Construindo uma carreira de destaque no campo da comunicação afro-brasileira, a jornalista baiana Midiã Noelle foi a responsável pela organização do “Plano de Comunicação pela Igualdade Racial”, documento histórico e inédito que tem como objetivo implementar ações para promover a igualdade racial na comunicação dos órgãos e entidades da administração pública federal. Após passar por uma seleção com 140 candidatos, a mestre em Cultura e Sociedade pela Universidade Federal da Bahia, nascida no bairro da Liberdade, em Salvador, foi contratada por uma agência do Sistema Nações Unidas com o objetivo de sistematizar e organizar, durante 10 meses, o material, que foi elaborado em torno dos princípios de enfrentamento ao racismo, incentivo à diversidade étnico-racial nas políticas de comunicação governamentais e direito à igualdade e não discriminação.
“O Plano de Comunicação pela Igualdade Racial é um documento que muda totalmente a forma de posicionamento, de formação e de qualificação também dos funcionários da Administração Pública Federal. Participar da elaboração desse plano enquanto ativista e jornalista foi uma honra, pois é um momento histórico para a comunicação”, comenta Midiã.
Resposta à sua ancestralidade
A trajetória profissional de Midiã inclui passagens por inúmeras agências da ONU e organizações da sociedade civil, além de ter sido repórter, editora e colunista do Jornal Correio. A jornalista foi ainda líder Acelerada pelo programa Marielles, do Fundo Baobá, por Equidade Racial, e reconhecida pelo prêmio Powerlist 100, da Bantumen, como uma das 100 pessoas negras mais influentes dos países da lusofonia.
A profissional, que em março lançará o seu primeiro livro, intitulado “Comunicação Antirracista”, já passou por diversas situações de violência racial, assim como boa parte da população afro-brasileira. Por isso, para ela, enquanto jornalista, que vem do campo feminista negro, poder trazer a sua história e bagagem é uma resposta à sua ancestralidade.
“É um legado que se inicia muito antes da minha existência. Fico feliz porque, no meu passado, enquanto estudante de jornalismo, passei por várias situações de racismo e acabava não me enxergando capaz de ocupar espaço de TV, por exemplo. Com o tempo, com o avanço da pauta racial, consegui compreender que era o racismo a minha barreira. E enfrentar isso, a partir desse trabalho fantástico, é um respeito também à memória do meu pai, que foi cinegrafista e fotógrafo, da minha mãe, das minhas tias e de todas as mulheres negras que abriram o meu caminho na comunicação”, destaca.