Diretora-executiva do CORREIO faz balanço sobre os rumos dos negócios de jornalismo e planos para 2021

 No último Segundou do ano, o publicitário Joca Guanaes recebeu nesta segunda-feira (28) a empresária Renata de Magalhães Correia, diretora-executiva do CORREIO, para entender como a pandemia mudou os rumos dos negócios de jornalismo e quais são os projetos para o veículo em 2021. A gestora contou ainda sobre sua experiência e trajetória pessoal à frente deste jornal líder em audiência digital não só na Bahia, mas também no Norte e Nordeste do país. 

Joca Guanaes: Você é mulher, tem uma diretora comercial mulher, que é Luciana Gomes, uma diretora de redação, Linda Bezerra, e uma diretora de marketing, Marta Souza, todas mulheres. Ou seja, você traz em sua administração um exemplo de empoderamento feminino. O que vejo, na maioria dos jornais, é um Clube do Bolinha. Uma característica do Correio é a marca feminina e é um sucesso de audiência.

Renata Correia: Sem dúvida nenhuma, as mulheres fazem parte do Correio. Hoje, nossa gestão tem a presença feminina de forma muito contundente. Não foi algo planejado, surgiu pela capacidade e pelo desempenho que essas mulheres foram apresentando ao longo da minha gestão. Sem elas, não estaríamos hoje aqui e não teríamos alcançado esses resultados, seja na nossa audiência, seja em projetos inovadores. O Correio é muito plural, não só em relação à presença feminina, nós somos multi-raciais, multi religiosos. Porque a Bahia é isso. Se o Correio é a Bahia, tem que estar traduzindo isso. Acho que a gente consegue, de fato, que quem se relaciona com o Correio, seja nossos leitores, parceiros comerciais, nossos colaboradores, tenha esse sentimento de que é um jornal plural, que dialoga com vários públicos e que consegue traduzir a miscigenação da Bahia. Eu acredito que é a mistura que faz com que dê certo: homens, mulheres, brancos, negros, católicos, protestantes, do candomblé. 

Joca: É comum a gente ver isso no discurso, mas não vê na prática. Muita gente fala de empoderamento, de movimento racial, de religiões. 

RC: O que eu digo à minha equipe é que não adianta a gente ficar no discurso. A gente precisa entregar atitudes. É mais importante entregar um projeto como o Afro Fashion Day do que apenas discutir a inclusão do negro. De forma enfática, a gente precisa valorizar o que nossa cultura tem de forte, do que fazem de belíssimo, do que eles têm de talento e muito mais do que só escrever. A verdade se apresenta quando ela acontece e só acontece com fatos.

Então, digo sempre à minha equipe para que tenham esse papel pleno de multiplicidade racial, política, religiosa, mas que isso se concretize na atitude do dia a dia. Se isso for concretizado, todos perceberão: os parceiros, os leitores, os colaboradores. Há 15 dias, fazendo um balanço do ano, falei que um dos nossos objetivos para 2021 é, cada vez mais, traduzir a pluralidade do Correio. Não apenas levantar uma bandeira. Muitos levantam, mas defender uma causa, ser transparente com ela e mostrar que se é, de fato, plural é uma atitude do dia a dia.

JG: Você leva a comunicação e o empreendedorismo no sangue. É neta do falecido político baiano Antônio Carlos Magalhães, que foi ministro das Comunicações do Brasil, e filha de ACM Júnior, que é presidente do conselho de administração do conglomerado de empresas de comunicação intitulado Rede Bahia, e sua mãe, Dona Rosário, faz um trabalho social de empreendedorismo na periferia. Você tem o DNA paterno e o materno. Quando você percebeu que essa era sua vocação?

RC: Minhas referências familiares são muito importantes na minha formação, em quem eu sou hoje, nas minhas escolhas pessoais e profissionais. Meu avô deixou um legado de amor à Bahia, foi um comunicador nato, um exemplo de inspiração. Eu acabei optando por seguir a carreira de meu pai, sou administradora de empresas de formação. Quando fui escolher minha profissão, eu tinha dito que queria ser publicitária, e meu pai me disse que eu poderia trabalhar com comunicação sem ser publicitária e que a administração me daria uma visão maior, mais ampla, e me proporcionaria mais caminhos a seguir. Eu optei por seguir os passos dele.

