100 anos! Conheça a história do Hino ao Senhor do Bonfim

Kirk Moreno é jornalista, assessor de imprensa e escreve para o Alô Alô Bahia. Insta: @kkmoreno.

Uma multidão se reúne na Cidade Baixa, em Salvador, para participar dos festejos de uma das maiores festas religiosas da Bahia: a Lavagem do Senhor do Bonfim. Tradicionalmente realizada toda segunda quinta-feira do ano, milhares de pessoas caminham entre a Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia, no Comércio, e a Colina Sagrada, no Bonfim, para saudar e presenciar a lavagem das escadarias. Em todo o trajeto, uma canção com certeza embala e emociona os fiéis: o Hino ao Senhor do Bonfim, que em 2023 completa 100 anos.

Mas será que os milhares de baianos e turistas que sobem a colina sagrada caminhando, correndo ou dançando atrás de minitrios e carros de som sabem como surgiu o que cantam? Para falar da história do Hino ao Senhor do Bonfim é preciso voltar na primeira metade do século 20, exatamente no ano de 1923. Ao Alô Alô Bahia, o historiador Rafael Dantas contou que tudo surgiu quando uma comissão de pessoas notáveis da época, que também estava encarregada das comemorações vinculadas ao centenário da Independência da Bahia, pediu para ser criado um hino que resgatasse uma parte da história do século 19, fazendo ligação com o Senhor do Bonfim e a colina sagrada.

“O pedido feito foi de um hino festivo, imponente e solene. Percebe-se que a letra dele coloca não só culto ao senhor do Bonfim e à colina sagrada, mas à Bahia e ao episódio de liberdade, nesse processo de vitória ao longo dos anos que estavam inseridos no processo de Independência da Bahia. É uma letra evidentemente religiosa, mas que tem em sua origem toda uma motivação relacionada à independência baiana”, disse Rafael Dantas.

Coube a Arthur de Salles compor a letra e a João Antônio Wanderley – que era maestro da Banda da Polícia Militar da Bahia na época – a melodia do hino, que ficou imortalizado nas vozes de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa e Os Mutantes em 1968, no disco “Tropicália ou Panis et Circensis”. Nos trechos mais famosos da canção, é possível perceber menção clara ao centenário da independência da Bahia: “Glória a Ti nesse dia de glória/ glória a Ti, redentor, que há cem anos/ nossos pais conduzistes à vitória pelos mares e campos baianos…”.

Reitor da Basílica do Senhor do Bonfim, o padre Edson Menezes ressaltou ao Alô Alô Bahia a força da junção da religiosidade e da luta do povo baiano no hino: “A letra e música foram compostas para lembrar os tempos heróicos da luta, mas, de acordo com religiosos da época, o Senhor do Bonfim ajudou na vitória do povo baiano. O hino se tornou como uma oração, não só do povo baiano, mas posso dizer também do povo brasileiro. É difícil chegar em um lugar em que as pessoas não saibam cantar o hino ao Senhor do Bonfim”.

A secular Lavagem do Bonfim será retomada em 2023 após dois anos sem os festejos de rua - por causa da pandemia da Covid-19. A maior festa popular religiosa de Salvador começa com a novena no dia 5 de janeiro e encerra no dia 15 deste mês – sendo que o cortejo de oito quilômetros, seguido da lavagem das escadarias da igreja, será na próxima quinta-feira (12). A programação deste ano homenageia os 100 anos do Hino ao Senhor do Bonfim e, por isso, traz uma novidade.

"A novena é animada pelo coro e orquestra da nossa Basílica. No momento em que soar a Ave-Maria, nós iremos trazer sempre o cantor, um grupo, um artista, que vai entoar o hino ao Senhor do Bonfim. Nós vamos incentivar também que, a partir de agora, se cante ‘que há duzentos anos/ nossos pais conduzistes à vitória’ ao invés de ‘há cem anos’", confirmou o padre Edson Menezes. 

Foto: Nara Gentil/Arquivo CORREIO. Também estamos no Instagram (@sitealoalobahia), Twitter (@Aloalo_Bahia) e Google Notícias.

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