“Invisíveis da Mata”: documentário do Instituto Ori é lançado nesta sexta (5) e revela universo funghi

José Mion é jornalista, assessor de imprensa, apaixonado por Gastronomia e escreve para o Alô Alô Bahia.

O Instituto Ori, desde 2016, realiza expedições Bahia adentro, com o intuito de aproximar pequenos produtores do consumidor final e do mercado, promovendo estudos, pesquisas, desenvolvimento social, educacional, cultural e turístico em torno da ecogastronomia. Foi em uma dessas expedições científicas gastronômicas no Sul do estado que foi gravado o documentário "Invisíveis da Mata", que será lançado em grand premier nesta sexta-feira (5), na Sala de arte CineMAM, às 20h, em evento para convidados. Simultaneamente, o filme poderá ser assistido no YouTube.
 
Foram 4 dias de imersão na Mata Atlântica, em trecho do Parque Estadual da Serra do Conduru e Mata Cabruca, buscando identificar espécies comestíveis de cogumelos silvestres e leveduras selvagens em território baiano. "O reino fungi vai muito além dos cogumelos. Ele está fervendo no chão da mata, onde tem umidade e matéria orgânica", nos explica Caco Marinho, cofundador do instituto, se referindo ao processo de fermentação que conhecemos, realizado pelos fungos na produção de alimentos, bebidas e até de antibióticos, como a penicilina.
 
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“É um assunto que causa estranheza de cara pra muita gente. Associam cogumelos facilmente a tóxico ou alucinógeno.  Entendi que a premissa do filme começava por aí”, nos contou André Ávila, da Agência Hike, que atuou como diretor e roteirista da produção, que reuniu pesquisadores, cientistas, chefs de cozinha, acadêmicos, lideranças comunitárias e produtores familiares. Todos participaram da expedição com o objetivo de reconhecer esse alimento como um novo potencial de segurança e soberania alimentar.
 
É o caso dos produtores de cogumelos Nara Oliveira e João Coutinho, da região de Serra Grande, que mostraram ser possível o cultivo dos cogumelos na agricultura familiar. Eles desenvolveram um método bem adaptado aos quintais produtivos e ministram cursos compartilhando a experiência e conhecimento adquiridos, atuando, desde 2018, como educadores.
 
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"É importante que se fale, principalmente pra essa população da mata, e que ela reconheça, por exemplo, os cogumelos seguros que estão ali no seu quintal produtivo, e que possam domesticar essa produção de forma soberana, ainda mais em tempos de carne caríssima, com a segurança alimentar ameaçada e cogumelos sendo fontes comprovadas de proteína e outros nutrientes", destaca Caco, que também foi produtor executivo do filme.
 
Apesar de ter entrado no mercado brasileiro como um produto caro, da cozinha francesa e "esnobe", como relembra Caco, existem espécies que já se desenvolveram em solo nacional e baiano. A comitiva, inclusive, encontrou, só nesta expedição, 10 espécies comestíveis, que serão apresentadas em breve ao mercado, estimulando a economia da região e reforçando a soberania da população e produtores locais.
 
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"Nossa ideia é fazer uma garimpagem dos ingredientes identitários da Bahia, que, muitas vezes, nem o baiano conhece. É o caso das ostras nativas da Baía de Todos os Santos, do licuri, do umbu, da carne de fumeiro de Maragogipe, do mel de cacau, que antes era praticamente todo jogado fora...", segue Caco, que busca fazer um reconhecimento de valor dos produtos originais, abrindo mercado para pequenos produtores.
 
Participaram da expedição, além de Caco Marinho, Marcelo Sulzbacher (mestre e doutor em biologia dos fungos), Luiz Zaga (chef de cozinha e sócio fundador da Glamp Cogumelo), José Bezerra (professor há mais de 50 anos, mestre e doutor pela University of Florida), Nara Oliveira (mestre e doutora em Ecologia e Conservação da Biodiversidade), Coaracy (indígena Tupinambá da aldeia de Olivença), Leonardo Andrade e Fernando Goldenstein (fundadores da Cia dos Fermentados e Fermentare Escola de Fermentação), e pesquisadores baianos especialistas no reino fungi.
 
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“São fontes muito icônicas no filme, cada uma trazendo bagagem e muita informação. Temos mais ou menos 35 horas de material bruto, quase 8 TB de imagem, pra um filme final de 35 minutos. E, ainda assim, tratando um tema extremamente complexo e delicado com uma linguagem leve que a galera leiga, como eu, consegue absorver tranquilamente, passando uma mensagem humana muito forte, que sempre foi o nosso objetivo”, resume Ávila.
 
A expedição que virou documentário foi realizada pelo Instituto Ori, com apoio da Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR), por meio do Projeto Bahia Produtiva, da Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR) e financiado pelo Banco Mundial. Mais informações podem ser obtidas no @invisiveisdamata.
 
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Fotos: André Fofano. Também estamos no Instagram (@sitealoalobahia), Twitter (@Aloalo_Bahia) e Google Notícias.

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