Salvador faz primeira cirurgia de transição vocal em mulher trans pelo SUS

Salvador faz primeira cirurgia de transição vocal em mulher trans pelo SUS

Redação Alô Alô Bahia

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Redação

Arquivo Dra. Erica Campos e Reprodução/Redes sociais

Publicado em 15/04/2024 às 15:20 / Leia em 4 minutos

O último sábado (13) foi um divisor de águas na vida da atriz e cantora baiana Yara Sereya, 36 anos. Ela, que também é CEO da Rede Negra Indígena e princesa LGBT do Carnaval de Salvador 2023, foi a primeira mulher transexual a fazer a cirurgia de transição vocal (glotoplastia) através do Sistema Único de Saúde (SUS) em Salvador.

“É uma realização só o fato de haver esperança em mudar essa realidade. Eu sempre tive problemas com minha voz. Infelizmente, por eu ter exposto minha transgeneridade tardia, minha voz sempre foi um demarcador ainda do outro gênero. Eu tinha que fazer vários exercícios para aquecer minha voz. Além disso, sou também artista, crio conteúdos nas redes sociais e nem sempre estou com minha voz aquecida”, conta Yara, em conversa com o Alô Alô Bahia.

Atriz e cantora baiana Yara Sereya fez a cirurgia de transição vocal (Foto: Arquivo pessoal)

Nos últimos tempos, percebi o quanto eu me escondia por conta da minha voz, o quanto já deixei de fazer coisas. Como atriz, deixei de ser selecionada, porque minha voz distorcia a proposta da personagem. Como cantora, minha voz sempre pareceu desencaixada. E como pessoa, muitas vezes me sentia mal ao falar. Nunca falei sobre isso porque, como ativista, sempre defendi a ideia de que mulheres também têm vozes grossas… mas sempre foi um grande incômodo interno”, completa.

Natural de Camaçari, cidade da Região Metropolitana de Salvador, Yara atualmente mora em Arembepe. Paciente do Ambulatório Transsexualizador da Universidade Federal da Bahia (Ufba), a artista foi operada pela Dra. Erica Campos, otorrinolaringologista pioneira na cirurgia de glotoplastia no Brasil. Trata-se de um procedimento feito por dentro da boca e considerado minimamente invasivo porque não há cortes externos, nem cicatrizes e todo o processo dura cerca de uma hora e meia. Se a paciente quiser remover a chamada proeminência laríngea — mais conhecida como pomo-de-adão —, a cirurgia pode chegar a duas horas.

A operação de Yara foi realizada no Hospital Universitário Professor Edgard Santos (Hupes), da Ufba, e vinculado à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh).

“Foi a primeira glotoplastia que conseguimos fazer pelo SUS através do Ambulatório Transsexualizador. É uma cirurgia para agudizaçao da voz. É uma estratégia cirúrgica muito procurada por mulheres trans e mulheres cis que fizeram uso de anabolizantes ou implantes hormonais e tiveram a virilização da voz”, explica Erica.

Dra. Erica Campos lidera mudança vocal de mulheres trans no Brasil (Foto: Divulgação)

A readequação vocal para transexuais devolve a autoestima e ajuda essas pessoas a se reconhecerem não apenas em seus corpos, mas da forma que elas soam. “É uma cirurgia minimamente invasiva que traz um impacto importante na qualidade de vida, dando mais confiança e maior sensação de pertencimento a essas mulheres”, completa Erica. Segundo ela, a cirurgia exige um pós-operatório de silêncio total por até 15 dias, em média, como será o caso de Yara.

A cirurgia da cantora e atriz baiana, aliás, é um marco importante na saúde pública da Bahia: abre caminhos para a realização de novas operações de transição vocal de pessoas trans no estado. “Estou muito feliz com essa primeira cirurgia, pois acredito que essa não será apenas a primeira, mas o início de muitas outras. É a realização de um sonho, que muda a vida das mulheres trans em Salvador, que lutam há muitos anos para que isso aconteça”, completa Erica.

Para ter acesso à glotoplastia no âmbito do SUS, é necessário estar em acompanhamento no Ambulatório Transsexualizador da Ufba e preencher alguns pré-requisitos, como ter realizado acompanhamento com psicólogo e fonoaudiólogo. “Já no âmbito privado, é necessário que a paciente tenha o desejo de modificação da sua voz, procure um especialista habilitado e o Conselho Federal de Medicina (CFM) recomenda também pelo menos um ano de acompanhamento multidisciplinar. É importante salientar também que as operadoras de saúde devem custear os procedimentos pertencentes ao processo transexualizador”, acrescenta a médica.

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