20 Jan 2024
Saiba quem é o único brasileiro entre os 268 multimilionários que pediram aos líderes globais para pagar mais impostos
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Entre eles, há herdeiros de grandes empresas, como Ise Bosch, da Bosch; Abigail Disney, da Disney; Valerie Rockefeller, da célebre família norte-americana; e figuras como Brian Cox, ator da série "Sucession". Também figura entre eles um brasileiro: o empresário João Paulo Pacífico, de 45 anos. Formado em Engenharia, ele é fundador do grupo de investimentos Gaia, responsável por movimentar mais de R$ 20 bilhões e que ele doou, em 2022, a uma ONG para viabilizar projetos de impacto social.
"Quero ter dinheiro e trabalhar, mas não quero mais ser dono. Serei o diretor da ONG, receberei salário, mas todo lucro passará a ser investido em impacto social e ambiental. Também sou contra a ideia de minhas filhas nascerem donas - terão toda condição possível, mas não herdarão a empresa", disse, na ocasião. Com a doação, a empresa continuou existindo no mesmo modelo, mas os sócios deixaram o cargo e seguiram na companhia como funcionários. "Não adianta eu querer reduzir a desigualdade social e continuar acumulando recursos", disse ele em entrevista ao Valor Econômico.
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Logo no começo da carreira, Pacífico partiu para o lado dos investimentos. Teve como professor Gustavo Franco (ex-presidente do Banco Central) e, depois de algumas decepções no mercado, resolveu fundar a própria empresa – e à sua própria maneira. "Em 2009, montei minha primeira empresa (GaiaSec), dei sorte que ela foi bem e logo montei a segunda (GaiaServ). Depois, foi a vez da Gaia Esportes e aí foi em série: Espaço Gaia (já fechou), Gaia Agro, Renova, GaiaFit (já fechou), Gaia Cred e, por fim, a mais legal, a Gaia+, nossa ONG que ajuda na educação de crianças carentes", conta o empresário, ao descrever sua trajetória profissional. Vale ressaltar que o Grupo Gaia foi considerado o maior especialista em securitização do mercado brasileiro, atuando em diferentes áreas.
Defensor de que o ambiente de trabalho é também lugar de ser feliz, mesmo a área de investimentos sendo conhecida por ter ambientes sisudos, João Pacífico sempre priorizou a leveza. "Na Gaia, tudo é meio diferente. Temos sala de meditação, contratamos um funcionário com Síndrome de Down, todos podem virar sócios da empresa, há passeio pra cachoeira e, por aí, vai... Em 2019, levamos a empresa toda pra Disney", conta o empresário que é autor de dois livros: "Onda Azul: 5 passos para você formar uma equipe feliz" e "Seja Líder Como o Mundo Precisa". Em 2018, ele virou apresentador de programa de rádio, o Felicidade iLtda, na Globo FM, que durou até o fechamento da rádio.
"Adoro aprender, criar, fazer e ensinar. Quero ajudar a fazer do mundo um lugar melhor. Adoro me divertir e fazer esportes. Ao empreender, consigo juntar tudo isso". É assim que o empresário cabeludo, que tem cara de nerd e usa boné do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) se descreve no Linkedin, rede social em que é influenciador, com mais de 450 mil seguidores. Ele não é mais um que aderiu a modinha. João não só acredita, como investe na causa. Sempre conciliando lucro e propósito, o Grupo Gaia deu origem a diversos projetos de alto impacto social, financiando cooperativas ligadas ao MST, reformas de casas em comunidades, apoio a alunos e professores da rede pública e também fazendo negócios com grandes empresas. Em 2021, os títulos emitidos pelo Grupo Gaia para o movimento chegaram a R$ 17,5 milhões, destinados a sete cooperativas.
