12 Nov 2014
Conheça Kiolo, o homem que transforma fotografia em arte moderna
Tamyr Mota: Como e quando nasceu a vontade de capturar imagens e transformá-las em arte?
Lucas Ferraz – Kiolo: Sempre gostei muito de desenhar e isso me levou a fazer faculdade pra design gráfico. No curso, tinham várias disciplinas que complementavam os meus interesses, a fotografia foi uma delas. Minha mãe sempre gostou muito de fotografia também e acredito que o dom esteja no sangue, juntou o hereditário com o técnico que aprendi na faculdade! Agora transformar fotografia em arte é exatamente a forma como eu vejo as coisas, eu enxergo enquadrado, fico atento a tudo: simetrias, "encaixes", formas alinhadas, geometrias, texturas em evidência, contraste de cores e acredito que todas essas percepções juntas formam um resultado artístico.
TM: Qual a fotografia que lhe deu maior trabalho para ser feita?
Kiolo: Não tenho uma foto especificamente. Acho que as fotos mais difíceis são quando envolvem ser humano. Eles têm expressão e vontade própria. Registrar pessoas e colocá-las da forma como o fotógrafo imagina é bem complicado. A fotografia de moda, por exemplo, exige uma série de detalhes necessários para que o resultado fique extraordinário. Além do talento do fotógrafo e da sua ótica, ainda precisa de make, cabelo, figurino e acima de tudo, beleza e disposição do (a) modelo.
TM: A Bahia inspira? Quais outras cidades e estados lhe arrancam inspiração?
Kiolo: A Bahia é uma fonte de inspiração inesgotável. Aliás, o Brasil também! Nós (brasileiros), por uma insatisfação econômica e política com o país, acabamos olhando muito pra fora como se tudo em outro país fosse melhor e mais legal, mas acredito muito no nosso país. Aqui temos paisagens incríveis, temos um povo acolhedor, temos fauna, flora, turismo, eventos, cultura, música e muita coisa a ser explorada. Ainda quero conhecer cidades com culturas tão ricas e cenários tão lindos, como a Bahia. Natal, Alagoas, Fortaleza, Belém, Manaus e muito mais. Quando o assunto é "MUNDO", acabei de voltar de Nova York, onde fiz fotos dos mais variados cenários e elementos. NY tem tudo em um só lugar! Na Europa, amo Roma e Paris, um infinito de possibilidades.
TM: As cores na arte e na fotografia deixam um espaço mais...
Kiolo: ...alegre e com personalidade. A fotografia em preto e branco é mega conceitual, mas tenho um estilo mais puxado pro colorido. Acho que até pela formação e trabalho cotidiano com o design, existe em mim um apreço muito grande pelas cores.
TM: Em suas andanças, o que mais já chamou atenção das suas lentes?
Kiolo: Costumo dizer que tudo o que gosto muito, acaba virando uma série. Adoro registrar fachadas de casas de interior, bicicletas, portas, carros antigos e detalhes como para-choques, rodas, retrovisores, curvas de chaparia, etc.
TM: Algum ritual antes de começar a fotografar?
Kiolo: Gosto de fotografar quando estou tranquilo, sem nada pra resolver e sem pressão de entregar algum outro trabalho. O principal ritual é não ter nada na cabeça e deixar os olhos capturarem tudo sem limite. Minhas melhores fotos foram feitas na tranquilidade de não TER que fazer aquilo. É claro que quando tem um job comercial e preciso registrar elementos pré-definidos, já chego focado e faço o meu trabalho. Mas quando se trata de foto artística, basta um belo dia ao nascer do sol ou quando ele se põe. Gosto das luzes menos intensas...
TM: O Brasil é um país que respira arte?
Kiolo: Sem dúvida! O Brasil tem música, cinema, teatro, fotografia, escultura, dança, canto, tem tudo. A arte está por toda parte, não só no que se diz respeito ao que está claro que é arte, mas também no subjetivo! Um belo prédio cortando o céu é arte feita por um arquiteto. E assim vai...
TM: Ter seu trabalho na Casa Cor Bahia (em Salvador e Ilhéus) tem lhe rendido bons frutos?
Kiolo: Sim! Como todo artista, gosto muito de ver meu trabalho contracenando com outros elementos e isso é muito gratificante. Daí surge a venda, o contato e a divulgação. Poder participar de mostras do mesmo segmento, porém com personalidades distintas, me dá a possibilidade de mostrar como o meu trabalho é versátil. Na Casa Cor Salvador, no ambiente de Eliane e Laís Kruschewsky, as fotos expostas são texturas, estruturas metálicas e elementos "frios". Já no ambiente de Roberto Leal Neto, a temática é hipismo. Minhas fotos são de cavalos, elementos do esporte, obstáculos das provas, textura do pelo de animal, rodas de carroças e por aí vai. Na Casa Cor Ilhéus é uma exposição coletiva, tive autonomia pra escolher o que eu queria, então usei fotos mais vernaculares, fotos modernas como as recém-capturadas em Nova York e até uma foto de sombreiros coloridos que fiz na Feira de Design de Milão no ano passado. Coisas completamente diferentes feitas pelo mesmo autor.
TM: Qual sua fotografia mais memorável?
Kiolo: Como falei anteriormente, na feira de Milão, fiz uma foto de uma bicicleta branca encostada em uma parede branca. Até então nada demais, mas a bicicleta era retrô com elementos em couro e metal o que deu um aspecto super bonito. A parede tinha uma textura meio rugosa contrastando com a superfície lisa da bicicleta e isso resultou num conjunto lindo. O carinho que tenho por esta foto é que ela foi a primeira foto que vendi e já fiz umas 3 ou 4 repetições, inclusive a maior delas foi adquirida por Cláudia Leitte, através da Galeria Goca Moreno, no shopping Paseo Itaigara.
TM: A beleza humana não chama sua atenção para a fotografia?
Kiolo: A minha carreira como fotógrafo é nova se comparada com a carreira como designer. Nunca tive a oportunidade de fotografar gente e, sinceramente, não sei se tenho tato pra isso. Mas tenho me permitido fotografar de tudo e recentemente até fiz uma fotografia comercial para uma empresa de Táxi Aéreo. Nunca tinha feito, fui lá experimentar e o resultado ficou bem legal. Se um dia rolar de fotografar a beleza humana, estarei a postos para experimentar.
TM: Quais são os nomes da arquitetura e da decoração que lhe arrancam admiração?
Kiolo: Muitos! Na arquitetura e decoração, gosto muito de David Bastos, Isay Weinfield, Roberto Migoto, José Ricardo Basiches, Índio da Costa, Dado Castello Branco, e etc.
Fotos: reprodução.