‘Fotógrafo, Publicitário e Sonhador’: conheça Ivo Tavares, artista visual que registra em vídeos a poesia de Salvador

É jornalista, repórter e escreve para o Alô Alô Bahia | @tooonho.

Se você gosta de ver vídeos curtos, os reels do Instagram, provavelmente já esbarrou em algum conteúdo feito por ele. Ivo Tavares, 28 anos, é um artista audiovisual soteropolitano e cria publicações que celebram a cultura, a poesia e as belezas de Salvador.
 
Ao Alô Alô Bahia, Ivo contou sobre suas origens, inspirações, planos para o futuro e como seus conteúdos viralizaram nas redes sociais.

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“Nasci lá no final de linha da Capelinha, bairro periférico de Salvador. Por um tempo, tive vergonha de dizer isso, mas hoje digo com orgulho: foi de lá que eu saí, foi lá que eu fui criado. Morei até os meus 27 anos e é um lugar efervescente culturalmente”, conta, listando uma série de atrativos culturais e característicos do lugar, sem esquecer dos problemas estruturais da região.
 
“Tem a Capelinha do Forró, que é um sucesso, quem não sabe o que é, procure saber”, brinca. “Foi de Capelinha que saiu a Harmonia do Samba. É lá que tem o Picolé Capelinha, o melhor picolé que existe na Bahia. E tem muitas outras pessoas e personalidades locais que dão o tom e o ritmo do local. Apesar de ser um lugar marginalizado e descartado pelas políticas públicas e que tem uma estrutura de urbanismo péssima para quem vive lá”, diz.
 
Para ele, o lugar onde nasceu e cresceu é parte fundamental de sua identidade - e do seu trabalho.
 
A fotografia entrou na vida do publicitário em 2016, no mesmo ano em que ele começou a faculdade. E por meio de uma grande referência: a também fotógrafa baiana Amanda Tropicana. “Ao trabalhar com Amanda e admirar muito o trabalho dela na fotografia, que é um fotojornalismo muito conectado com Pierre Verger e fotógrafos clássicos daqui, ela me incentivou e me inspirou bastante. Depois disso, fui caminhando por outros lugares, conhecendo outros artistas e me inspirando e moldando minha forma de produzir a minha fotografia, a definir o meu olhar fotográfico”, relembra.
 
O ingresso na faculdade de Comunicação foi, também, um momento de descobrir lugares em Salvador. Essa descoberta veio acompanhada dos primeiros registros. “Na época que eu comecei a fazer a faculdade, eu comecei a circular por Salvador com mais liberdade, com mais conhecimento para todos os novos lugares e eu comecei a fotografar com o celular, principalmente dentro de ônibus. Depois disso, fiz uma formação, juntei dinheiro junto com minha mãe pra poder comprar uma câmera e dei início a essa grande paixão, que hoje é meu principal combustível: a fotografia”.
 

“Tenho a fotografia como o eixo central de minha arte. Óbvio que ela está diretamente conectada com o áudio visual, até porque a fotografia vai além de um registro, de um retrato, de uma foto em si. Fotografia está na gravação de um vídeo, no cinema, na novela, em formas que a gente nem imagina. E foi estudando isso que entendi a abrangência dessa arte que eu amo tanto”, conta.
 
Inspiração
 
A relação com o território, seja o local ou a própria cidade onde mora, é um fator de grande influência no trabalho de Ivo. E tudo começou com a observação das características do bairro onde cresceu. “Enquanto eu morava na Capelinha, meu principal motivador e inspiração eram as pessoas e aquele lugar. Eu queria registrar aquela realidade, compartilhar com a sociedade o dia a dia de um lugar periférico que tem seus desafios, que tem seus problemas, mas que também tem sua beleza no seu cotidiano, na sua rotina. E assim eu fiz. A partir do momento em que me mudei para outro lugar da cidade, passei a registrar também essa outra realidade, também a beleza das pessoas, mas em novos lugares. E aí eu passei a pensar de uma forma diferente também, esses roteiros e essa forma”. 
 
Entre essas novas formas, surgem os reels, os vídeos curtos do Instagram. Embora continue se apresentando como fotógrafo e ainda ame a fotografia tradicional, Ivo se entregou à nova linguagem. “Minha maior concentração de trabalho e esforço está justamente na captação, roteirização, edição e postagem dos meus vídeos. E essa ideia veio de outras fontes artísticas com as quais tenho muita conexão:  a música e o cinema”.
 
Nesse momento, Ivo conta que se deparou com formatos que já existiam e circulavam nas redes. “Reels de música já tinha várias pessoas fazendo, com trechos de cinema também. E não era o que eu queria fazer. Até fiz por um tempo influenciado pelo que diziam os indicadores de algoritmo, que daria engajamento. Mas não funcionou comigo", relembra.

Em busca da linguagem que melhor representasse sua arte, Ivo uniu as paixões: cinema, música e, claro, fotografia. “Aí comecei a unir poesia, trechos, falas que pra mim são emblemáticas, seja de um filme, de uma entrevista ou de uma conversa, com músicas que se conectam com essa fala inicial. E assim eu criei, defini a minha forma artística de me expressar através dos reels. Normalmente, o meu reels  é pensado a partir da música. Depois vou em busca da frase complementar e aí faço o casamento com as imagens que registro ao longo da semana, saindo por Salvador”, contou.
   
