MP quer proteger Jarê, religião praticada apenas na Chapada Diamantina e retratada em ‘Torto Arado’

MP quer proteger Jarê, religião praticada apenas na Chapada Diamantina e retratada em ‘Torto Arado’

Redação Alô Alô Bahia

redacao@aloalobahia.com

Maria Marques

Reprodução/Acony Santos

Publicado em 12/11/2024 às 10:06 / Leia em 3 minutos

Uma audiência pública está marcada para acontecer nesta quinta-feira (14), às 8h, na Câmara Municipal de Lençóis, na Chapada Diamantina, com o intuito de definir políticas públicas e discutir ações para a proteção formal do Jarê, uma manifestação cultural e religiosa única na região. A audiência, promovida pelo Ministério Público do Estado da Bahia (MP-BA), pode ser acompanhada remotamente, por meio da plataforma Microsoft Teams.

Segundo o MP-BA, a audiência quer encontrar soluções para os principais desafios enfrentados pelos praticantes do Jarê e, assim, garantir a continuidade deste que é um patrimônio ancestral. Em julho deste ano, o ICMBio iniciou o projeto de demolição do terreiro de jarê Peji Pedra Branca de Oxóssi, ato que suscitou polêmica por ter sido considerado um caso de racismo religioso.

O Jarê não é apenas uma expressão religiosa, mas um modo de vida e uma trincheira de resistência cultural das comunidades que preservam a tradição há gerações. Típico da Chapada Diamantina, o Jarê aglutina o culto aos orixás com entidades das comunidades tradicionais, os caboclos, e constitui um culto singular, com forte relevância para a memória coletiva da região e para a preservação de suas identidades culturais.

Interessados em participar da audiência de forma virtual podem solicitar inscrição até dois dias antes do evento. Estão à disposição 10 vagas, preenchidas por ordem de contato, feito pelo e-mail: prema.altoparaguacu.adm@mpba.mp.br.

A cosmovisão do Jarê presente em “Torto Arado”

No romance “Torto Arado”, de Itamar Vieira Junior, o Jarê é também um personagem na fazenda de Água Negra. Além dos cenários do campo, do rio e da terra, as noites de Jarê são centrais para a narrativa. Zeca Chapéu Grande, um dos trabalhadores da fazenda, é líder do Jarê, e suas filhas, Bibiana e Belonísia, participam da tradição.

O escritor descreveu o Jarê, para o programa “Provoca”, da TV Cultura, como “uma utopia do Brasil”, já que funde religiões de matriz africana, catolicismo rural e práticas xamânicas. A religião combina elementos de umbanda, candomblé, catolicismo, xamanismo e espiritismo, e é regida pelos encantados, entidades que permeiam o cotidiano das comunidades. Zeca Chapéu Grande, em constante contato com os encantados, prepara remédios e providencia curas, bem como intermedia conflitos entre os trabalhadores com a bênção deles.

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