30 Jun 2023
Dois de Julho: Fogo Simbólico ganha novo roteiro no Bicentenário da Independência

A inclusão de Mata de São João, Dias d’Ávila, Camaçari e Lauro de Freitas nas celebrações do Dois de Julho foi autorizada pela Fundação Gregório de Mattos, atendendo à solicitação feita pelo Consórcio Intermunicipal Recôncavo Norte e pelo historiador e pesquisador Diego Copque, e visa reconhecer as contribuições desses municípios no processo de consolidação da Independência do Brasil na Bahia. O roteiro tradicional tem saída de Cachoeira e passagem pelas cidades de Saubara, Santo Amaro, São Francisco do Conde, Candeias e Simões Filho.
“Esse pleito vem no sentido de reparação e de perceber que a história, a identidade e a cultura de uma região estavam sendo perdidas e, se alguém não buscasse uma espécie de despertar e de reparação, se perderiam muito mais", revela Copque.
Para o gerente de Promoção Cultural da FGM, George Vladimir, a participação do fogo simbólico no Recôncavo Norte contribui para o reconhecimento e a legitimação da participação dessas cidades na luta pela Independência “Há mais de 50 anos, essas cidades integravam o percurso do fogo simbólico nos dias que antecedem a celebração, mas, a partir de um determinado momento, devido à inauguração do polo de Camaçari, elas saíram do circuito. Então é uma medida de reparação histórica, que foi solicitada pelo Consórcio Intermunicipal Recôncavo Norte”, afirma.
Reforço de tropas – Em seu livro, Diego Copque registra que, na manhã de 19 de fevereiro de 1822, os militares portugueses invadiram o Forte de São Pedro (atual região do Campo Grande) e outros dois quartéis localizados em Salvador, que alojavam tropas de brasileiros. Os brasileiros foram derrotados e fugiram para se reagrupar no Recôncavo Norte, na Casa da Torre Garcia D’Ávila, território hoje pertencente à Mata de São João.
No Recôncavo Norte, a tropa patriota foi recepcionada pelo senhor da Torre, Antônio Joaquim Pires de Carvalho e Albuquerque e lá recebeu reforços de milicianos, indígenas, e caboclos remanescentes da Vila de Abrantes, Arembepe, Barra do Jacuípe e Monte Gordo, para depois voltar e lutar em Salvador. Os irmãos Pires de Carvalho e Albuquerque foram responsáveis, juntamente com o mercenário francês Pedro Labatut, por formar e dar um caráter militar ao exército brasileiro, que libertou a província da Bahia e o Brasil das forças portuguesas.
Provisão e armas – Já a Feira de Capuame (situada no território hoje denominado município de Dias d’Ávila), foi responsável pela provisão de carne, para sustento do exército patriota que lutou contra as forças portuguesas. Em outubro de 1822, a Feira de Capuame, primeira feira de gado da América Latina, tornou-se um arsenal de guerra, com uma oficina instalada para a manutenção dos armamentos disponíveis e improvisados pelos patriotas, sendo, por alguns dias, base da milícia da Casa da Torre.
Entre os atores da cena política e militar de Vila de Abrantes (região de Camaçari) estão o indígena tupinambá Joaquim Eusébio de Santa Anna, capitão-mor dos índios de Vila de Abrantes e Cipriano José Barata de Almeida, jornalista, cirurgião, filósofo, político e senhor de engenho de cana de açúcar, em Vila de Abrantes. Ele se destacou como um dos mais ativos combatentes em favor da Independência do Brasil.
Nobres cavaleiros – Em relação à participação de Santo Amaro de Ipitanga, território hoje chamado de Lauro de Freitas, é possível destacar que importantes combatentes viviam nessa freguesia, a exemplo de Luiz Antônio Pereira Franco e Anastácio Francisco de Menezes Dórea, que foram agraciados pelo imperador com o título de Cavaleiros da Ordem de Cristo. Além disso, o engenho Cagi, em Santo Amaro de Ipitanga, funcionou como uma espécie de hospital de campanha durante as lutas pela Independência do Brasil na Bahia. O engenho pertencia a João Ladislau de Figueiredo e Melo, grande latifundiário da região, seu neto, José Alvares do Amaral, foi responsável pela compra do casarão que até hoje abriga os carros alegóricos dos caboclos na Lapinha, no bairro da Liberdade.
“Todo o povo baiano pegou em armas. Ocorre que não seria diferente com a região do Recôncavo Norte. Eram povoações, vilas de suma importância, a exemplo de Vila de Abrantes, que era uma vila indígena onde o Príncipe Regente D. Pedro de Alcântara foi aclamado como imperador constitucional do Brasil. A participação desses povoados teve uma importância crucial no processo de lutas pela Independência na Bahia”, conta Copque.
Articulação – O fogo do Dois de Julho representa a união dos povos para a conquista da libertação da Bahia e do Brasil. Ele representa também a chama da liberdade. “É uma chama que não pode ser apagada, por isso ela é passada de mão em mão, como se fosse uma esperança que não morre. Inclusive, é algo que bebe de uma tradição já antiga. Outras culturas também têm esse viés ligado à chama, sagrada ou não, mas que passa de mão em mão levando ideais, esperança ou mesmo concepção de liberdade”, explica o historiador e pesquisador Rafael Dantas.
*Por: Luana Veiga. Foto: Lucas Moura/Secom.
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