23 May 2023

De todos: damos cinco dicas de leitura para fortalecimento da luta antirracista

José Mion

José Mion é jornalista, assessor de imprensa, apaixonado por Gastronomia e escreve para o Alô Alô Bahia.

Desde o último domingo (21), o tema do racismo voltou à tona, com ainda mais força, após os ataques sofridos pelo jogador brasileiro Vini Jr., durante partida, na Espanha, entre os times de futebol Valencia e Real Madrid. A falta de qualquer atitude contra os ataques sofridos, por dirigentes, colegas de campo e pela sociedade espanhola como um todo causou revolta nos brasileiros, que vivem situações nada diferentes no dia a dia.

O episódio e todo seu desenrolar, apesar da dor de quem vive o racismo, é uma "oportunidade", dada a repercussão mundial do caso, de muito mais do que refletir, começar a agir contra práticas e discursos racistas em todos os âmbitos e situações, principalmente das pessoas brancas. 

Falamos em "principalmente" porque, por sobreviver do sistema de poder que lhe dá privilégios, o cidadão branco é responsável pelo enfrentamento do racismo e deve ter em mente que, mesmo aliado da luta antirracista, seguirá se beneficiando do sistema injusto com o qual não concorda ou diz não concordar.

Mais do que perpetuar campanhas em redes sociais, que fora das telas muitas vezes não são seguidas, é preciso elevar o debate para outro nível, levando para o cotidiano da sociedade a luta antirracista e estimulando o letramento racial de todos os cidadãos.

O conhecimento teórico não é mais suficiente, haja vista que os casos de racismo se tornam cada vez mais evidentes, assim como a inércia cruel e objetiva por trás deles. É preciso que sejamos capazes de compreender e refletir criticamente sobre as questões raciais na sociedade, sobre o racismo estrutural e suas implicações em toda a dinâmica social.

Fomos atrás de algumas sugestões de leitura que podem ajudar no caminho para o questionamento dos estereótipos, para a desconstrução dos preconceitos, atitudes e discursos, e que podem nos levar a aprender com as vozes e experiências das vítimas destes. São ótimas leituras, bons convites à ação que leva a sociedade à transformaçao do seu cotidiano. Vale destacar que, por sorte, não faltam obras e referências para quem quer se aprofundar no assunto e essas são apenas 5 sugestões para um começo importante. Confira e boa leitura!
 

"Pequeno Manual Antirracista", de Djamila Ribeiro - O pequeno manual da filósofa e ativista Djamila Ribeiro trata de temas como atualidade do racismo, negritude, branquitude, violência racial, cultura, desejos e afetos, em onze capítulos curtos que dão lições breves para entender as origens do racismo e como combatê-lo. Didática, a obra apresenta caminhos de reflexão para quem quer aprofundar sua percepção sobre o tema, reconhecer as raízes e o impacto do racismo, até entender que é uma luta de todos.
 

"Como Ser um Educador Antirracista", de Bárbara Carine - Criadora de Escola Afro-Brasileira Maria Felipa, em Salvador, a escritora baiana aborda problemas do ensino eurocêntrico que é dado à população brasileira como um todo e que ignora registros de saberes de sociedades africanas e ameríndias, por exemplo. O livro busca estimular a apresentação da riqueza de culturas afro-brasileiras e originárias antes que o racismo se instale na percepção dos alunos, que podem construir novas referências de conhecimento.
 

"Racismo Estrutural", de Silvio Almeida - Atual ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania do Brasil, Silvio de Almeida apresenta dados estatísticos e discute, sem rodeios, como o racismo está na estrutura social, política e econômica da sociedade brasileira. Ele parte do conceito de racismo institucional, mostrando como ele está infiltrado nas instituições e na cultura.
 

"Racismo Recreativo", de Adilson Moreira - Se causa constrangimento, não é piada. Este é o mote do livro, que busca aprofundar a relação entre racismo e humor, em um momento em que se discute tanto os limites dos textos dos humoristas. O advogado e doutor em Direito Adilson Moreira esmiúça, do ponto de vista jurídico, conceitos de racismo e injúria racial, explicitando o viés racista da própria Justiça ao considerar que produções culturais, como programas humorísticos, não são discriminatórias ao reproduzirem estereótipos raciais, apenas por promoverem a descontração das pessoas.
 

"Olhos D'Água", Conceição Evaristo - A obra traz quinze contos que abordam a história de personagens negras silenciadas pelo racismo, pelas imposições econômicas, por condições degradantes de trabalho e pelas questões de gênero. São narrativas curtas, sem meias palavras, sobre crianças, homens e, sobretudo, mulheres.

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Fotos: LanaStock/Reprodução/Senado Federal e Reprodução/Divulgação.