Queridinho de gringos e famosos e tema de documentário da Netflix: Restaurante de Dona Suzana completa 10 anos

“Oi. Tudo bem? Pode entrar! Fica à vontade!”. Assim, munida de um avental, uma touca na cabeça e um sorriso no rosto, Dona Suzana recebe os clientes na porta do RéRestaurante, na comunidade do Solar do Unhão, em Salvador. A maioria parece tímida, como se estivesse entrando na casa de alguém porque, de fato, é como se fosse exatamente isso. O espaço que o restaurante ocupa desde 2013 era onde morava a cozinheira. Há cinco meses, a moradia passou para o andar de cima. 

O ambiente é acolhedor e simples. O luxo fica por conta da explosão de sabores da comida que aprendeu a fazer com a mãe e da vista de tirar o fôlego para a praia de pedras do Solar do Unhão, na Baía de Todos os Santos. O conjunto de peculiaridades é sucesso nacional e internacional. Não se espante ao escutar alguém falando inglês, francês ou italiano, por exemplo, nas mesas ao redor.
 
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“Eu não entendo a língua deles, eu falo a minha língua. Então eu vou me virando como dá, aponto para o cardápio, faço gesto, mímica. Às vezes até os próprios clientes ajudam”, diz Dona Suzana, aos risos. 

Como ela mesma reconhece, seu restaurante já virou ponto turístico da cidade. “Tem gente que vem me procurando, querendo conhecer, conversar, tirar foto”, diz ela. Já estiveram por lá nomes como Regina Casé e Humberto Carrão, e Dona Suzana já recebeu encomendas especiais de Carlinhos Brown e Luiz Caldas, por exemplo. 

“Carlinhos Brown fez uma festa ali em cima e depois mandou recado para mim dizendo que vinha almoçar, que era para eu preparar uma comida boa. Luiz Caldas também mandou eu preparar uma moqueca de banana da terra para ele”, conta.
 
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No cardápio (escrito em português e inglês), moqueca de camarão, moqueca de peixe, moqueca de arraia, moqueca de banana, ensopado de camarão, ensopado de peixe e peixe frito. Os pratos servem duas pessoas. Nos acompanhamentos, arroz, feijão fradinho, pirão e farofa. Também há feijoada aos domingos e comida baiana às sextas. De tira-gosto, porções menores de camarão grelhado, peixe frito com farofa e salada e carne do sol com farofa e salada.
 
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Os ingredientes principais, revela Dona Suzana, vêm das pescas que o marido, Antônio, faz. “Vem de lá da Gamboa para cá. Quando não é meu marido que pega, é meu sobrinho, meu neto”. Dentro da cozinha e no atendimento, mais membros da família. Dona Suzana já esteve por muito tempo à frente do fogão, mas agora delega a função ao filho, Márcio. 

“Eu ainda vou para a cozinha de vez em quando, quando ele não está. Mas o responsável mesmo agora é ele, eu supervisiono. Fico lá e fico cá, atendendo o pessoal, vendo tudo para ficar tudo direitinho”, diz, orgulhosa da administração que faz. “Era eu, meu marido e meus dois filhos no começo. Depois é que cresceu e aí veio neta, neto, todo mundo para ajudar”, acrescenta. 
 
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Documentário da Netflix

A comida de Dona Suzana fez tanto sucesso que foi parar em uma série documental da Netflix: “Street Food: América Latina”, lançada em 2020. Nela, chefs latinos contam suas histórias e mostram a tradição e cultura por trás dos pratos que servem. Um dos seis episódios é dedicado a Salvador, mostrando acarajé, feijoada, pirão de aipim e, claro, a moqueca de Dona Suzana. 

“Um dia apareceu aqui um francês, filmou a comida, levou um pouco de avião para a França. Um italiano também chegou a me chamar para cozinhar na Itália. Aí isso chegou nos americanos que estavam querendo comida de rua latina. Veio gente aqui, tirar foto, me ligaram, conversaram comigo”, lembra Dona Suzana, que diz ter ficado tímida com as câmeras: “Morta de vergonha! Morta de vergonha mesmo”. 
 
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Mas, apesar da fama, a chef garante: “Eu me senti muito bem, maravilhosa e feliz da vida. Foi ótimo! Mas ainda sou a mesma, não mudei nada não”. 

Como tudo começou

Suzana de Almeida Sapucaia, hoje com 66 anos, começou a trabalhar lavando roupa para fora. Um dia, um empreiteiro a contratou para fazer comida para funcionários durante obras nos telhados da comunidade. “Mas sumiram, nunca me pagaram. Aí eu fiquei triste, não quis mais saber de vender comida”, conta. 

Mas fazia parte dos planos do destino que Dona Suzana fosse chef de cozinha e dona de restaurante. “Um dia eu estava sentada aqui na porta quando chegou um pessoal que estava fazendo grafite por aqui procurando um lugar para almoçar. Eu disse: ‘Aqui não é restaurante, não’. Mas eles insistiram, disseram que pagavam adiantado pelas refeições e aí me convenceram”. 

Os grafiteiros em questão fazem parte do M.U.S.A.S (Museu de Street Art Salvador, uma organização sem fins lucrativos que busca transformar comunidades através do grafite). Foram eles que começaram a divulgar, através das redes sociais, a comida de Dona Suzana. E foi chegando cada vez mais gente. “Eu nem tinha cadeira, tinha gente sentando pelo chão”, lembra a chef. 
 
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Foi aí que, em 2013, Dona Suzana recebeu um presente. “Eles me trouxeram um negócio enorme, todo embalado bonito. Eu achando que era um quadro, sei lá. Quando abri, era a placa”. A famosa placa com o dizer “RéRestaurante - Dona, Suzana” e um garfo, uma faca, uma colher e uma pimenta pintados foi revolucionária. 

“Foi aí que eu me senti cozinheira de verdade e eu falei: ‘É, agora eu tenho um restaurante’”. O nome do estabelecimento faz referência ao jeito arrastado de falar de Dona Suzana. “A ideia foi uma brincadeira do grafiteiro, fazendo hora com a minha cara, gozando com o meu jeito de falar porque eu sou gaga”, diz a cozinheira. 
 
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Ela revela um carinho enorme por aqueles que a descobriram e a divulgaram. “Eu agradeço a Deus, às donas das águas e aos grafiteiros”. Diz também manter contato até hoje com os grafiteiros e que encomendou uma reforma na placa, que já carrega uma década de existência. 

Como chegar

Para chegar ao RéRestaurante não tem muito segredo. Suba a Avenida Contorno, faça como quem vai entrar no Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA), mas não desça a ladeira, pegue o acesso à esquerda. Aí é só ir em direção ao emaranhado de casinhas, escadarias e paredes cobertas de grafites. Qualquer dúvida, pergunte por Dona Suzana e todos vão saber dizer onde fica o restaurante. 

O RéRestaurante (@donasuzanarerestaurante) funciona de segunda a domingo, das 11h às 18h. Para mais informações, basta entrar em contato através do telefone e WhatsApp (71) 98795-7666

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​Fotos: Carolina Cerqueira/AlôAlôBahia e Reprodução/Redes Sociais.

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