18 Feb 2024
'Quero viver e as opções são ser forte ou ser forte', diz paciente oncológica que leva descontração a hospital
Gizele de Oliveira Sousa é o nome da paciente do Centro Estadual de Oncologia (Cican), no Centro Administrativo da Bahia (CAB), que, nos idos de 2022, era facilmente confundida com uma animadora pelos corredores do espaço de tratamento oncológico. Claro que não era à toa, já que o vestido quadriculado de festa junina, as botas, a maquiagem e a peruca, escondendo o cabelo natural que já havia caído, davam essa impressão.
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Essa e outras fantasias, no entanto, foram a forma que Gizele encontrou de levar sua alegria para as sessões de quimioterapia melancólicas, como ela mesma descreve, e a tornaram uma celebridade no local. Natural de Conceição do Coité, hoje, a paciente conhece cada canto e cada funcionário do Cican e diz acordar animada quando é dia de vir a Salvador para os tratamentos e, porque não dizer, seus shows.
Acompanhada de uma enfermeira com uma caixa de som, Gizele transforma o centro de tratamento com diferentes personagens, de Emília e Cleópatra a Carmem Miranda e até "quenga de cabaré". Ela canta, dança e interage com outros pacientes, que, por um valioso momento, param para aproveitar uma realidade coberta de fantasia.
Enquanto os pacientes já mais antigos na casa se acostumaram, os recém-chegados demoram a acreditar que Gizele é mesmo uma paciente, até chegar a hora dela de sentar em uma das cadeiras e receber a medicação na veia, parte do tratamento contra o câncer de mama.
"Quando a médica me deu o diagnóstico, parecia que ela estava me dando uma sentença de morte, o semblante dela era de terror. Naquele instante, decidi que não seria enterrada viva", revela Gizele, em entrevista ao jornal Correio, parceiro do Alô Alô Bahia. Depois de passar pelo setor da papelada, ela conta que atravessou a rua, foi à praia e pediu um acarajé e uma água de coco. Hoje, aos 42 anos, ela diz lutar contra a tristeza e não contra o câncer.
"Quero enganar o cérebro porque uma mente no lugar é um corpo no lugar", defende a paciente, que, sem querer, reforça uma lógica com suporte científico, já que é comprovado que irritabilidade, raiva e intolerância atrapalham a produção de neurotransmissores que promovem a sensação de alegria e bem-estar. E estes otimizam o tratamento oncológico, de acordo com Maria Del Pilar Estevez, do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp).
Querendo mostrar que é possível ser feliz mesmo na enfermidade, Gizele acaba reforçando o impacto que a saúde mental tem na física e vice-versa e encontra uma forma de não se enquadrar no perfil de cerca de 35% das pessoas diagnosticadas com câncer que desenvolvem depressão ou ansiedade.
Falando em saúde mental, inclusive, ela foi o ponto de equilíbrio na vida do marido, do filho mais velho e da irmã, que enfrentaram a depressão e, hoje, representa o mesmo conforto para os colegas de tratamento e para si mesma.
Muito da postura de Gizele tem inspiração nos três filhos, que ajudam a escolher o personagem da vez e até a elaborar a roupa. O que ela busca é que os meninos enxerguem felicidade nela, mas sem ignorar a possibilidade da morte. "Quando a mamãe dormir para sempre, eu quero que vocês sejam felizes e cuidem do futuro de vocês", é o que ela prega para as crianças.
Por elas, ela decidiu oficializar a união de 11 anos com o pai do mais novo, em 2022. "Você vai receber a pensão, o seguro e vai garantir o futuro dos meninos. Arrume uma boa esposa para te ajudar com eles", diz Gizele sem cerimônias ao marido. "Não tenho medo de morrer. Que seja feita a vontade de Deus. Já valeu a pena por tudo que eu fiz até aqui, por todas as pessoas que eu animei", diz, quase parafraseando "Saúde", de Rita Lee.
"Eu quero viver, então, as opções são ser forte ou ser forte. E não quero ficar vivendo na tristeza, fujo de quem quiser chorar perto de mim. Eu quero ser feliz na enfermidade e mostrar para as pessoas que elas também podem ser", reforça Gizele.
* Matéria de Carolina Cerqueira, adaptada por José Mion. Fotos: Ana Lúcia Albuquerque/Correio.
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