Vinhos somem de prateleiras em Salvador após enchentes no Rio Grande do Sul

Vinhos somem de prateleiras em Salvador após enchentes no Rio Grande do Sul

Redação Alô Alô Bahia

redacao@aloalobahia.com

Maysa Polcri para Correio

Reprodução

Publicado em 15/05/2024 às 12:01 / Leia em 5 minutos

A tragédia que atinge o Rio Grande do Sul desde o início deste mês tem causado impactos na população e danos estruturais nas cidades. Com estradas bloqueadas e obstáculos que impedem o escoamento de encomendas, empresários baianos e gaúchos temem esgotamento de vinhos nas prateleiras. O atraso de produtos é realidade em algumas lojas de Salvador, onde alguns rótulos estão em falta.

O vazio na prateleira de uma loja de vinhos na Pituba, em Salvador, dá sinais de que algo não vai bem. Em dias normais, o espaço seria preenchido com rótulos vindos do Rio Grande do Sul – maior produtor do país.

As chuvas e alagamentos torrenciais criam obstáculos nas estradas que cortam o estado, o que interfere no abastecimento de lojas locais. Ana Frantz, dona de duas lojas de vinhos na capital baiana, conta que os prazos de entrega quase dobraram neste mês.

A empresária aguarda um carregamento de 50 caixas de vinhos, com 300 itens no total. “O atraso é real. Anteriormente levava, em média, dez dias para receber os produtos, agora a previsão é de sete dias a mais”, conta. O escoamento é feito, principalmente, por via terrestre. “A grande dificuldade é em relação às estradas. Houveram quedas de pontes, deslizamentos de terras, as pontes estão comprometidas e até o tráfego de carro está mais difícil”, relata.

A produção em si dos vinhos não foi tão impactada, porque a safra, que teve início em janeiro, terminou em abril. Mesmo assim, a lama atingiu grandes produtores de vinho da Serra Gaúcha. A vinícola Valparaíso, localizada no município de Barão, por exemplo, não tem faturamento há duas semanas. Cerca de 20% da produção do local é destinada para Salvador. O espaço onde os vinhos são feitos, chamado de cantina, ficou alagado.

Funcionários unem forças para conseguir limpar e salvar equipamentos. Naiana Argenta, sócia da empresa, estima prejuízos em torno de R$ 300 mil. A cozinha foi tomada pelo barro e a água, que destruiu caixas e garrafas. “A lama ficou parada por oito dias porque nós ficamos sem luz e sem água. O trabalho começou a ser feito no escuro, com pás, mas é muito difícil”, conta. Quando a energia voltou a funcionar, o trabalho ganhou velocidade.

Ainda é cedo para contabilizar os prejuízos com o atraso, segundo Darci Dani, diretor executivo da Associação Gaúcha de Vinicultores (Agavi), mas o representante do setor ressalta que a Bahia está entre os cinco maiores compradores da produção gaúcha. “Diversos caminhos não podem ser percorridos. Estamos buscando outras alternativas de escoamento e isso deve causar problemas de atraso, mas estamos tratando com os clientes para que tenhamos capacidade de entregar, sem problemas de desabastecimento”, diz.

Entre as opções testadas por empresários está o transporte marítimo entre portos. “Nós vamos fazer o possível e o impossível para garantir o abastecimento. Inclusive, estávamos fazendo testes de abastecimento via cabotagem”, completa. Se o maior obstáculo hoje é o escoamento pelas estradas, as projeções para a próxima safra são preocupantes. Os danos nas plantações precisam ser avaliados e é possível que áreas tenham que ser restruturadas.

Empresários de Salvador que contavam com o estoque cheio no início de maio ainda não sofreram os impactos da logística prejudicada. É o caso da loja Kogan Wines. “Por sorte, nós tínhamos estoque aqui em Salvador no início das enchentes. Não foi tão complicado abastecer os restaurantes daqui porque ainda não precisamos fazer pedidos diretamente para as vinícolas, como acontece em muitos casos”, explica Patrícia Penha, sommeliere de vinhos da Família Kogan Wines.

Durante a crise, uma rede de solidariedade tem se firmado entre os integrantes do segmento. “Mesmo com o estoque fixo aqui, fizemos uma campanha junto aos principais parceiros para incentivar a venda dos rótulos de vinícolas diretamente impactadas”, conta.

A estimativa é que cerca de 500 hectares de plantações de uva tenham sido afetados por deslizamentos e alagamentos, apenas na Serra Gaúcha. A projeção corresponde a cerca de 2% da área total plantada no estado. A projeção é da Emater/RS, responsável pela promoção de desenvolvimento rural. “Ainda é muito cedo para ter certeza, a área pode ser maior ou menor. O tempo de área alagada também é uma das preocupações para a safra que vem”, diz Luis Bohn, gerente adjunto da da Emater.

A produção de vinhos no Rio Grande do Sul enfrenta um histórico de crises. Na vinícola Valparaíso, por exemplo, foi possível colher 40% da plantação. As fortes chuvas no ano passado e as mudanças climáticas causam dificuldades.

Na terça-feira (14), a Defesa Civil do Rio Grande Sul confirmou que 148 pessoas morreram vítimas dos impactos das enchentes no estado. Além disso, 124 pessoas estão desaparecidas. Ainda segundo o órgão, 446 municípios foram afetados e 76.884 pessoas estão vivendo em abrigos. Há também outros 538.545 desalojados, 806 feridos e, ao todo, 2.124.203 pessoas que vivem no estado foram afetadas.

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