Alô Alô Bahia entrevista a bioconstrutora Monique Reis

Monique Reis é Engenheira Civil e Bioconstrutora com especialização em sistemas de instalações prediais. Trazendo a sustentabilidade em pauta, a sua atuação profissional visa contribuir para que o desenvolvimento proporcionado pela construção civil aconteça com o menor impacto negativo possível para o meio ambiente. Confira a entrevista:


Alô Alô Bahia: O que te despertou o interesse em trabalhar nesta área da bioconstrução?

Monique Reis: "O planeta entrou em déficit de recursos naturais em 1970. Desde então, a humanidade tem consumido mais do que o planeta consegue regenerar". Esse trecho foi retirado da G1, notícia que traz a sobrecarga da Terra, o planeta atingiu o esgotamento de recursos naturais no dia 29/07/19. Precisamos de 1,75 Terras para alimentarmos o nosso consumo. Se não começarmos a reeducação dos nossos hábitos e atitudes, a natureza nos mandará uma conta que não conseguiremos pagar. A bioconstrução é um dos nossos novos hábitos necessários. Nela, o respeito com os materiais necessários à construção são retirados de locais próximos e sem a tanta exploração. Existe o estudo da paisagem e do usuário, a sua moradia não é isolada de onde você vive. Tudo está integrado, o sistema é fechado. A energia que entra se multiplica, compostagem, saneamento ecológico, integração com animais, autoconstrução e respeito ao materiais da nossa Terra. Tudo isso me despertou.


Alô Alô Bahia: A bioconstrução é caracterizada pela utilização de técnicas e materiais mais sustentáveis. Como você enxerga o atual cenário desse mercado no Brasil e quais são as perspectivas de futuro? Este é um mercado acessível para grande parte da população?

Monique Reis: Na verdade, eu não enxergo como um produto para o mercado de trabalho. É também. Mas o que eu busco disseminar é o despertar que eu tive. Conheço casas que foram construídas por menos de 500 reais. Terra para construção retirada do local, telhas reaproveitadas de outra casa que foi demolida, estrutura do telhado feito da mata ao redor do terreno, fundação de pedra, sem nenhum cimento e por aí vai... no entanto, quantas pessoas você conhece que tem a sua própria casa? E não tem, por quê? Por falta de dinheiro... mas que confuso, talvez o que falta é o conhecimento ancestral onde a falta não existia. A bioconstrução é abundância e é isso que eu quero trazer, ensinar as pessoas a construir, pintar, se autonutrir. A natureza já nos dá tudo o que precisamos. O Brasil é muito rico, a natureza muito abundante, é muito cruel o que o "mercado de trabalho" apresenta como produto. Eu quero mais do que isso. A bioconstrução é difundida em todo o mundo, o Brasil ainda está atrasado nessa "descoberta", já é hora de despertar.


Alô Alô Bahia: Como a bioconstrução pode contribuir para que a construção civil minimize seu impacto negativo no meio ambiente, como o consumo dos recursos naturais e emissão dos gases de efeito estufa? Como ela pode ser aplicada de maneira prática na hora de uma pessoa pensar o seu projeto?

Monique Reis: A bioconstrução fará uma leitura da região da construção e buscará usar materiais de regiões próximas. Resultado, menos gases de efeito estufa. Utilizando o material do local, você retira dali o que é necessário para a sua construção e não para 500, 1000 unidades, ou até acabar todo o material natural daquele local. Então não existe a extinção da matéria-prima. Reduzimos os danos ambientais e usamos de forma mais respeitosa is nossos recursos. Seu lar se torna uma maneira de se integrar com o meio natural. Na hora do projeto, podemos pensar em tetos verdes para casas pequenas sem áreas de jardim, podemos pensar em curvas mais sinuosas, para quem não gosta de quadrados tão replicados na construção civil, podemos pensar em paredes integradas com móveis, para aproveitamento do espaço, tintas ecológicas... são muitas formas de aplicar.


Alô Alô Bahia: Qual é a importância e quais são as vantagens da bioconstrução para os agentes envolvidos (população, mercado, meio ambiente)?

Monique Reis: A bioconstrução é um conhecimento ancestral, as casas antigamente eram construídas com os materiais disponíveis naquela região. Então, a importância da bioconstrução está em nos reconectar com essa ancestralidade sábia, que usava a natureza como aliado às suas necessidades. Dentre as vantagens para a população, as casas funcionais, termicamente agradáveis independente da região de construção, inteligentes - aquecimento de água por meio de serpentinas, às vezes integradas ao fogão à lenha, fogueiras ou até por meio de aquecimento solar utilizando materiais de baixo custo. Existem também os tetos verdes para locais com pequenos espaços para jardins, dentre outras tantas... Para o mercado, a possibilidade de se reformular e se enquadrar à necessidade do Planeta Terra. Para o meio ambiente, a bioconstrução é uma esperança. Reduzimos os danos e utilizamos os recursos com sabedoria.


Alô Alô Bahia: Quais são os impactos na qualidade da construção com a utilização de técnicas e materiais mais sustentáveis?

Monique Reis: As técnicas da bioconstrução buscam utilizar o mínimo possível de materiais tóxicos, isso permite que crianças, jovens, homens e mulheres se relacionem de uma maneira mais efetiva e afetiva. A sua casa pode ser construída por você, independente da idade, sexo, gênero. Isso é muito lindo. Os relatos de pessoas que ajudaram, participaram da construção do seu lar são lindos, esse é um impacto muito importante. Além disso, utiliza-se também de muita arte em uma casa bioconstruída, paredes com garrafas coloridas, com vidros antigos de carro, gradis com correntes de bicicletas antigas, é um lugar de muita criação e muito pessoal. Cada casa é única.


Foto: Reprodução. Siga o insta @sitealoalobahia.
 

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