9 Oct 2020
Márcia Short: 'A pandemia me adoeceu, eu pirei mesmo'
Cria do Engenho Velho de Brotas, ela deixou o bairro onde nasceu no final do ano passado para morar num apartamento maior no bairro de Nazaré. Assim a sua família teria mais espaço. Foi um acerto e tanto: "graças a Deus, porque se tivesse todo o mundo apertadinho como era no lugar que a gente morava as coisas estariam ainda mais difíceis", disse em conversa por telefone.
A pandemia pegou a cantora de surpresa - assim como todo mundo. Junto ao coronavírus, vieram os diversos cancelamentos de shows e eventos que tinha marcado. E aí, como faz? Márcia Short conta que adoeceu. Pirou a cabeça mesmo e precisou de força para colocar no lugar.
"Eu pirei. Quando vem uma puxada de tapete dessas que impacta no seu rendimento, no que garante a sobrevivência, é desestabilizador. Fiquei muito tempo impactada com o prejuízo, com o fato de não ter onde cantar, de não ter pra quem cantar e de não estar preparada para esse mundo digital", conta.
Em sua volta ao palco, Márcia quer ser expressiva, inventiva e gigante ao fazer as pessoas dançarem e cantarem em suas casas, com suas músicas autorais e versões de canções de artistas como Chico César, Lazzo, Tonho Matéria, Jorge Ben e Moa do Katendê - outro ilustre morador do Engenho Velho de Brotas. Na última quinta (8), completaram-se dois anos do seu assassinato.
A apresentação tem Edivaldo Bolagi na direção geral e coordenação de produção executiva, Ayrson Heráclito, na direção artística, Pola Ribeiro, na direção de transmissão e edição e Adail Sccarpelini, na direção musical. A apresentação fica por conta de Josy Brasil e Carlos Messias Alves, como intérprete em libras.
"Colocar Josy ali enquanto mulher preta, mulher com deficiência, é jogar luz para uma realidade de exclusão que precisa ser revista. Ela vem provando que há capacidade sim e que temos que extrair o melhor de cada pessoa. Que felicidade a nossa de poder contar ela", disse.
Durante a transmissão do show, o público poderá doar valores que serão destinados à Associação de Pais, Amigos e Pessoas com Deficiência, de Funcionários do Banco do Brasil (APABB) e Associação Lar Vida. Mãe de Daniel, que tem autismo, Márcia diz que reverter o que conseguir levantar no seu show para essas instituições é também uma maneira de agradecer ao esforço empenhado por toda a sua rede de colaboração para colocar o projeto no mundo.
"Poder voltar a cantar, atuar no meu ofício estendendo a mão de uma causa tão nobre de um povo que vive à margem de tanta coisa assim como nós artistas alternativos pretos é comovente", contou.
O cenário terá a obra Bori, do artista visual baiano Ayrson Heráclito, um dos principais nomes da arte da diáspora africana. O trabalho, batizado com nome de um importante ritual de iniciação do candomblé, reúne 12 fotografias e mescla materiais orgânicos utilizados dentro da filosofia da religião de matriz africana, retratando a relação entre a arte e o sagrado, com representações dos orixás. ( via CORREIO).
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