6 Jun 2022
Jovem ucraniano de 18 anos escapa de lutar na guerra e se abriga em orquestra da Bahia

Portador de um visto humanitário, o rapaz de 18 anos tenta encontrar na Bahia as notas para seguir seus dias. Do dia pra noite, teve de sair de sua cidade natal, perto de Kiev, capital da Ucrânia, em meio aos bombardeios russos, no final de fevereiro. Aqui, encontrou abrigo e, em meio a tanta incerteza, a garantia de que, pelo menos, serão dias de música.
"Ninguém da minha família acreditava que a Rússia seria capaz de nos invadir. Isso não fazia sentido, mas de repente se tornou realidade", diz Illia ao repórter Victor Uchoa, do TAB Uol.
Estudante de música desde os 8 anos, especialmente canto, sanfona e bandura, instrumento de cordas típico da Ucrânia, ele precisou se afastar dos pais e encontrou conforto no Brasil, em novos instrumentos e ritmos.
"Há 15 anos, salvamos vidas no Neojiba. Esse intercâmbio certamente estimulará uma maior consciência e reflexão sobre o verdadeiro papel da prática artística em nossa sociedade. Esperamos também que os ucranianos possam adquirir conosco uma poderosa e necessária ferramenta de integração e paz social", observa Ricardo Castro, mestre fundador do grupo.
Atualmente, o musico está se adaptando ao grupo de cordas do núcleo, enquanto o Neojiba analisa ainda a viabilidade de encomendar uma bandura ou de integração através do Coro Juvenil.
"Estou muito feliz de estar aqui e gostaria muito de cantar no coro. Cantar no coro é diferente, mas quero muito ficar se for possível. Se der, quero participar de tudo", diz, rindo, sempre acompanhado de uma tradutora, que tem dado aulas de português ao jovem e ajudado a se adaptar à nova realidade.
Illia, por exemplo, precisou fazer cadastro no SUS para tomar a primeira dose da vacina contra a Covid-19, voltada apenas para maiores de 18 anos na Ucrânia, idade que ele só completou dias antes de estourar a guerra.
A maioridade, inclusive, foi sentida de uma forma diferente por ele. No dia da invasão russa, uma mobilização militar determinou que todos os cidadãos do sexo masculino de 18 a 60 anos não poderiam deixar o país, se disponibilizando para a guerra. Sua única chance seria provar que era um estudante com vaga certa em algum destino no exterior.
Ao saber do início dos bombardeios, Ricardo Castro se articulou com amigos e entidades parceiras para conseguir doações que viabilizassem os custos da iniciativa de, enquanto durar a guerra, receber na Bahia até dez músicos ucranianos com idades entre 16 e 28 anos. A maior parte dos recursos veio da Maestro Foundation, dos Estados Unidos.
Ex-aluna de Castro, a pianista russa Vasilisa Vshivkova ajudou a espalhar a mensagem sobre a ação, que foi batizada de “Neojiba Help Ukraine”, alcançando músicos e musicistas ucranianos, entre eles Illia imediatamente, que buscou apoio em outras instituições, tendo a resposta do Neojiba prontamente.
Com a carta de aceitação, foram 40 dias até chegar ao Brasil, pais do qual tinha poucas referências. "Tinha visto alguns documentários sobre o Carnaval e assisti à animação 'Rio'. Eram minhas referências do Brasil”, disse.
Até chegar aqui, foram seis tentativas frustradas de deixar a Ucrânia. Sem vacina, ainda teve que passar uns dias recluso. Após tanta dificuldade, ele se diz impressionado com a forma amigável como tem sido recebido. "É diferente da Ucrânia, aqui as pessoas são mais expressivas. Até sorriem para um desconhecido", diz o jovem que chegou a sonhar em morar perto do mar e divide a casa com as conterrâneas Olesia Matei (27, cantora lírica), Vladyslava Danyliuk (20, cantora lírica) e Mariia Sorokina (16, violinista).
"Música é paixão, é uma coisa sem limites. Por isso que dizem que é universal. A gente se entende sem falar a mesma língua”, reflete, sem esconder o desejo de voltar logo pra casa, quando a guerra acabar. “Só espero que acabe logo”.
Com informações do UOl.
Fotos: Victor Uchôa/UOL. Siga o insta @sitealoalobahia.