Sobre fake news e o algoritmo que nós somos

Sonhávamos com um mundo onde a comunicação tivesse mais participação de nós, o povo, esse ente que detém o monopólio das virtudes. Assim, poderíamos produzir e compartilhar apenas as verdades mais verdadeiras. Mas será que nós, o povo, nos preocupamos com o que postamos?

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Sempre buscamos um culpado que não seja nós mesmos. Antes, era a grande mídia. Depois, os algoritmos das redes sociais. De fato, a dinâmica dos algoritmos faz com que vejamos com maior frequência conteúdos que tendemos a interagir mais. Mas, vamos a um caso em que nós somos os algoritmos: grupos de WhatsApp.

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Grupos de WhatsApp são o inverso da mídia de massa. Ali é um microuniverso de nicho, onde as leis do resto do Universo não se aplicam. Informações as mais descabidas passeiam livres e altivas, na maior pose de verdade. Só que a assimetria da mídia pulverizada causa bolhas de realidades paralelas.

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Uma notícia falsa é compartilhada nos grupos que odeiam gente de azul. Aí, o povo pró-azul descobre a notícia que tá rolando e desmente nos grupos pró-azul. Mas o desmentido não chega nos pró-vermelho. Da mesma forma, o inverso acontece. Então, em cada grupo as inverdades são tomadas como verdade, e o desmentido não chega. Um grupo fica com ódio pela inverdade que viu como se verdade fosse, e o outro fica com ódio porque soube que uma inverdade foi dita. E ambos se acusam de manipuladores.

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E, como multiplicadores dessa treta, estamos nós, o povo. Somos fascinados pelo viés de confirmação, ou seja, de descobrir algo que confirme a certeza que queremos ter. Assim, antes mesmo da notícia virar a esquina, só pela sombra do título, lá vamos nós, o povo, distribuindo inverdades como se não houvesse amanhã.

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Por sinal, tem um candidato que disse que se eleito vai mudar o nome do Brasil pra Clayton. E que vai criar um imposto sobre o metro cúbico de oxigênio respirado. Acreditem, é verdade. Eu recebi um texto em caixa alta no WhatsApp dizendo isso, acompanhada de um áudio...