O Centro de Cultura Vereador Manuel Querino, da Câmara Municipal de Salvador, recebe a exposição, que reúne vivências de uma travessia vivida por quatro mulheres negras brasileiras e suas sensibilidades artísticas para construir um resgate e uma expansão de suas memórias com o tema: “Amazi: os olhos da travessia”.
As artistas Louise Queiroz, Larissa Fulana de Tal, Keila Gondim e Larissa Queiroz, explicam que a inspiração veio da inquietação com a palavra “Amazi”, frequentemente usada nos terreiros de candomblé de Nação Congo-Angola.
“Sempre achei essa palavra bonita e misteriosa. Nas minhas buscas, descobri que, no Kikongo, ‘água’ se diz ‘Maza’. A transformação para ‘Amazi’ veio da oralidade, da diáspora. Isso me fez querer resgatar o que se perdeu ou se transformou nesse processo”, relata Louise Queiroz quem foi a primeira a dar conotação ao projeto.
Segundo Louise, “As fotografias e poemas que compõem a exposição dialoga diretamente com a ancestralidade e pertencimento ao compreender o corpo negro em sua materialidade cotidiana como um corpo-arquivo, um território de memória e resistência.
Esses registros artísticos integram o projeto Amazi: os olhos da travessia, uma proposição poética que busca reconhecer e valorizar os vínculos sensíveis e históricos entre Brasil e África, através da escuta atenta e da imersão estética em espaços de vivência e ancestralidade, como as feiras e as ruas.”
A exposição é composta por caligramas, poemas e fotografias, uma fusão da literatura e da arte visual que se entrelaçam para contar histórias de ancestralidade e pertencimento. As fotografias, capturadas em Salvador e Luanda, revelam gestos, ruas e corpos que, mesmo distantes geograficamente, compartilham a ancestralidade viva e pulsante.
“Assim, as imagens não são somente um retrato, mas a inscrição visual de uma existência que carrega marcas de luta, saber e permanência — um corpo-documento, como propõe Beatriz Nascimento e que, em diálogo com Leda Maria Martins (2022), performa a memória em espirais de tempo e espaço.
Nesse sentido, a exposição enquadra-se da reparação simbólica, ao deslocar os registros fotográficos do olhar exótico ou antropológico tradicional, para um campo de afeto, dignidade e escuta. Essa exposição é parte de um gesto de arquivamento que não captura o outro, mas se reconhece com ele na partilha da travessia” explica.
Aberta na quinta-feira (5), a exposição permanecerá até a sexta-feira (6), com visitação das 9h às 17h, com bate-papo com a idealizadora e integrantes do projeto, das 17h às 18h.