Repercussão
 
Para o artista, a viralização de seus trabalhos nas redes transformou sua própria percepção sobre arte e beleza. “A fotografia, a minha arte, me deram a possibilidade de ver de uma forma diferente a realidade da minha cidade, sem olhar apenas para os pontos turísticos. Eu vivia muito na bolha da minha comunidade, tinha uma certa rejeição às dificuldades daquele lugar, e não quero dizer que encontrei uma forma de ver beleza no problema. Construí uma forma sensível, delicada, de exibir, expor e compartilhar a realidade desse lugar que é marginalizado, que não é notado nem percebido, que não aparece em capas de jornais quando se fala de coisas boas. E comecei a trazer a beleza desse povo, dessa cultura, essa vista”.
   
Segundo Ivo, o trabalho começou a viralizar durante a pandemia de Covid-19, mas apenas de forma pontual. “Alguns trabalhos tinham destaque, mas isso não se revertia em uma sequência de conteúdos engajados ou em um volume grande de seguidores”. Foi com a consolidação do estilo autoral que o engajamento começou a ganhar volume nas redes. A trilha sonora da cantora Maria Bethânia ajudou no processo, conta. 
 
Nas redes sociais, os números de visualizações, curtidas e comentários dos reels poéticos de Ivo impressionam. Inclusive, ele comenta, contrariando a lógica tradicional das fórmulas de engajamento. “Um dos vídeos com maior repercussão do meu perfil foi feito com a junção de uma fala de um filme que cita Bethânia e com uma música dela. Este vídeo me recompensou desde o momento da concepção criativa”. 
 
“Esse é um dos que foram de encontro ao que dizem sobre vídeos curtos serem ‘melhores’ para engajamento. Esse material já acumula mais de 1.3 MI visualizações, mais de 90 mil curtidas e mais de 15 mil compartilhamentos e a conta ainda continua, pois esse vídeo recebe interação quase que diariamente desde a sua publicação”, contabiliza. Entre as interações, uma ilustre chama atenção. O perfil de Maria Bethânia, de quem Ivo é fã, curtiu o vídeo e deixou um comentário.
 
“Outro trabalho simbólico e que teve ótima recepção é um vídeo que fiz dedicado às minhas amizades e o conteúdo acabou virando corrente de compartilhamento entre amigos. São mais de 100 mil curtidas e mais de 40 mil compartilhamentos. Se cada pessoa que compartilhou apenas este vídeo estivesse no mesmo lugar, eu lotaria a Fonte Nova”, exemplifica. 
   
Entre celebridades que curtem o trabalho de Ivo e já o parabenizaram pela arte, o fotógrafo cita as baianas Monique Evelle e Rita Batista. “São dois nomes de pessoas que eu admiro bastante, entre muitas outras que estão conhecendo meu trabalho e me impulsionando a continuar fazendo e crescendo também”.
 
Nem tudo são likes e comentários nos vídeos. Um  dos trabalhos citados por Ivo como um de seus preferidos é uma fotografia carregada de simbologia e significado.
   
“Essa é a foto da minha vida. Esse trabalho, que chamo de ‘o voo’, não foi selecionado em nenhum prêmio, não chegou em grandes veículos e só foi comercializado em quadro uma única vez. Mas ela tem uma singularidade rara, e um significado extremamente especial pra mim. Além de ser minha foto preferida entre todas, eu a fiz num dia que pensava em desistir da carreira artística e esse clique veio como um recado de Deus para que eu não parasse”. 
 
“Já ganhei algumas vezes o título de melhor clique da semana por uma das maiores marcas de câmera fotográfica do mundo, a Canon. Durante a pandemia, meu trabalho foi selecionado pela curadoria do portal Mídia Ninja, e minha foto foi projetada em prédios e ocupações do Brasil inteiro, junto com outros artistas incríveis também. Além disso, eu passei a ter contato com pessoas que eu admirava de longe e devo tudo à minha arte”, reconhece. 
 
Futuro
 
Ivo, que planeja, roteiriza, fotografa e edita sozinho os reels que publica, confessa não ter metas rígidas para 2024. “Quero sempre que o próximo vídeo surpreenda, chegue em pessoas novas e que muita gente seja tocada por minha arte, quero que elas se encantem”.
 
Entretanto, revela alguns desejos. “Faço meus vídeos com músicas que escuto de verdade  e que fazem parte do meu dia a dia. Acredito que a vida tem trilha sonora e as músicas que compartilho nos meus vídeos são trilha sonora da minha vida. Então, eu quero que Ivete Sangalo veja os vídeos que eu fiz para ela, quero que Caetano Veloso assista, goste e me chame para ir no samba na casa dele. Quero ser notado por essas pessoas e fazer parte disso”.
 
“E que 2024 seja só o início de uma fase de crescimento da minha arte”, finaliza. Como em anos anteriores, Ivo fez um vídeo especial para celeberar o dia de Iemanjá, festa tradicional na Bahia. E, como não poderia deixar de ser, a trilha sonora fica por conta de Maria Bethânia.
 
Fotos: Reprodução/Instagram. 

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