Já por volta das 21h deste sábado (1º), uma multidão – incluindo moradores, baianos, turistas e autoridades – ocupava a ladeira do Curuzu para acompanhar a tradicional saída do Ilê Aiyê. Por volta das 22h, a frente do terreiro Ilê Axé Jitolu já não tinha mais espaço. Era gente na rua, nas sacadas, janelas e em qualquer espaço possível para acompanhar a tradicional cerimônia de saída do bloco para o carnaval de Salvador.

Tudo começa com um emocionante ritual religioso para abrir os caminhos do primeiro bloco afro do Brasil na folia baiana. Além de animar e envolver o público, os sons dos atabaques e tambores se misturam aos cânticos de exaltação à ancestralidade e aos orixás na subida da ladeira.

Também fazem parte do rito as bacias de milho, pipoca, pó de pemba e as pombas brancas. A cerimônia religiosa foi liderada pela lorixá Hidelice Bentala, que pede boas energias e um grande Carnaval aos orixás Oxalá (associado à paz e harmonia) e Obaluaê (ligado à cura).

“A iniciativa foi de minha mãe [Mãe Hilda de Jitolu], que, no primeiro ano, fez um ritual de pedir caminhos abertos. E hoje a saída do Ilê virou um espetáculo à parte. O pessoal não vem só ver essa animação da Deusa, vem também por este ritual da saída”, contou Vovô do Ilê, um dos fundadores do bloco, em entrevista ao Alô Alô Bahia.

A beleza da saída do Ilê vai além de uma celebração única e da estética. Se trata de uma tradição de meio século de resistência: o primeiro desfile do bloco afro pelas ruas de Salvador foi em 1975, marcando o início do processo de reafricanização do carnaval de Salvador ao levar para a maior festa popular de rua do mundo uma postura combativa ao racismo e pela valorização da identidade negra.

“É muito importante e fortalece a nossa luta. Salvador é uma cidade negra, de matriz africana, terreno de candomblé. Tudo isso ajuda bastante no combate à discriminação, à desigualdade, ao separatismo”, completou Vovô do Ilê.

O momento também tem uma atração à parte: a estreia do reinado de Lorena Bispo, 22 anos, moradora de Itapuã, eleita a nova Deusa do Ébano. Ao seu lado, também estreiam as princesas Tainã de Palmares e Stéphanie Ingrid Souza.

“É um momento de reverência, de celebração da minha história, da história da minha família, da minha ancestralidade e de todas as histórias que estão me cercando. A sua história também me afeta, que germina em mim, que é um compromisso político, cultural, artístico, educacional. Dessa maneira a gente vai gingando com os mais belos dos belos, seguindo uma multidão de malassombrados e dando seguimento a essa grande história”, disse Lorena, emocionada, ao Alô Alô Bahia.

Depois do ritual religioso, o cortejo segue com os caminhos abertos pelas ruas da Liberdade. O trio para no Plano Inclinado do bairro. De lá, os associados fazem uma pausa até se encontrarem novamente no Corredor da Vitória, onde a entidade inicia o seu primeiro desfile no circuito oficial, no Circuito Osmar (Campo Grande), previsto para as 2h de domingo (02), em direção à Praça da Piedade.

Este ano, o Ilê homenageia o povo queniano na avenida. Na segunda-feira (3/03), às 18h, o mais belo dos belos tem novo desfile previsto para as 19h, também no Circuito Osmar. Na terça-feira (4/03), o bloco faz seu terceiro e último desfile carnavalesco, com concentração às 18h no Corredor da Vitória e início previsto para 19h.

O projeto Alô Alô Folia é uma realização do Alô Alô Bahia e tem apoio institucional da Prefeitura Municipal de Salvador e do Carnaval da Bahia 2025. Sinta o axé, curta a Bahia. Governo do Estado presente faz o Carnaval.