5 Jul 2021
Sem eventos há quase 15 meses, buffets de festa infantil fecham as portas

Com a pandemia e a proibição da realização de eventos, um ramo que parecia tão consolidado entrou em crise. As festinhas de criança, que aconteciam todos os finais de semana, sumiram. O que sobrou foram cortes de gastos, demissão de funcionários, tentativas de empréstimos, até que não teve mais jeito. Em Salvador, pelo menos oito casas de festa infantil tiveram que fechar as portas definitivamente. As que ainda se mantêm de pé, vão mal das pernas.
O Art Festa, uma das empresas pioneiras no ramo, precisou entregar o espaço físico alugado há cerca de 24 anos. A última festa realizada foi no dia 22 de março de 2020. Depois disso, com as portas fechadas por tantos meses e um aluguel sem negociação, a situação ficou insustentável em fevereiro deste ano. “É lamentável que um negócio de tantos anos, tão consolidado, tenha que terminar assim, mas não conseguimos evitar. Demitimos os cinco funcionários fixos, nos desvinculamos dos outros que prestavam serviço e fechamos”, diz o proprietário da marca, Diocleciano Neto, de 58 anos.
A Fantástica Fábrica, de 14 anos de existência, também chegou ao fim. A dona da marca, Nena Maia, de 54 anos, conta que está desempregada e enfrentou um período de depressão. “Hoje eu estou sem renda nenhuma, apenas meu marido está trabalhando. Foi um baque muito grande, eu tive até depressão, fiquei sem dormir por muito tempo. Foi muito difícil e, na verdade, ainda está sendo. E não sei o que vai ser do futuro”, desabafa.
O imóvel, que era alugado, foi devolvido em agosto de 2020 e os brinquedos foram guardados em um galpão, com risco de não voltarem mais a funcionar pelo desgaste do tempo sem uso. As 25 festas por mês e os cerca de 35 funcionários ficaram no passado. “Eu tinha 26 festas fechadas que não puderam ser realizadas por conta da pandemia e estou até hoje devolvendo esse dinheiro de forma parcelada. Ficamos sem renda nenhuma, com uma mão na frente e outra atrás. Não tinha como a gente fazer nada de festa em casa porque nosso serviço de comida e decoração era tudo terceirizado, a gente só tinha o espaço e os brinquedos”, conta Nena.
Outra marca que encerrou as atividades foi o buffet Planeta Festa. As duas unidades, uma no Imbuí e outra na Pituba, foram fechadas. Há três semanas, um comunicado publicado em uma rede social informou o fechamento, após 25 anos de história. “Não sobrevivemos a essa pandemia terrível , após 14 meses impedidos de funcionar e sem previsão de retorno. Procuramos nos consolar que esse fechamento não foi em vão. Foi para salvar vidas. Em nome da saúde coletiva”, diz a nota. A publicação também informa que o acervo, como pelúcias e brinquedos, estão sendo vendidos.
Também através das redes sociais, o buffet Planeta Encantado informa que foi vendido para o buffet Mundo Caramelo. Já o Mundo Ludik, também tradicional no ramo, está com telefones para contato e redes sociais desativadas. Segundo proprietários de outras casas, o Mundo Ludik fechou as portas. A Casa Mágica já inseriu o aviso “Permanentemente fechado” na página de pesquisa na internet. A casa de eventos Balada Hall, que também realizava festas infantis, mas tinha como alvo o público teen, encerrou as atividades no mês passado. O tradicional buffet Balão Mágico já tinha encerrado as atividades no espaço físico antes da pandemia e agora segue com serviço de locação de objetos para festas.
Outra casa de festa infantil tradicional que chegou ao fim foi o Buffet Festeleco, de 20 anos de existência. Uma das sócias, Priscilla Nascimento, de 52 anos, conta que mantinha dois espaços de festa e, com a pandemia, precisou escolher. “A gente viu, no início ainda da pandemia, que não ia ser possível manter o Festeleco. Porque eram duas casas, com custo fixo e pesado. Então decidimos vender a marca Festeleco, que já tinha uma história, e apostar no buffet Brinkaê, que abrimos por volta de 2015”, explica.
