cidade, na cultura, nos hábitos, em tudo. Para fechar este ciclo, veio o meu filho, uma criança maravilhosa que é a minha maior alegria, meu grande amor, minha mais rica missão. Hoje ele já é um rapazinho de quase 08 anos, que a cada ano que passa sente mais orgulho de ser baiano, mesmo tendo residência fixa em SP. Passamos muito tempo na Bahia, e ele em contato com a sua história e raízes.

Alô Alô Bahia - Quais são as suas aspirações em torno do futuro?

Paulo Borges - Eu só penso que quero viver muito, cada vez mais em paz e em alegria, e a Bahia está sempre nas minhas listas do futuro.

Alô Alô Bahia - Ao olhar para trás, diante de tantas conquistas, qual seria a sua maior vitória?

Paulo Borges - Me manter tranquilo com minha essência, meus valores, minhas crenças, minha paz interior.

Alô Alô Bahia - Espera que seu filho seja adolescente em qual realidade, em qual contexto de vida?

Paulo Borges - Não se pode moldar a vida de outra pessoa, mesmo que ela seja seu filho. Eu penso assim. Fui criado desta forma.Procuro manter meu filho dentro da minha realidade e dos valores que sempre prezei. Como disse, faço que ele tenha mantenha laços fortes com suas raízes, mas ele terá a decisão final, seu direito de 'escolher' tudo. Acredito que um ser forte e inteiro, seguro, livre e feliz, tem que desenvolver desde cedo o sentido da responsabilidade pelas suas escolhas e conquistas. Eu dou a linha, mas não costuro a roupa. E aprendi isto com meus pais.

Alô Alô Bahia - Para finalizar, ao seu ver, o que seria a elegância?

Paulo Borges - Educação e auto estima. Todo o resto se encaixa.

Foto: Reprodução.

NOTAS RECENTES

TRENDS

As mais lidas dos últimos 7 dias