1 Mar 2023
PGE-BA vai acionar MPs contra vereador gaúcho que atacou baianos; político foi expulso do partido

A procuradoria foi acionada pelo governador do Estado da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), depois das falas de Fantinel contra os baianos, sobre o caso de trabalhadores em situação análoga à escravidão resgatados em vinícolas no Rio Grande do Sul. A maior parte dos trabalhadores era da Bahia.
Após o caso, o vereador foi expulso do partido, o Patriota, nesta quarta-feira (1º). O partido classificou o discurso de Fantinel como "desrespeitoso e inaceitável" e disse que o tom foi maculado por "grave desrespeito a direitos constitucionalmente assegurados", como a dignidade humana.
Para a RBS TV, na manhã desta quarta, ele afirmou que sua intenção foi advertir os produtores a terem "um certo cuidado". "Porque existem alguns grupos que estão dando golpes usando a questão da analogia à escravidão", disse.
Relembre o caso
Na tribuna da Câmara de Vereadores da cidade gaúcha, ontem, o vereador questionou a repercussão do caso de situação análoga à escravidão e disse frases preconceituosas contra baianos. O parlamentar pediu que os produtores da região "não contratem mais aquela gente lá de cima", se referindo a trabalhadores vindos da Bahia e afirmou que "a única cultura que os baianos têm é viver na praia tocando tambor".
Na fala, Sandro Fantinel culpa os empregados pelas condições em que foram encontrados. "Um agricultor me ligou e pediu para eu ver um alojamento onde ficam os trabalhadores temporários e não dava para entrar do fedor de urina, da imundície que eles deixaram em uma semana. E a culpa é de quem? O patrão vai ter que pagar o empregado para fazer limpeza para os bonitos? Temos que botar eles em um hotel cinco estrelas para não termos problema com o Ministério do Trabalho?", questionou, antes de citar os baianos.
Em seguida, se dirigindo às empresas agrícolas e aos agricultores do Rio Grande do Sul, ele diz: "Não contratem mais aquela gente lá de cima. Contratem argentinos. São limpos, trabalhadores, corretos e quando vão embora ainda agradecem pelo trabalho".
Em sessão gravada, o vereador continua: "Nunca tivemos problema com um grupo de argentinos. Agora com os baianos, que a única cultura que eles têm é viver na praia tocando tambor, era normal que se fosse ter esse tipo de problema. E que isso sirva de lição. Que vocês deixem de lado esse povo que está acostumado com Carnaval e festa", continua.
Por fim, Fantinel questiona a condição de escravidão que foi denunciada, mencionando que alguns dos trabalhadores que estavam no local não queriam deixar o lugar.
"Se estava tão ruim a escravidão, porque eles não quiseram deixar a empresa? Vamos abrir o olho quando eles falam em 'trabalho análogo a escravidão", finaliza. Dos 207 resgatados, 198 são da Bahia. Desses, 194 retornaram e quatro preferiram ficar no Rio Grande do Sul.
Fuga e resgate
O relato de três trabalhadores aos agentes da Policia Rodoviária Federal (PRF) de Bento Gonçalves, cidade situada na Região Serrana do Rio Grande do Sul, levou à descoberta de um galpão com cerca de 240 trabalhadores em condições análogas à escravidão, segundo o Ministério Público do Trabalho. Grande parte das vítimas veio da Bahia. Eles foram resgatados no município vizinho de Caxias do Sul - polo produtor de uvas e vinhos finos das serras gaúchas.
Ao divulgar o caso na sexta-feira (24), a PRF não revelou as identidades das vítimas. Após o resgate, os trabalhadores contaram aos policiais que foram contratados para trabalhar em vinícolas, colhendo uvas em Caxias do Sul. Foi garantido ao grupo salário de R$ 3 mil, acomodação e alimentação. Na chegada, contudo, encontraram condições desumanas.
De acordo com os relatos, os trabalhadores foram colocados em um alojamento em condições precárias, mal iluminado e com ventilação escassa. Durante as refeições, recebiam alimentação estragada. Os salários era pagos com atraso, e as vítimas contaram que eram coagidas a permanecer no local, sob pena de pagamento de multa por quebra do contrato de trabalho. Uma arma de choque e um spray de pimenta foram apreendidos no alojamento.
Havia ainda longas jornadas de serviço e também castigos físicos, narraram as vítimas. A PRF divulgou um vídeo nas redes sociais do momento em que os trabalhadores foram resgatados.
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