Comecei com agência de publicidade aos 18 anos, ainda estudante, e trabalhei desde cedo, experimentei desde cedo. Comunicação é envolvente, encantadora e vai lhe puxando para esse universo. Eu experimentei outras áreas, trabalhei em outros lugares, como Odebrecht, Vivo, mas acabei voltando e vim ser o braço direito do meu pai. Minha mãe me deu um exemplo de força de mulher, importante para conduzir e tomar atitudes corretas, e também o meu irmão, que é um exemplo de gestão para a cidade e mostrou sua competência com aprovação lá em cima no fim do mandato. Então, eu me orgulho da família que tenho, das minhas origens.

Hoje, além de ser diretora do jornal, faço parte do conselho de administração da Rede Bahia, com meu pai, e a gente olha para a comunicação com paixão e projetando o futuro porque é um setor que está com efervescente transformação com a digitalização. Todos os meios de comunicação estão tendo transformações significativas e, para isso, a gente tem que estar se preparando para o futuro para que a gente possa acompanhar e sempre estar à frente. Sempre fomos vanguardistas como exemplo de ser diferente, de ser inovador na comunicação, então continuamos com esse projeto de seguir com as transformações. 

JG: Você nasceu de uma família de líderes políticos e você é extremamente low profile, discreta. Você está com 40 anos e na sua gestão manteve o jornal líder não apenas na Bahia, mas também no Norte e Nordeste num ano de pandemia, em que o mundo quebrou e que o mundo digital transformou todos os negócios. Qual o desafio de conduzir um jornal líder em audiência?

RC:
Desde que eu assumi o jornal, eu trouxe um time para perto de mim. Sozinho você não alcança resultado nenhum. O time de gestores do jornal são meus braços direitos. A gente tenta antecipar e acompanhar as transformações. O meio impresso vem passando por uma transformação muito grande por causa do digital, da sustentabilidade que a mídia impressa tem dificuldade de alcançar por diversos fatores. A gente tenta trazer inovações no digital e por isso a gente é líder no impresso. Com muito esforço, porque a gente entrega o que o leitor quer ler. A gente consegue traduzir a linguagem moderna, que combate a fake news, que dá um leque de oportunidades para tirar suas próprias conclusões.

Esse tem sido nosso papel na linha editorial do jornal. Nossa liderança é contundente porque a gente consegue se atualizar, temos redes sociais atuantes, trabalhamos com grupos de WhatsApp, conseguimos fazer projetos que, mesmo com essa pandemia, conseguiram, com uma velocidade grande, se adaptar ao mundo digital. O Agenda Bahia é um projeto nosso consolidado, junto com o Afro Fashion Day e uma série de projetos. Somos uma referência para leitores, parceiros e anunciantes. Eles sabem da nossa qualidade no conteúdo. O que a gente sabe fazer é informação e é por isso que a gente tem essa audiência. 

Joca: A administração é uma área ainda monopolizada por homens. Você é administradora e, além disso, é administradora de um jornal. Como é isso numa família que sempre foi muito comandada por homens? Você sofreu preconceito?

RC:
Eu 'sofri' estímulo, um estímulo muito grande de meu pai. Sempre me apoiou e me deu desafios porque reconhecia que eu podia entregar. Considero que sou o braço direito dele na administração das empresas, já que meu irmão fez uma escolha diferente, e foi para a política. Num ambiente empresarial, ainda é predominante o sexo masculino. Na maioria das reuniões, dos conselhos que participo, há uma predominância masculina, mas já vejo [mudança] nos jornais.

No Paraná, a RBS é muito liderada por mulheres. É um movimento que acontece também no Ceará, com a Luciana, no Correio do Povo, a Ana Amélia no Paraná, a gente tem uma força feminina mais ativa e presente. Eu nunca tive na minha experiência algo que causou uma situação constrangedora. A gente tem que ter autoconfiança e acreditar que é capaz. Se a gente está ali é porque é capaz de estar e entregar. Não temos que nos preocupar com o que acham da gente. Se acho que sou capaz e que estou ali por merecimento, não tem por que se preocupar e se contaminar com opiniões e preconceitos por faixa etária, por ser mulher, por orientação sexual, política, enfim. Com a sua confiança, e se você está ali por merecimento, certamente você vai ser respeitado.