O espaço, na Pituba, foi fechado, os clientes foram comunicados, os 30 funcionários foram demitidos e, agora, as sócias tentam vender a marca. “É lamentável porque é uma empresa de 20 anos de existência, com um nome consolidado, uma clientela enorme, uma das mais antigas e mais conhecidas casas de festa infantil aqui de Salvador, que já chegou a fazer 54 festas em um mês”, diz Priscilla.
O Brinkaê segue de pé, vendendo kits de atividades lúdicas para crianças e fazendo festas pequenas nas casas dos clientes, mas o cenário não é de alívio. “Pagamos um aluguel pesado e diversos impostos sem isenção. A gente fazia por volta de 30 festas por mês e isso foi reduzido praticamente a zero”, ressalta Priscilla.
O Buffet Pingo Mágico, fundado em 2007, também vem conseguindo se manter, mas com dificuldades. A dona da marca, Maria Bernadete Bahiense, de 55 anos, reclama da proibição do funcionamento. “Tem muita gente fazendo festa em casa, no salão de festas, em restaurantes e nós, que temos um espaço apropriado para receber esse tipo de evento, com segurança e protocolos, estamos impedidos de funcionar”, questiona.
Maria Bernadete conta que precisou vender veículos da empresa e também veículos particulares, além de uma sala de escritório. Dos sete funcionários, quatro foram demitidos e três são mantidos para segurança, limpeza e a parte administrativa. “Eu sigo pagando o aluguel porque não quero perder o estabelecimento. Mas não sei nem se estou fazendo o certo, só o futuro vai dizer”, pontua ela.
“Água, luz, TFF, IPTU e outras contas mais não deixaram de chegar. A situação é caótica. Os clientes que tinham suas festas já pagas nos abordaram para pedir o dinheiro de volta, muitos deles de forma não compreensiva. Tínhamos mais de 50 festas vendidas. E nós fomos devolvendo o dinheiro, achando que ia ser uma coisa que não iria demorar tanto. Devolvemos mais de 20 festas e o capital foi indo embora. A própria demissão de funcionários, para cortar gastos, tem um custo alto”, diz.
A alternativa de fazer festas em casa, que algumas empresas adotaram, não funcionou para ela. “Fiz uns três eventos assim, mas foi tanta gente fazendo que ficou difícil. Teve muita gente desempregada, informal mesmo, que investiu nisso fazendo tudo da sua própria casa. Aí não tem como você colocar uma empresa grande competindo com essas pessoas porque o nosso custo é mais alto e não podemos fazer pelo mesmo preço que eles fazem. O cliente tenta barganhar e mal dá para cobrir a mão de obra”, finaliza Maria Bernadete.
A crise nas casas de festa atinge todo o mercado já que, a elas, estão associadas empresas de alimentação, decoração, segurança, dentre outras. Esse é o caso do Buffet Marconi’s, que trabalha com aluguel de brinquedos e de barraquinhas de guloseimas, como carrinho de crepe e de mini pizza. O proprietário, Marconi Assis, de 53 anos, diz que atua há 30 anos no ramo de festas e que, hoje, retrocedeu para o início do seu negócio.
“Eu tinha uma condição financeira muito boa e isso tudo foi um baque muito grande para mim. Eu regredi muitos anos nesse negócio, voltei para o começo de tudo, quando eu fazia as coisas sozinho, sem muita estrutura. Mas tenho amigos que estão numa situação ainda pior, trabalhando de motorista de aplicativo, está difícil para todo mundo”, desabafa ele.
Com a pandemia, ele ficou seis meses sem atividade e demitiu os seis funcionários que tinha. “Hoje eu só me mantenho porque eu fiz investimentos quando o buffet estava 100% e porque já tinha estrutura própria de carro, caminhão, meu espaço físico. Se eu estivesse hoje tendo que pagar aluguel, já teria fechado as portas de vez, com certeza”, acrescenta Marconi. ( via Carolina Cerqueira).
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