Igreja do Bonfim pede que fiéis evitem visitação na última e primeira sextas-feiras do ano

Faltavam 15 minutos para o início da missa das 11h deste domingo quando uma grande fila de fiéis e visitantes se formou em frente à Basílica do Senhor do Bonfim, na Colina Sagrada. Mesmo com todos os esforços do padre Edson Menezes e dos integrantes da devoção, a igreja do Bonfim atraiu muito mais gente do que as 250 ou 300 pessoas permitidas durante as celebrações. Além do limite de fiéis, diversos protocolos visam evitar aglomerações neste fim e início de ano em um dos principais pontos turísticos de Salvador. 

Com a pandemia, a igreja do Bonfim montou uma estratégia para evitar que muitos visitantes cheguem no local ao mesmo tempo, especialmente nas datas tradicionais de visitação. Todos os anos, os dias preferidos costumam ser a última sexta-feira do ano e a primeira sexta-feira do ano seguinte. Para evitar a concentração apenas nesses dois momentos, padre Edson, reitor da basílica, criou a Semana da Gratidão e a Semana da Proteção, a primeira iniciada neste domingo. Serão 15 dias para que os fiéis marquem presença na igreja, evitando as sextas. Veja programação no final dessa matéria. 

"Ainda mais que o Natal, dia 25, vai cair na última sexta-feira do ano. Pedimos que os devotos evitem esse dia e a sexta-feira seguinte. Nossa intenção é desafogar o ambiente nestes dias mais disputados", explicou o padre, que em seu sermão aconselhou uma noite de Natal com distanciamento social. "Se forem reunir a família, usem máscara, não façam a ceia todos ao mesmo tempo, coloquem as mesas afastadas, higienizem as mãos", aconselhou o padre, dando exemplo de casos de infecção por covid-19 na própria família. Padre Edson falou do problema que a própria mãe enfrenta. "Minha mãe está muito doente. Domingo passado nós fomos lá vê-la. Eu e meus irmãos. Agora já tem um irmão meu infectado. E aí? Isso pode acontecer no Natal. A ação do vírus é real, os riscos são reais. Quando você menos espera alguém foi infectado"

Durante as semanas da Gratidão e da Proteção, a imagem peregrina do Senhor do Bonfim será colocada na praça, do lado de fora da igreja, para ser observada e venerada. Não será permitido, porém, toca-la. Do lado de dentro, para aumentar a capacidade de pessoas acompanhando as missas, cadeiras afastadas foram colcoadas nas laterais (nos acessos à sacristia e sala dos milagres) e no adro da basílica. Nos bancos principais, de madeira, os fiéis cumprem distanciamento social com as sinalizações. A capacidade total fica entre 250 e 300 pessoas. O número varia porque familiares que moram na mesma casa podem sentar juntos. 

Além dos bancos, o piso é todo sinalizado e há álcool em gel por todos os lados. Integrantes da devoção também borrifam álcool nas mãos de quem vai receber a eucaristia. Ao final das missas, os poucos fiéis autorizados a conversar com o Padre Edson são cumprimentados com o punho da mão em vez do abraço fraternal. O casal José Camargo, 69 anos, e Ciça Mesquita, 49,  foram até o padre dar o testemunho por terem sobrevivido ao coronavírus. "Meu marido ficou internado e teve 25% do pulmão comprometido. Eu senti cansaço forte, mal estar e muita dor de cabeça. Mesmo assim levantava para rezar o terço duas vezes por dia. Senhor do Bonfim e Nossa Senhora que nos salvaram", disse Ciça.  

Cada um que visitava a igreja tinha uma história de agradecimento, sofrimento ou de perrengue vivido durante a pandemia. Mas também havia histórias de amor. Um casal que preferiu não se identificar estava comemorando o noivado de um relacionamento iniciado às vésperas da pandemia. Ele, médico, não resistiu em pedir o contato da paciente durante um atendimento. Ela, de Campo Formoso, ainda não conhecia a Basílica do Bonfim. Ambos tiraram as máscaras rapidamente para fazer uma foto próximo ao gradil. "Coisas da vida. Conheci ela durante um atendimento. Agora ficamos noivos no meio dessa loucura. Viemos agradecer a nossa união", disse ele. 

Fitinhas

Os tradicionais vendedores de fitinhas, ainda que não totalmente satisfeitos, também estão agradecidos com o fato de a visitação estar retornando aos poucos. Eles passaram por momentos de grande dificuldade. Afinal de contas, por longos meses, não tinham visitantes para adquirir a "Lembrança do Senhor do Bonfim da Bahia". Hoje ainda não chegam navios com turistas, não vai ter Réveillon, não vai ter Carnaval. Mas pelo menos tem um movimentozinho. "Cada R$10 que a gente ganha aqui ao menos sobrevive. Chamando por Deus pra acabar logo essa pandemia", disse Robson Santos Ferreira, 43 anos, 30 deles vendendo fitinhas na frente da igreja. 

"Cada navio desse que atracava aqui trazia 4 mil pessoas ou mais. Boa parte vinha direto para o Bonfim, né? Então o negócio tá realmente difícil", disse o vendedor de artesanato Gilberto Santos, 48 anos, morador da Pedra Furada, próximo ao Bonfim. "Vai ficar melhor com a vacina. O prejuízo foi intenso". Da mesma forma, os benzedeiros e benzedeiras que ficam na porta da igreja rezando os visitantes também voltam aos poucos. "Fiquei sete meses sem vir rezar aqui porque não tinha visitante. O maior público aqui é de idoso, isso ainda impede que muita gente venha. O fluxo caiu muito. Mas seguimos com a mesma fé nos orixás", garantiu Ismael Alves, 32 anos, babalorixá do terreiro Ilê Axé Tala Efumim, no Subúrbio.    

SEMANA DA GRATIDÃO – 20 a 24/12
Horário das Missas:
20/12 (Domingo): 5h40, 7h30, 9h, 11h, 15h e 17h.
21 a 24/12: 7h20, 9h, 10h30 e 17h.
24/12:  às 17h: Missa da Noite do Natal.
25/12 – Dia do Natal do Senhor e Última Sexta-feira do Ano:
6h, 7h20, 9h, 10h30, 12h, 14h, 15h30 17h e 18h30. A igreja estará aberta das 5h30 até às 20h. 

SEMANA DA PROTEÇÃO – 27 a 31/12

Horário das missas:
27/12 (Domingo): 5h40, 7h30, 9h, 11h, 15h e 17h.
28 a 31/12: 7h20, 9h, 10h30 e 17h.
01/01/2021- 1º dia do Ano e Primeira Sexta-feira do Ano:
Horário das missas: 7h20, 9h, 10h30, 12h, 14h, 15h30 17h e 18h30.  A Igreja estará aberta das 6h30 até às 20h. (por Alexandre Lyrio para CORREIO).
 
Foto: Tiago Caldas/CORREIO. Siga o insta @sitealoalobahia.
 

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