Prefeituras vão pagar até R$ 700 mil de cachê por artistas no São João da Bahia

Com informações do Correio24Horas

* Por Maysa Polcri para o jornal Correio

Com a intenção de garantir grande público nas festas de São João deste ano, cidades do interior baiano gastam até R$ 700 mil em apenas uma única atração musical. Os municípios de Candeias, Euclides da Cunha, Itabuna e Jequié têm em suas programações o cantor Wesley Safadão, que cobra o cachê mais caro entre todos os artistas que vão se apresentar no estado. E os gastos não param por aí. Só com atrações musicais, as dez cidades que mais investiram somam um montante de R$ 27 milhões.

Depois de Wesley Safadão, os artistas que receberam os maiores cachês são Zé Neto e Cristiano (R$ 650 mil), Bruno e Marrone (R$ 500 mil), Leonardo (R$ 500 mil), João Gomes (R$ 490 mil) e Mari Fernandes (R$ 460 mil). Nenhuma das atrações musicais possui como gênero musical o forró tradicional e todas são de fora da Bahia. Para ter noção do preço, o cachê mais caro da lista é suficiente para bancar ao menos oito shows de bandas como Estakazero e Trio Nordestino, que subirão aos palcos no São João por R$ 80 mil.

As informações sobre os gastos públicos das cidades baianas com as contratações de artistas estão reunidas no Painel de Transparência dos Festejos Juninos dos Municípios do Estado da Bahia. A ferramenta foi lançada nesta semana pelo Ministério Público da Bahia (MP-BA) e é formada por dados que as cidades disponibilizaram voluntariamente. Até agora, 174 municípios já informaram sobre seus gastos, que ultrapassam os R$ 186 milhões. Ao todo, 2.167 artistas foram contratados para se apresentarem nas festas.

Além de ter contratado o artista mais caro, a cidade de Candeias, no recôncavo, é a que mais gastou com os cachês de músicos entre os municípios que repassaram as informações ao Painel. São R$ 3,4 milhões investidos nas oito atrações que se apresentarão entre os dias 22 e 25 de junho. “É um município que tem condições de fazer esse investimento, que trará muito mais recursos para a cidade e vai gerar postos de trabalho”, defende Felipe Magno, secretário de Emprego e Renda de Candeias.

Aparece na lista das cidades que mais gastaram com atrações musicais os municípios de Senhor do Bonfim (R$ 3,2 mi), Irecê (R$ 3,1 mi), Serrinha (R$ 3,1 mi) e Jequié (R$ 3 mi). O Painel da Transparência só leva em consideração os gastos públicos de origem.

Todas as cidades citadas foram procuradas, através de suas assessorias de imprensa, para comentar o assunto, mas nem todas responderam aos questionamentos. De acordo com o painel, Salvador desembolsou R$ 330 mil para a contratação de 16 artistas que se apresentarão na capital.

Aldo Rebouças, diretor da Fundação de Cultura de Itabuna, defende que o gasto de R$ 700 mil com apenas uma atração é uma forma de atrair o público para a cidade. Por lá, a gestão municipal vai investir R$ 4 milhões nos festejos. “Toda uma cadeia é beneficiada com os investimentos e quando buscamos grandes nomes do cenário nacional queremos ampliar o fluxo de pessoas para a cidade”, ressalta.

Em nota, a prefeitura de Irecê, a terceira cidade com maior gasto, informou que espera receber 500 mil pessoas nos cinco dias de festa e afirmou que 40% das despesas com o São João são custeadas por patrocinadores, Governo do Estado e emendas parlamentares. Já a prefeitura de Jequié, uma das quatro cidades a fazer a contratação de Wesley Safadão, afirmou que vai investir R$ 5 milhões em recursos próprios para a realização da festa. Patrocínios de uma cervejaria e do governo estadual somarão R$ 1 milhão no município.

Variação de cachês

A disponibilização dos dados sobre as contratações dos artistas para o São João acende um alerta para a diferença dos preços cobrados pelos mesmos artistas. Nadson O Ferinha é a atração que mais se apresentará nos festejos juninos na Bahia, com 13 shows no total. O menor valor cobrado pelo artista foi R$ 90 mil, em Salinas da Margarida, e o mais caro, R$ 150 mil, em Conceição do Jacuípe. Questionada sobre a diferença de R$ 60 mil, a assessoria do cantor disse que não ia comentar o assunto.

O feirense Thiago Aquino é outro que cobrou valores diferentes para subir nos palcos. Em Jucuruçu, o valor cobrado foi R$ 200 mil, enquanto que em Coração de Maria o cachê foi de R$ 350 mil. A assessoria do cantor justificou a variação de preços pela lei da oferta e procura. “O show em Coração de Maria é no dia de São João [...] a procura pelo show é alta e o preço tende a subir”, informou.

Frank Ferrari, coordenador do Centro de Apoio Operacional às Promotorias de Justiça de Proteção à Moralidade Administrativa (Caopam), explica que o Painel da Transparência pode ajudar na detecção de irregularidades. “O banco de dados pode, eventualmente, ajudar a detectar desvios de um preço médio. Isso não é algo conclusivo por si só, mas serve como um alerta”, explica o promotor de Justiça.

No ano passado, festejos de cidades baianas foram suspensos a pedido do Ministério Público (MP) depois que valores gastos por prefeituras foram considerados desproporcionais. O “São João do Sessentão", em Wenceslau Guimarães, e a “Festa das Bananas”, em Teolândia, foram algumas em que o MP constatou irregularidades. Neste ano, não há perspectiva de suspensão de festas, de acordo com Frank Ferrari.

Atrações de fora do estado são maioria e ganham mais

Das 20 atrações musicais que mais farão apresentações durante o período junino no estado, apenas quatro são baianas. Adelmário Coelho, Toque Dez, Tayrone e Kevi Jonny representam 20% dos artistas mais contratados pelas prefeituras no São João. A preferência por atrações de fora da Bahia segue a tendência dos últimos anos nas festas no estado.

Já os cantores baianos que cobram os cachês mais caros para se apresentar no São João não tocam forró. É o caso do cantor Bell Marques, que vai se apresentar em Santo Antônio de Jesus e cobrou R$ 450 mil, e Léo Santana, que tem cachê de R$ 390 mil. A terceira artista baiana mais bem paga é Solange Almeida, com cachê de R$ 250 mil. Em seguida aparece o cantor Saulo Fernandes, que se apresenta em Itaberaba por R$ 230 mil.

Apesar do painel ser um avanço na transparência dos municípios baianos, 59% das cidades baianas não disponibilizaram seus dados para a plataforma. Entre as cidades que não divulgaram seus valores está Cruz das Almas, Wenceslau Guimarães, Mucugê e Cachoeira.

Foto: Rosilda Cruz/Sufotur.

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