Maria Marighella fala sobre posse na Funarte e desafios: "Cultura é eixo central de projeto de país"

Eleita vereadora de Salvador em novembro de 2020, Maria Marighella, 47, tomou posse como a primeira presidente nordestina da Fundação Nacional das Artes (Funarte) no último dia 3. O convite foi feito em janeiro pela ministra da Cultura, Margareth Menezes. Atriz graduada pela Ufba, a neta do guerrilheiro Carlos Marighella filiou-se ao PT após uma trajetória como gestora de políticas públicas pela cultura. Maria Mariguella já foi coordenadora de Teatro da Fundação Cultural do Estado da Bahia (Funceb) e da Fundação Nacional de Artes (Funarte), e Diretora de Espaços Culturais da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (Secult-BA).

A Funarte é responsável por fomentar as diversas formas de arte e cultura no país e está ligada ao Ministério da Cultura, recriado no Governo Lula. A ministra Margareth Menezes reforçou que o momento é de retomar a importância da pasta e de seus órgãos colegiados depois do que ela chamou de processo de desmonte. Ao Alô Alô Bahia, Maria Marighella falou sobre os desafios à frente da Funarte e sobre os desafios da Cultura para a cidade de Salvador. Confira a entrevista:

Alô Alô Bahia: Como foi feito o convite e o que essa nova missão representa pra você?

Maria Marighella: Desde a transição, nos fazíamos parte desta frente da cultura para refundação do Ministério da Cultura, símbolo da redemocratização em 1985. Entendíamos que as responsabilidades deveriam ser partilhadas para superar os problemas deixados em um Brasil sob ataque. Estávamos na Funarte construindo a Política Nacional das Artes, naquele 2016, e saí no mesmo dia em que a presidenta Dilma Rousseff foi afastada. Quando estive com a ministra Margareth Menezes, sabia que não era apenas um convite, mas um chamamento, uma convocação. Assumir a presidência da Funarte é um grande desafio e uma grande alegria e oportunidade.
 
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AAB: Qual a importância da Funarte no momento em que vivemos?

MM: A Cultura foi duramente atacada no governo Bolsonaro, que teve como uma das primeiras medidas ao ser eleito rebaixar o Ministério da Cultura a uma secretaria especial. Depois do rebaixamento institucional, vieram os ataques aos artistas, censura, exposição. Bolsonaro fez uso do aparato do Estado para, em vez de promover cultura e proteger, fazer dela um alvo. A atuação na Funarte deve, portanto, trabalhar também na perspectiva da regeneração de um campo amplamente atacado. Pretendemos garantir à Funarte, em seu processo de refundação, o espaço institucional necessário para que seja a articuladora federal do trabalho conjunto entre o setor artístico-cultural e os gestores públicos de cultura nos estados, Distrito Federal e municípios.  

AAB: Quais objetivos e metas você traça para a Fundação? 

MM: Essa gestão da Funarte tem como principal desafio retomar a construção e a implementação da Política Nacional das Artes, de modo estruturante, duradouro e que responda às mais diversas expressões artísticas e territórios do país. Essa tarefa só será cumprida em articulação com Estados e Municípios por meio da construção de um Pacto Federativo do Fomento às Artes. No âmbito das responsabilidades da própria Funarte , a difusão nacional e internacional das artes é, sem dúvida, a maior prioridade. É também parte do horizonte futuro da Funarte o fomento a esses elos estruturantes da rede produtiva das artes.
 
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AAB: Em relação a Salvador, como você avalia o cenário cultural da cidade? O que precisa ser melhorado e como isso pode ser feito? 

MM: Embora exuberante, precisamos ter a cultura como um eixo central de um projeto de cidade e de país. A pasta da cultura merece um locus institucional próprio e desvinculado do turismo para exercício pleno de suas dimensões econômica, simbólica e cidadã. A cultura de Salvador tem a potência da nossa gente. É plural, viva. Temos uma multiplicidade de manifestações nos diversos territórios da nossa cidade. São trabalhadoras, trabalhadores, fazedoras e fazedores de cultura que fazem da nossa cidade o que ela é. Precisamos que Salvador garanta institucionalidades, orçamento e políticas à altura da sua cultura.

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