Papa Francisco completa 10 anos à frente da Igreja Católica visto como 'corajoso'

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O Papa Francisco completa 10 anos à frente da Igreja Católica nesta segunda-feira (13) e, em torno da data, tem dado diversas entrevistas, como à concedida à rede pública de Rádio e Televisão Suíça (RSI), em que disse que poderia renunciar em breve em função do cansaço no corpo. Temas como casamento gay, métodos contraceptivos e aborto têm sido tratados em seu pontificado com uma visão pastoral de acolhimento, sem indícios, no entanto, de mudança em condutas históricas.

"Ele vai passar para a história como um papa corajoso, que teve a audácia de mexer em áreas muito sensíveis. Ele toca na ferida. Mas, aos olhos do mundo, parece que não avançou tanto", disse o teólogo, historiador e filósofo Gerson Leite de Moraes, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em entrevista à BBC News. Segundo ele, muitos problemas não são resolvidos "porque há uma estrutura milenar, de poder" e seria preciso algumas gerações com a mesma mentalidade de Francisco para que mudanças reais acontecessem.

Um dos temas espinhosos é o fim da obrigatoriedade do celibato clerical, assim como os discursos pregando tolerância zero para casos de abusos sexuais - em especial os casos de pedofilia - praticados por religiosos. Segundo especialistas, no entanto, coibir, investigar e punir em uma instituição tão capilarizada é tarefa difícil e, na questão dos costumes, as dificuldades se resumem no paradigma de tentar equilibrar 2 mil anos de doutrinas com comportamentos e realidades do mundo contemporâneo.

A participação feminina é outro tema caro a Francisco, que, em abril de 2020, determinou a criação de uma comissão para estudar o diaconato feminino, que possibilitaria que mulheres fossem ordenadas diaconisas, assumindo funções ainda restritas a homens, como a celebração de batismos e casamentos. A resistência interna grande na Cúria Romana pode inviabilizar essa mudança ainda dentro do atual pontificado.

"Vejo, com prazer, como muitas mulheres partilham responsabilidades pastorais juntamente com os sacerdotes, contribuem para o acompanhamento de pessoas, famílias ou grupos e prestam novas contribuições para a reflexão teológica. Mas ainda é preciso ampliar os espaços para uma presença feminina mais incisiva na Igreja", escreveu o papa, em novembro de 2013, na exortação apostólica Evangelii Gaudim, uma espécie de plano de governo do seu pontificado.

Sob o comando de Francisco, o Vaticano viu o número de funcionárias mulheres da Cúria aumentar de 846 para 1165. A maior parte delas está no sexto ou no sétimo níveis, numa escala de 10 níveis da carreira. Elas representam, hoje, 26% dos cargos, ante 19%. Seis mulheres, inclusive, ocupam cargos que ultrapassam o décimo nível e dependem de nomeação direta do papa, como subsecretárias e a religiosa italiana Alessandra Smerilli, nomeada em 2021 como secretária do Dicastério para o Serviço de Desenvolvimento Humano Integral.

"A reforma de Francisco é grandiosa, mas sua execução não depende só dele", resume a pesquisadora da Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma, a vaticanista Mirticeli Medeiros, para quem o papa instaurou e insinstitucionalizou "uma verdadeira pastoral da acolhida", com um "apelo de ir ao encontro às pessoas marginalizadas".

Foto: Getty Images/Reprodução BBC. Também estamos no Instagram (@sitealoalobahia), Twitter (@Aloalo_Bahia) e Google Notícias.

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