A cidade de Salvador voltou a brilhar nos holofotes internacionais. Em matéria publicada nesta sexta-feira (24) no The New York Times, o jornalista Michael Snyder descreve a capital baiana como “a cidade brasileira onde as festas se estendem do alto do penhasco até o mar”, celebrando sua força cultural, sua herança afro-brasileira e o jeito singular de viver que mistura fé, música e gastronomia.
Baseado na Cidade do México, Snyder é editor colaborador da T Magazine e esteve em Salvador em junho para produzir o guia publicado pelo jornal. “Salvador, o coração afro-brasileiro, é um polo de música, gastronomia e tradição”, escreve o repórter, que convidou quatro personalidades locais para indicar seus lugares favoritos na capital: a chef Angeluci Figueiredo, o artista e designer Daniel Jorge, o músico Tiganá Santana e a artista Nádia Taquary.

New York Times traduz Salvador como “a cidade brasileira onde as festas se estendem do alto do penhasco até o mar”
Na reportagem, o New York Times lembra que Salvador é famosa por seus verões e pela vibração que toma conta das ruas entre dezembro e março, especialmente no Pelourinho e na Cidade Alta, com vista para a Baía de Todos os Santos. Snyder observa que o cenário cultural da cidade vem atraindo cada vez mais visitantes, com a chegada de galerias do Sudeste, como Galatea e Pivô, e novos hotéis de luxo, impulsionando o turismo criativo.
“Salvador está vivendo um grande momento”, diriam paulistanos e cariocas, segundo o jornalista. Mas o artista Daniel Jorge, que se mudou do Rio para Salvador em 2020, rebate a ideia de novidade: “Não dá para descrever a cidade como emergente. Ela sempre esteve aqui”, defende.
O texto também relembra o papel histórico da cidade, fundada em 1549 e primeira capital do Brasil, com uma herança afrodescendente que moldou suas tradições religiosas, musicais e culinárias. “Salvador é tão vívida em mim que, mesmo quando eu estava longe, continuava aqui. Esse lugar vai comigo para onde eu for”, resume a artista Nádia Taquary.

Autor convidou Preta, Daniel Jorge, Tiganá e Nádia para dar dicas | Ilustração: Richard Pedaline
Onde dormir em Salvador
A chef Angeluci Figueiredo, conhecida pelos restaurantes Preta, Preta Palacete Tirachapéu, Preta Bistrô e Peixe Voador, recomenda a Pousada do Boqueirão, no bairro Santo Antônio Além do Carmo. “A proprietária Fernanda, que veio da Itália há 41 anos, tem um olhar incrível. E é uma nonna que acolhe todo mundo”, diz. Ela também cita o Hotel Fasano Salvador, no coração da cidade, entre os melhores do Brasil. “Não é em uma área luxuosa ou afastada. Dá para sentir o verdadeiro espírito de Salvador”, conta.
Daniel Jorge destaca a Casa Recôncavo, que ajudou a projetar. “É uma casa de três quartos com vista incrível para o mar, pensada com materiais reaproveitados. O dono planejava uma residência artística, mas acabou decidindo alugá-la”, revela.
Onde comer e beber em Salvador
A lista de restaurantes escolhidos pelos convidados do NY Times é um verdadeiro roteiro de sabores baianos. O músico Tiganá Santana indica o Recanto da Tia Maria, na Pedra Furada, “um lugar simples perto do mar, onde a comida é divina e o restaurante é tocado pelas mulheres da família”, conta.
Angeluci sugere o bar Purgatório, entre os 500 melhores do mundo, e seu drink de gim e goiaba, e o multifuncional A Borracharia, “um caos prazeroso, com música eletrônica e brasileira”.

Café & Câmera, no Carmo, e Arroz de Hauçá do Dona Mariquita | Foto: Kristin Bethge
Já Nádia Taquary recomenda o Dona Mariquita – Casa de Veraneio, próximo ao Mercado Modelo, que serve comida patrimonial de toda a Bahia, assinada pela chef Leila Carrero, que também comanda o original Dona Mariquita, no Rio Vermelho. “Já comi pratos lá que achava que não gostava, como maniçoba, e acabei adorando”, lembra. Ela também elogia a moqueca de ostra do Axego, no Pelourinho, e a Casa de Tereza.
Para uma experiência mais popular, Daniel Jorge cita o Point da Codorna, no Mercado do Dois de Julho, e o Restaurante Beira Mar, da Dona Regina, na Feira de São Joaquim. “Ela faz cachaças com infusões medicinais. São cerca de 180 tipos, uma para azia, outra para coração partido. É um dos lugares mais especiais da cidade”, confessa. Já no Carmo, no Centro Histórico, ele recomenda o Café & Câmera, “um ótimo lugar para um café e uma boa conversa”, instalado dentro da Igreja da Ordem Terceira do Carmo.
Onde comprar em Salvador
A chef Angeluci sugere a loja Tempo, especializada em arte popular nordestina, e o Mercado do Rio Vermelho (Ceasinha), para comprar queijo coalho, castanhas, frutas e mel de cana. O músico Tiganá Santana recomenda a Katuka Africanidades, com roupas, máscaras e livros afro-diaspóricos, e destaca os ferreiros da Ladeira da Conceição, que produzem símbolos sagrados do Candomblé, entre eles o mestre José Adário dos Santos, há 67 anos no ofício.
A artista Nádia Taquary indica a Casa Boqueirão, com roupas de designers locais, livros raros e esculturas. “Eu também levaria um boi bilha, uma moringa de barro em formato de boi, ou uma quartinha de barro. Nas religiões africanas, a água é vida e esses objetos carregam um mundo de histórias”, explica. Tiganá reforça a força da Feira de São Joaquim. “Dá para sentir a conexão entre a África e o Brasil. Leve uma garrafa de azeite de dendê, o bom é o mais escuro, mais espesso, com aroma forte e floral”, revela.

Lojas Tempo e Katuka estão entre as dicas | Foto: Kristin Bethge
O que explorar em Salvador
A chef Angeluci convida os visitantes a conhecerem a cidade também pelo mar. “Alugue um barco e vá pela Baía de Todos os Santos. Dá para nadar, visitar igrejas coloniais nas ilhas, ver o pôr do sol maravilhoso e parar para comer um peixe grelhado no meu restaurante Preta”, convida.
O músico Tiganá Santana aponta experiências que traduzem o sincretismo da capital. “A missa afro-brasileira da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, no Pelourinho, é impressionante. E há a JAM no MAM, no Museu de Arte Moderna, e o Samba da Feira, na Feira de São Joaquim. Os mais velhos dançam deslizando os pés pelo chão”, diz.
Para o New York Times, Salvador é mais do que um destino turístico: é uma cidade que sintetiza o Brasil em sua expressão mais diversa, criativa e espiritual. “O coração afro-brasileiro é um polo de música, gastronomia e tradição”, define o jornal, que confirma o que os baianos já sabiam: o encanto da cidade é eterno e está em cada esquina, cada sabor e cada tambor que ecoa entre o penhasco e o mar.
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