Médico, prefeito de Alagoinhas diz que não descarta receitar cloroquina “em casos específicos”

Apesar de considerar que a cidade de Alagoinhas, com cerca de 155 mil habitantes, consegue ter um controle sobre a situação do coronavírus, o prefeito da cidade, Joaquim Neto (PSD), afirma que o município está em um momento de "aumento exponencial do número de casos". Até essa terça-feira (26), a cidade tinha 59 casos de coronavírus confirmados, 19 recuperados e 2 óbitos. De acordo com o prefeito, mais confirmações estão sendo realizadas por conta da aquisição de testes rápidos pela administração municipal.

 

Dentre as ações tomadas pela prefeitura mais recentemente estão medidas mais duras, como o toque de recolher de 20h às 5h e durante todo o domingo, além da adesão ao decreto estadual que antecipou os feriados de São João e Independência da Bahia.

 

Médico, o prefeito também comentou sobre o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina no tratamento da covid-19 e não descartou a possibilidade de receitar os medicamentos em casos específicos. “Apesar da cloroquina e da hidroxicloroquina terem demonstrado resultados positivos em alguns pacientes, sabemos que os efeitos colaterais ainda são muitos. Nesses casos a ciência tem que estar sempre em primeiro lugar”, afirmou.

 

O município tem até esta terça-feira 59 casos de coronavírus, com 19 pessoas já recuperadas. Como o senhor classifica a situação da pandemia em Alagoinhas?

 

Até esta terça-feira, temos um total de 59 casos de Covid-19 confirmados em nosso município, destes - graças a Deus - 19 já estão recuperados e infelizmente tivemos dois óbitos - um senhor de 82 anos e uma senhora de 102 anos. Alagoinhas tem cerca de 155 mil habitantes e uma população flutuante que chega a 200 mil. Como uma cidade de porte médio, acredito que temos controle sobre a situação epidemiológica se compararmos proporcionalmente com municípios menores e até mesmo com a capital. Agora, com a aquisição dos testes rápidos temos contabilizado mais confirmações e através dos dados coletados tomamos as ações cabíveis para controlar a proliferação do vírus.

 

Como o senhor avalia o resultado do toque de recolher anunciado em meados do mês? Com mais da metade dos casos confirmados na cidade já curados, o toque de recolher foi mesmo necessário?

 

Percebemos que nos bairros a população estava afrouxando as medidas de prevenção, deixando de lado o uso de máscaras e até mesmo frequentando bares e quadras poliesportivas. É importante dizer que todas as medidas tomadas em Alagoinhas são feitas a partir da análise do perfil epidemiológico e de dados do município, por isso decretamos o toque de recolher de 20h às 5h e agora também aos domingos durante todo o dia, para que possamos diminuir o alcance do coronavírus.

Estamos fiscalizando diariamente todas as localidades com o apoio de 22 viaturas da SMTT (Superintendência Municipal de Transporte e Trânsito), Guarda Civil Municipal, Polícia Militar de Alagoinhas, policiais da Ceto (Companhia de Emprego Tático Operacional), Defesa Civil Municipal e Exército. Agora, com o aumento do número de casos, tivemos a certeza de que as nossas análises e previsões estavam corretas, por isso também aderimos ao decreto estadual, que antecipou os feriados de São João e Independência da Bahia.

 

Qual a estrutura do município para atender aos doentes? Quantos leitos de UTI e respiradores há em Alagoinhas, nas redes pública e privada?

 

Recentemente inauguramos a nossa UPA, que durante a pandemia será exclusiva para o tratamento de pacientes com a Covid-19, nela possuímos 12 leitos de atendimento primário e 6 respiradores. Contamos também com o Hospital Regional Dantas Bião que possui 12 leitos de média complexidade. Em breve, através da parceria com o governo do estado, o hospital contará com mais 10 leitos que já estão sendo construídos. Na rede privada contamos com o Hospital das Clínicas de Alagoinhas (HCA) com leitos de média e baixa complexidade. Estão em construção no HCA mais 20 leitos que serão exclusivos para pacientes infectados pelo novo coronavírus, a entrega está prevista para daqui a 1 mês. Devido a determinações do governo do estado, pacientes em caráter de alta complexidade devem ser transferidos para os hospitais de referência em Salvador.

 

Em caso de aumento nos casos, o senhor teme que haja um colapso do sistema de saúde do município?

 

Sim, claro, todos temos esse medo, não só aqui em Alagoinhas, em todos os municípios. Mas acredito que com as medidas preventivas que estamos tomando e principalmente com o apoio da população, vamos conseguir vencer a luta contra o coronavírus antes de chegar a esse estágio.

 

Quais as principais ações da prefeitura o senhor destaca para combater a pandemia?