Agora, ao se unir a multimilionários do mundo inteiro para pedir para pagarem mais impostos, ele questiona se é justo que 129 milhões de brasileiros tenham ficado mais pobres desde 2020, ao mesmo tempo em que quatro dos cinco bilionários mais ricos do Brasil aumentaram suas rendas em 51% nesse período. "Isso mesmo! Segundo a OXFAM, os super ricos ficaram mais ricos e a classe trabalhadora empobreceu. E isso não foi só no Brasil, no mundo aconteceu a mesma coisa. Os cinco mais ricos mais que dobraram de patrimônio desde 2020 e 5 bilhões de pessoas ficaram mais pobres. Enquanto isso, as pessoas aplaudem bilionários que contribuem com a falência da sociedade. Minha opinião é tributar de forma progressiva as pessoas, quanto mais rico, mais imposto proporcional a pessoa deve pagar e implantar a renda básica universal, todo mundo tem o direito de ter uma renda digna", defende Pacífico.
Confira a carta dos super ricos para os líderes de Davos:
"Estamos surpresos por vocês não terem respondido a uma pergunta simples que fazemos há três anos: quando vocês irão taxar a riqueza extrema? Se os representantes eleitos das principais economias do mundo não tomarem medidas para enfrentar o dramático aumento da desigualdade econômica, as consequências continuarão a ser catastróficas para a sociedade.
Nossa busca por impostos mais justos não é radical. Pelo contrário, é uma demanda por um retorno à normalidade baseado em uma avaliação sóbria das condições econômicas atuais. Somos as pessoas que investem em startups, moldam mercados de ações, fazem crescer os negócios e promovem um crescimento econômico sustentável. Também somos as pessoas que mais se beneficiam do status quo. Mas a desigualdade atingiu um ponto de inflexão, e seu custo para nossa estabilidade econômica, social e ecológica é grave – e cresce a cada dia. Em resumo, precisamos de ação agora.
Nosso pedido é simples: pedimos a vocês que nos tributem, os mais ricos da sociedade. Isso não alterará fundamentalmente nosso padrão de vida, nem privará nossos filhos, nem prejudicará o crescimento econômico de nossas nações. Mas transformará a riqueza privada extrema e improdutiva em um investimento para o nosso futuro democrático comum.
A solução para isso não pode ser encontrada em doações pontuais ou em filantropia; a ação individual não pode corrigir o atual desequilíbrio colossal. Precisamos de nossos governos e nossos governantes para liderar. E, assim, voltamos a vocês novamente com o pedido urgente de que ajam – unilateralmente no nível nacional e em conjunto no cenário internacional.
Cada momento de atraso consolida o perigoso status quo econômico, ameaça nossas normas democráticas e transfere a responsabilidade para nossos filhos e netos. Não queremos apenas ser mais taxados, mas acreditamos que devemos ser mais taxados. Ficaríamos orgulhosos de viver em países onde isso é esperado, e orgulhosos de líderes eleitos que constroem futuros melhores. Como os membros mais ricos da sociedade, ficaríamos:
Orgulhosos de pagar mais para combater a desigualdade extrema.
Orgulhosos de pagar mais para ajudar a reduzir o custo de vida para os trabalhadores.
Orgulhosos de pagar mais para educar melhor a próxima geração.
Orgulhosos de pagar mais por sistemas de saúde resilientes.
Orgulhosos de pagar mais por uma infraestrutura melhor.
Orgulhosos de pagar mais por uma transição verde.
Orgulhosos de pagar mais impostos sobre nossa riqueza extrema.
O valor de sistemas tributários mais justos deveria ser evidente por si mesmo. Todos sabemos que a "economia do derramamento" não se traduziu em realidade. Em vez disso, nos deu salários estagnados, infraestrutura deteriorada, serviços públicos falhos e desestabilizou a instituição da democracia. Criou um sistema econômico vergonhoso incapaz de proporcionar um futuro mais brilhante e sustentável. Esses desafios só piorarão se vocês não enfrentarem a desigualdade extrema de riqueza.
A verdadeira medida de uma sociedade pode ser encontrada não apenas em como ela trata seus mais vulneráveis, mas no que ela pede aos seus membros mais ricos. Nosso futuro é de orgulho fiscal ou vergonha econômica. Essa é a escolha.
Pedimos a vocês que deem esse passo necessário e inevitável antes que seja tarde demais. Faça seus países se orgulharem. Taxem a riqueza extrema.
Atenciosamente,
Os signatários".
* Foto: Divulgação.
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