30 Oct 2023
Espetáculo de dança contemporânea marca estreia do duo Marcos Ferreira e Ruan Wills em Salvador

O espetáculo utiliza memórias biográficas dos dançarinos para uma coreografia que leva o público a espelhar as narrativas de muitos brasileiros — pretos, periféricos, bixas, afeminadas, mulheres, candomblecistas, crianças viadas, etc.
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“Enquanto Marcos traz essa referência do quintal, que nos faz recordar das lavadeiras, das ganhadeiras, dessas mulheres pretas que são o nosso chão ancestral. A minha primeira referência veio em uma conversa com meu babalorixá, em que falamos da cumeira e dessa força ancestral que é a base, o chão de cada terreiro. Ao trazer nossas referências e narrativas para Dembwa percebemos que temos chão e que não estamos soltos, apesar de todas as violências sociais que sofremos”, declara Wills.
Dembwa é um espetáculo sankofa, uma coreografia ancestral em atos. "Acredito que o nosso principal objetivo é dançar os nossos chãos e questionar: de quais rios viemos? Quais os nossos quintais? Onde está a sua raiz? O seu chão? Ao retornar para esse chão, compreendemos o que nos foi tomado”, indaga Ferreira.
As narrativas documentais de Marcos Ferreira e Ruan Wills é dançada com a guiança das forças ancestrais dos oborós - a caça de Oxóssi, a espada amolada de Ogun, o silêncio de Obaluaê, a alujá de Xangô, para desaguar nas águas arco-íris de Oxumaré.
Ferreira e Wills trazem as danças das religiões de matriz africana como estratégias afro futurísticas para mergulhar no passado, dançar no presente, que já é o passo para o futuro. Movimentos tecnológicos e ancestrais em consonância com a dança contemporânea das ruas periféricas de Salvador e do Rio de Janeiro.
“O espetáculo permeia esses chãos que nos afirmam e nos fortalece, mas traz as violências — racismo e a homofobia — sofridas por corpos como os nossos. E aí trazemos os ritmos e coreografias contemporâneas para dançar e firmar nossos corpos como referência ancestral do agora”, reforça o artista da dança Ruan Wills, que hoje faz parte do elenco da Biblioteca de Dança, com Jorge Alencar e Neto Machado, e do Balé do Teatro Castro Alves (BTCA).
Se as primeiras lembranças vem do quintal de mãe, um dos atos de Dembwa é dedicado às yabás — orixás femininos, entidades que carregam em si o poder sobre as águas, que são vida, mães, líquido-nascimento, cura e carinho de Ori. Nesta parte da coreografia, pregadores viram beleza e encanto nos corpos dissidentes de Marcos e Ruan. Pregadores símbolos para o padê a se despachar.


Em Dembwa, os artistas Marcos Ferreira e Ruan Wills investigam de forma multidirecional suas referências ao longo do tempo, como uma forma de "entender nossas gingas como mecanismos tecnológicos, mapeando novas rotas a partir desse retorno. É um convite a reacessar memórias e sonhar com quem nos sonhou, um despertar para nossa existência a partir do olhar para os nossos ancestrais, nos reconhecendo como ancestrais desse tempo".
Dembwa é uma coreografia permeada de retalhos, assim como seu figurino patchwork, construído a partir de vários restos — de roupas, fios, acessórios, tecidos, etc. Os artistas que além de intérpretes também assinam a concepção e coreografia do espetáculo, reforçam o resgate e o retorno como fatores importantes de sobrevivência, entendendo que quanto mais os seres humanos se aproximam da ancestralidade e da força dos que vieram antes, se aproximam também da força desse tempo.
Serviço
O quê: Espetáculo Dembwa
Quando: 10, 11 e 12 de Novembro (10 e 11, às 20h, e 12, às 19h)
Onde: Espaço Xisto Bahia (R. Gen. Labatut, 27 - Barris)
Ingressos: $30 (inteira) $15 (meia) | Venda na bilheteria do Teatro
* Publicado por N.R e G.C. Fotos: Divulgação.
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