JG: Sua mãe, Dona Rosário, tem um trabalho significativo como presidente de honra do Parque Social. Qual a influência da sua mãe na sua vida? 

RC: Há oito anos, quando ACM Neto assumiu, minha mãe disse que não queria assumir um papel de ser assistencialista, queria transformar vidas e transformar vidas é mostrar para as comunidades como elas podem se desenvolver. O empreendedorismo é o que você não dá o pão, e, sim, o que ensina a fazer. O trabalho dela foi pioneiro em Salvador em levar isso para as comunidades. O jovem precisa estar inserido nesse mercado porque ele é o futuro, é o agente transformador da comunidade. Eles precisam encontrar a forma de fazer. Minha mãe é inquieta e quer ver essa transformação chegar de forma estrutural. Isso passou para mim. Ela é um exemplo de força e trabalho, nunca a vi não trabalhar. 

JG: Estamos vivendo a maior crise na história do mundo, milhares de pessoas morreram, e tem uma transformação na comunicação acontecendo, que está impactando televisão, jornal, rádio. Como foi direcionar a empresa na pandemia e que ganhos como empresária e administradora você teve esse ano?

RC:
Em março, se você me perguntasse o que íamos fazer, honestamente eu ia te dizer: "Não sei". Quando a gente foi surpreendido, que tudo ia ter que fechar e ter que transformar a forma de trabalhar, foi algo que assustou bastante e criou uma instabilidade grande, para a gente não foi diferente. Com calma e paciência, você chega onde precisa. A gente teve que transformar o conteúdo e projetos. Deixamos de ter os conteúdos tradicionais fortes, a pandemia tomou o noticiário, teve que partir mais para o digital porque os assinantes se sentiam inseguros de manusear o impresso, então tivemos o cuidado de ensacar os jornais. Tivemos que transformar nossos projetos que aconteceriam de forma presencial, apoiamos a cultura, a gente fez lives de forró para apoiar a um setor que foi mais afetado, a gente teve que partir para novos formatos antes não experimentados. O Agenda Bahia virou virtual através de lives.

Logicamente, tivemos que ser austeros internamente, com reduções de jornadas, nas despesas porque não ia ter o mesmo patamar de receita. O Segundou também é um dos resultados que veio da necessidade de outros conteúdos porque a gente já não aguentava mais só ouvir sobre pandemia. Fomos vitoriosos, dentro do que poderia ser. A gente tem que agradecer por estar com saúde e conseguindo manter os empregos porque é uma responsabilidade do empresário com as famílias que a gente tem que dar suporte. Fico feliz de ter chegado ao fim de 2020 tendo superado as dificuldades. 

JG: As marcas e jornais têm papel fundamental contra as fake news. Como o jornal trabalha para manter a confiança do leitor?

RC: A gente busca mostrar os fatos da forma como acontecem. Nossa audiência tem esse patamar justamente pela nossa credibilidade. Temos profissionais qualificados e renomados no nosso time. A gente tem um trabalho de checagem de notícias falsas. Então, nosso leitor reconhece isso. Nossa audiência é resultado da nossa credibilidade e do combate à fake news. O papel do jornalista hoje é importante no mundo porque na internet você tem acesso a todo tipo de informação, então tem o papel relevante de criar uma sociedade justa e igualitária e que possa não ser contaminada por informações falsas que são um desfavor à sociedade.

JG: Como é conduzir um jornal que pertence a uma família de políticos mantendo a isenção necessária para que o jornal tenha credibilidade?

RC: Esse modelo de que famílias com políticos tinham vínculo com os meios de comunicação foi uma política de um momento passado na história do Brasil. Hoje, nenhum leitor aceita e nenhum político vai conseguir ter sua credibilidade utilizando-se de veículos de informação. São ambientes separados. (com informações do CORREIO)


 

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