 

Desde fevereiro, quando foram detectados os primeiros casos de Covid-19 no Brasil, a prefeitura de Alagoinhas iniciou um trabalho intenso e precoce de combate ao vírus e principalmente de proteção às pessoas. Decretamos o fechamento de escolas, academias, bares e restaurantes, praças, proibimos eventos, aglomerações, criamos campanhas educativas e veiculamos nos principais meios de comunicação. Instalamos barreiras sanitárias nas principais entradas da cidade, iniciamos uma higienização especial de locais públicos e bairros populosos e instalamos pias em diversos pontos para higienização das mãos. Criamos restrições e normas para o funcionamento do comércio, tornando obrigatório o uso de máscaras para funcionários e clientes. Ampliamos significativamente os investimentos na saúde. Inauguramos a UPA de Santa Terezinha, que durante a pandemia servirá como centro de atendimento a pacientes com Covid-19, bem como adquirimos duas ambulâncias tipo semi-UTI com respiradores, monitores e bombas de infusão. Além disso, em parceria com o governo do estado, em breve alagoinhas terá mais 10 leitos, que estão sendo construídos no Hospital Regional Dantas Bião. Contratamos mais médicos, enfermeiros e demais profissionais de saúde e adquirimos EPI's apropriados para a proteção desses guerreiros. Estamos distribuindo cestas básicas para cerca de 13 mil alunos da rede pública municipal, por um período de três meses; mais de 5  mil kits lanches para usuários dos programas de assistência social; 1,4 mil refeições pelo Restaurante Popular e mais de 10 mil máscaras. Suspendemos o corte de água por 90 dias e isentamos o pagamento de tarifas sociais. Para garantir que todas as pessoas que têm direito ao auxílio emergencial do governo federal tivessem acesso ao benefício, criamos uma força tarefa com equipes de assistência social nos distritos de Riacho da Guia e Boa União; na sede do CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) em Nova Brasília e em Santa Terezinha, no núcleo do Bolsa Família no centro da cidade, no CREAS (Centro de Referência Especializado de Assistência Social) e na Secretaria de Assistência Social, na Rua Severino Vieira, incluindo orientação e organização nas filas dos bancos e casas lotéricas, onde fizemos o fechamento e demarcações das ruas. Já foram atendidas mais de 10 mil pessoas. Adotamos um pacote de austeridade que inclui a redução do meu próprio salário em 25% e dos secretários em 15%. Reduzimos os custos de telefonia, água, luz, combustível, locação de veículos. Suspendemos hora extra, diárias, renegociamos e reduzimos contratos, além de outras ações. No último sábado, em parceria com a rede Bahia, conseguimos arrecadar quase 19 toneladas de alimentos não perecíveis no nosso Drive Thru solidário. Os itens arrecadados serão doados para lares de idosos do nosso município, artistas locais e famílias em situação de vulnerabilidade social.

 

 

Alagoinhas tem recebido pessoas doentes de municípios vizinhos menores e com menos estrutura de saúde?

 

Sim, o nosso Hospital Regional Dantas Bião possui 12 leitos que atendem a 18 municípios.

 

O comércio da cidade tem funcionado de maneira limitada, com lojas de no máximo 200 metros quadrados. O município, mesmo assim, não tem um número grande de casos. O senhor tem uma previsão de quando a situação poderá ser normalizada, caso o ritmo não aumente?

 

Estamos em um momento de aumento exponencial do número de casos, os especialistas já tinham nos alertado que isso poderia acontecer em meados de maio. Pudemos comprovar as teorias com o recente aumento da testagem positiva para a Covid-19 no nosso município. Não temos uma previsão de normalidade, reforço mais uma vez que estamos tomando novas medidas a partir da evolução da situação epidemiológica do Brasil, da Bahia e de Alagoinhas. Torço para que a normalidade venha rápido.

 

Alagoinhas tem uma indústria de bebidas muito forte. Como está esse setor com a pandemia?

 

Por termos a 3ª melhor água do mundo, as indústrias do ramo de bebidas sempre valorizaram a nossa terra. Nesse momento de pandemia todos os setores têm sido afetados, mas os empresários têm se esforçado para continuar produzindo, ao mesmo tempo em que mantêm os funcionários trabalhando, tomando todas as medidas de segurança. Uma indústria chegou a dar férias para boa parte de seus trabalhadores, como medida de prevenção.

 

Como médico, como o senhor vê essa polêmica em torno do uso da cloroquina e da hidroxicloroquina? O senhor receitaria, caso estivesse atuando na medicina, receitaria caso achasse necessário a algum paciente com Covid-19?

 

Como você disse, além de prefeito sou médico e por isso a saúde da população está em primeiro lugar. Nesse momento de pandemia estamos investindo maciçamente em leitos, profissionais e equipamentos. Apesar da cloroquina e da hidroxicloroquina terem demonstrado resultados positivos em alguns pacientes, sabemos que os efeitos colaterais ainda são muitos. Nesses casos a ciência tem que estar sempre em primeiro lugar. Porém, não descarto a possibilidade de receitar em casos específicos, após analisar o quadro do paciente e a sua resposta com outros medicamentos. Vamos torcer para que os cientistas achem logo a cura e a vacina, enquanto isso tomaremos as medidas de prevenção necessárias para achatar a curva.
 

Foto: divulgação. Siga o insta @sitealoalobahia.

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