Uma nova espécie de bromélia, chamada Vriesea serraourensis, foi identificada nas áreas do Morro do Ouro e do Morro da Torre, na região da Chapada Diamantina. A expedição que deu origem à descoberta foi realizada no âmbito do Plano de Ação Territorial Chapada Diamantina-Serra da Jiboia, coordenado pelo Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos em colaboração com a Secretaria do Meio Ambiente, além de outras entidades parceiras, que ao longo dos últimos cinco anos tem ajudado a proteger espécies ameaçadas na região.
De acordo com Sara Alves, especialista em Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Inema, o Plano de Ação elaborado no ano de 2020 tem como objetivo principal reduzir as ameaças sobre as espécies e ecossistemas que ocorrem no território de atuação do projeto, que engloba 56 municípios, em uma área aproximada de 3,9 milhões de hectares. O plano visa proteger 27 espécies-alvo, sendo 24 espécies da flora e 3 da fauna, além de contemplar outras 339 espécies, denominadas espécies beneficiadas, que também estão ameaçadas de extinção e que estão localizadas dentro do território das espécies-alvo do plano.
“Um dos objetivos do plano envolve o desenvolvimento da pesquisa cientifica. Nós tínhamos como ações mapear áreas onde pudéssemos fazer ações de conservação para as espécies-alvo, realizar pesquisas sobre a biologia, taxonomia, ecologia e o sustentável das espécies, e desenvolver pesquisas sobre os impactos de invasões biológicas no território. E a segunda ação desse objetivo era realizar as expedições científicas para encontrar essas 27 espécies-alvo, todas classificadas como Criticamente em Perigo”, explica a coordenadora.
Criticamente ameaçada
A nova bromélia foi encontrada em áreas de campo rupestre, nas regiões de Morro do Ouro e Morro da Torre, que ficam na divisa entre os municípios de Barra da Estiva e Ituaçu. Ela cresce em solos rasos sobre rochas de quartzito e pode atingir de 160 a 220 cm de altura. Seu agrupamento de folhas é formado por 12 a 16 folhas, bem diferente de outras espécies similares encontradas na região. A planta apresenta folhas longas e uma conjunto de flores dispostas em um sistema de ramificação único, com ramos laterais formando ângulos de 30° a 45° com o eixo principal. Suas flores, que se abrem à noite, exalam um cheiro semelhante ao de alho. O que, de acordo com os pesquisadores indica a possibilidade de a planta ser polinizadas por morcegos.
“Inicialmente, não conseguimos identificar a espécie com precisão, limitando-nos a classificá-la no gênero Vriesea, embora houvesse suspeita de tratar-se de uma possível nova espécie para a ciência. Após um estudo aprofundado das espécies correlatas dentro do gênero, confirmamos que se tratava de uma espécie inédita. Após revisar a literatura e consultar herbários, conseguimos concluir a descrição da nova espécie, que batizamos com o nome do morro onde ela ocorre”, conta o professor do programa de pós-graduação em Recursos Genéticos Vegetais da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Everton Hilo.
Apesar de ser uma descoberta animadora, o especialista alerta que a Vriesea serraourensis já é considerada uma espécie criticamente ameaçada de extinção, conforme análise realizada pelo Centro Nacional de Conservação da Flora. A bromélia é encontrada em uma área muito pequena e sofre com ameaças constantes como incêndios, expansão agrícola, invasão de gramíneas exóticas e turismo desordenado.