Turquia x Armênia: O jogo que tem como pano de fundo conflitos, guerra e genocídio não reconhecido

 
Turquia e Armênia vão entrar em campo na próxima sexta-feira (8) em partida válida pelas eliminatórias para a Eurocopa do próximo ano, que será disputada na Alemanha. Os turcos lideram o grupo, enquanto os armênios, com um jogo a menos, estão em segundo lugar. A disputa dentro de campo, contudo, vai muito além do futebol e tem como plano de fundo um histórico de guerra, conflitos e o genocídio armeno nunca reconhecido pelos turcos.
 
Para entender o histórico hostil entre as duas nações europeias é preciso voltar no tempo. A Armênia fez parte do vasto e poderoso império Otomano, que controlava boa parte do Oriente Médio e territórios da Europa. Durante a Primeira Guerra Mundial, parte dos armênios decidiu lutar ao lado dos russos, inimigos históricos dos turcos, o que serviu de justificativa para o início do brutal genocídio armeno, que levou à morte de pelo menos 1,5 milhão de pessoas. O acontecimento ficou conhecido como um dos maiores massacres do Século XX.
 
O genocídio, segundo relatam historiadores, foi executado de diversas formas, seja quando os turcos convocavam armênios para a guerra e os utilizavam apenas para cavar trincheiras e, em seguida, os exterminava. Outra forma era com a remoção da população armênia das cidades, o que levava a ondas migratórias de milhares de pessoas, que acabavam morrendo no caminho ou eram executadas por soldados turcos. Mulheres armênias também eram vendidas como escravas. Hoje, diversas nações reconhecem o genocídio armeno, mas a Turquia nunca chegou a admitir.
 
Com o fim da guerra e a derrota do Império Otomano, aliado da Alemanha na época, a Armênia acabou sendo anexada à União Soviética. No entanto, os conflitos continuaram e se estendem até hoje. Atualmente, há uma nova ameaça de genocídio contra os armênios que vivem na região de Nagorno-Karabkh, no Azerbaijão, aliado da Turquia. Entidades que acompanham o caso dizem que a vida de cerca de 120 mil armênios que vivem na região está ameaçada, pois os azeris fecharam um acesso à região, impedindo a chegada de comida e mantimentos.
 
A situação histórica provocou o que ficou conhecido como a diáspora armênia, fenômeno que levou milhares de pessoas para outros países, inclusive para a América Latina. No Brasil, São Paulo é um grande reduto de armênios. A estimativa é que cerca de 100 mil armênios vivam no país, sendo em torno de 40 mil em São Paulo. A cidade, inclusive, tem um bairro que leva o nome do país. Alguns artistas famosos são descendentes de armênios, como os atores Arthur Haroyan e Aracy Balabanian, filha de imigrantes e intérprete da icônica Dona Armênia de "Rainha da Sucata". Aracy morreu recentemente.
 
Esporte - No futebol, um dos principais jogadores da seleção armena é o meia Lucas Zelarayán, que nasceu na Argentina, mas é descendente de armênios. Ele decidiu jogar pela seleção europeia em 2021. “Tomei uma decisão muito importante para mim – jogar pela seleção armênia. Não foi uma decisão tomada em um dia, foi um passo bem pensado”, declarou, na época.
 
No histórico, as partidas entre Turquia e Armênia são marcadas por tensões. Em 2009, o hino armênio foi vaiado durante uma partida em Bursa, na Turquia - o jogo aconteceu apenas quatro dias após a assinatura de acordos de reconciliação entre as duas nações. O futebol, inclusive, já foi utilizado como meio de diplomacia entre as duas nações. Em 2008, o então presidente turco, Abdullah Gul, foi à Armênia para assistir a uma partida de futebol contra a Turquia, o que foi considerado na época um gesto de aproximação. Apesar disso, nas arquibancadas o clima sempre é tenso.
 
Na arte, a banda System Of A Down é um dos principais expoentes na luta pelo reconhecimento do genocídio armeno. Os quatro integrantes do grupo (o vocalista Serj Tankian, o guitarrista Daron Malakian, o baixista Shavo Odadjian e o baterista John Dolmayan) são descendentes de armênios que migraram para os EUA. As letras da banda, uma das mais renomadas do heavy metal mundial, retratam temas de protesto contra as atrocidades cometidas pelos turcos. Em 2020, o grupo, que não apresentava novos trabalhos desde 2006, chegou a lançar duas músicas em apoio à Armênia devido ao conflito contra o Azerbaijão.
 
Futebol - Só para falar um pouco da partida, a seleção armena vive um dos seus melhores momentos nos últimos anos. A equipe ocupa o segundo lugar do grupo, com seis pontos e um jogo a menos em relação à Turquia, que lidera a chave. Os armênios venceram recentemente a seleção de País de Gales por 4 a 2, resultado considerado surpreendente. Já os turcos contam com uma geração promissora e, jogando em casa, são favoritos para disparar na liderança.
 
Dica cultural - Quem quiser saber um pouco mais sobre o genocídio armeno pode assistir ao filme A Promessa (2017), que conta com o ator Christian Bale (Batman) no elenco. Com um triângulo amoroso como pano de fundo, a obra retrata o genocídio, mostrando práticas usadas pelos turcos para cometer as atrocidades. O filme foi duramente criticado por autoridades turcas, uma vez que, no país, é crime afirmar que houve genocídio do povo armênio.


Foto: Divulgação. 

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