Cresce 98% o número de pesquisas por transtornos mentais na internet

A saúde mental das pessoas está pedindo socorro. Essa é a constatação de uma preocupação silenciosa, mas bastante preocupante, que se emerge em meio a pandemia: cada vez mais pessoas estão buscando informações sobre transtornos mentais na internet.

Recentemente, o jornal “Estado de São Paulo” publicou que o Google notificou o aumento de 98% das buscas por temas sobre transtornos mentais. São quase 8 meses que muitos se isolaram pela pandemia e é possível constatar que a maioria das pessoas sofreu mudanças radicais em suas rotinas.

Síndromes mentais invadem 2020 com a força de um ciclone. Essa afirmação é do neurocientista e psicanalista luso-brasileiro Fabiano de Abreu, que conversou com o Alô Alô Bahia sobre o tema. 

Quadros de ansiedade, depressão e pânico aumentaram em todo o planeta, e no Brasil não foi diferente. Como e por que isso aconteceu?
A pandemia atravessou fases. A primeira delas foi o fator surpresa e o medo do contágio, que nos levou ao distanciamento social para prevenir a disseminação do vírus, logo em seguida veio o medo da quebra da economia e de não conseguir viver com dignidade”, enumera Abreu. Esses fatores se somaram aos longos períodos de confinamento e convivência familiar, com as crianças sem poderem ir à escola, tendo aulas online. Logo surge também a preocupação sobre o ano escolar dos filhos, se de fato estão aprendendo como devem. 

Você acha que esse aumento na busca por transtornos mentais na internet prova que a pandemia veio para acentuar os problemas já existentes na sociedade? 
Antes do vírus aparecer, as nossas vidas já estavam muito atribuladas, a saúde mental já vinha sendo discutida por conta do aumento dos índices de depressão no mundo todo. O que mudou é que o estado constante de alerta alcançou níveis insuportáveis para milhões de pessoas e começaram a falar sobre isso muito mais intensamente. Além disso, o adoecimento mental, psicológico e emocional foi revelado, nos deixando a mercê de síndromes que até então pouco líamos a respeito, só se tivesse afetando a nós de alguma maneira ou aos nossos parentes e amigos próximos.

Quais foram os prejuízos do isolamento para a saúde física e mental?
As pessoas estão mais sedentárias, não se preocupam em receber boas doses diárias oriundas do sol, de vitamina D e, por causa da perda do convívio social, estão cada vez mais deprimidas, ansiosas e com insônia. Sendo assim, acabam procurando muito mais por assuntos sobre transtornos nas páginas de busca na internet.

A internet também está tendo um papel importante na divulgação de informações e compartilhamento de experiências. Não é?
Sim. Globalmente uma grande dor está sendo compartilhada, inclusive por quem nunca havia sentido qualquer problema semelhante antes. Assim, a importância de estarmos organizados mentalmente refletiu em nossa rotina de forma direta, pois os conteúdos internos começaram a emergir sem filtros, atravessando o comportamento e nos limitando as ações práticas. O que era interno e invisível passou a ser externo e visível. Basicamente, agora estes problemas vieram à tona, a pandemia jogou luz a assuntos que estavam embaixo do tapete.

Isso quer dizer que nós, seres humanos - independentemente da pandemia - ainda temos que trabalhar muito a inteligência emocional?
Os que buscaram desenvolver os seus recursos internos emocionais estão sabendo lidar melhor com a situação atual. Não é possível ter saúde sem que a mente esteja sã, portanto deverá haver uma percepção maior da importância do psicológico, do emocional com a saúde em dia. Todos verão que uma vida de qualidade se faz urgente. O nosso código genético não está pronto para mudanças tão abruptas. Nascemos para sobreviver e estamos utilizando instintos para a sobrevivência, como a ansiedade, por exemplo, para variadas metas de curto prazo que nos viciaram e nos tornaram dependentes em dopamina (hormônio da recompensa). Ele serve apenas como uma motivação natural para nos impulsionar a conquistas para a própria sobrevivência, mas hoje está sendo canalizado em vários aspectos desnecessários.

Foto: Divulgação / MF Press Global. Siga o Insta @sitealoalobahia.

NOTAS RECENTES

TRENDS

As mais lidas dos últimos 7 dias