24 Oct 2023
Dias contados? Locais nos EUA passam a banir influenciadores; entenda

Muitos empresários, de diversos ramos, como gastronomia e moda, acham que esses vídeos são a salvação, tamanho o alcance deles em número. No entanto, nos Estados Unidos, alguns pontos estão se fechando para influenciadores. É o caso da loja de design e café Dae, no Brooklyn, em Nova York. Segundo o site Curbed, o espaço se viu inundado por influencers e seus tripés, a ponto de os proprietários decidirem bani-los completamente.
O próprio café se manifestou nas redes sociais, onde deixou claro que, a partir daquele determinado momento, só seria permitido que os visitantes tirassem "fotos rápidas" em suas próprias mesas. "Amamos fotos de comida e bebida (claramente)... Mas, as sessões de fotos do TikTok e do Instagram ficaram um pouco fora de controle para nós", declarou o estabelecimento.
A cidade de Pomfret, no estado norte-americano de Vermont, chamou a atenção, semanas antes, ao determinar regras semelhantes. O município simplesmente fechou seus pontos mais visitados e fotografados, por alguns dias, para influenciadores e turistas. O conselho da cidade alegou "questões significativas de segurança, ambientais, estéticas e de qualidade de vida" para a decisão. Segundo moradores, determinados visitantes, com a intenção de capturar fotografias perfeitas, "mudaram a paisagem de alguns bairros ao ponto de ser insustentável".
Em países como a Irlanda, histórias parecidas são até mais antigas. Em janeiro de 2018, um hotel baniu todos os "blogueiros", depois que um influenciador pediu ao dono uma estadia gratuita em troca de conteúdo. Dois anos depois, um café em Taiwan proibiu a atuação dos produtores de conteúdo, frustrado com aqueles que não mediam esforços para obter uma foto "perfeita" dentro do espaço, tomando tempo da equipe e do espaço.
Com a ascensão do marketing de influência e da "dependência" desses influenciadores para promoção dos seus espaços e produtos, algumas empresas vêm tentando pelo menos limitar a quantidade de parcerias, buscando sugestões de vozes da internet em quem confiam, pensando mais em qualidade e alinhamento de propósitos do que quantidade.
Uma das razões é, inclusive, puramente logística, já que nem todo espaço está preparado para um aumento significativo na popularidade. "A realidade é que algumas empresas simplesmente não são adequadas para o fluxo de pessoas que um influenciador pode atrair, o que pode acabar prejudicando o negócio mais do que ajudando-o", pondera Marcus Collins, professor de Marketing da Universidade de Michigan, ao site Mashable.
Segundo ele, alguns restaurantes e estabelecimentos "não conseguem lidar com a nova demanda" e não têm sequer a infraestrutura adequada para isso. O que deveria ser positivo acaba sendo um "desgaste".
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Outra questão é que, no afã de ser o primeiro a visitar um lugar X ou apresentar os seguidores ao lugar Y, alguns influenciadores são percebidos como tendo "uma relação superficial com os lugares que visitam", segundo Sam Shaw, Diretor de Estratégia da empresa de insights de consumo Canvas8.
"A maioria dos lugares quer bases de clientes sustentáveis, não apenas enxames de pessoas que estão lá 'para o Instagram' e depois para o próximo lugar. Esta é uma extensão da proibição anterior de telefones e de tirar fotos em certos restaurantes e clubes, a fim de proteger a 'presença' da experiência para aqueles que estão lá para a substância", reforça Shaw.
Essas regras não são exatamente novas, só vão se adaptando às novas realidades. Em 2013, grandes restaurantes já começavam a impor normas mais rígidas para os apaixonados em documentar as refeições, descritos pelo New York Times como uma "legião de amantes de comida amadora, que dizem que o que fazem é uma homenagem - para não mencionar a publicidade gratuita para os restaurantes".
Hoje, com muitos jovens tendo o ato de tirar fotos de comida - e de outros produtos, lugares e contextos - como uma profissão, alguns espaços passam a questionar quão dependentes são realmente da promoção de mídia social de terceiros para impulsionar suas próprias vendas.
"Às vezes, os influenciadores são muito equivocados no valor que trazem para as marcas", avalia Joe Karasin, dono de uma agência de RP Digital e SEO, na Carolina do Norte. "Claro que Kim Kardashian pode ajudar uma marca a vender produtos. Mas a esmagadora maioria dos microinfluenciadores traz pouco valor", sentencia. Segundo ele, há uma tendência de os influenciadores terem uma sensação de propriedade "descabida" sobre espaços privados e públicos, às vezes exigindo bens gratuitos em troca de conteúdo.
Baruch Labunski, fundador de uma empresa de Marketing Digital no Canadá, concorda. "Algumas empresas privadas se cansaram de influenciadores, porque muitos vão a cafés, locais e até mesmo a prestadores de serviços, como aluguel de barcos, para obter itens ou serviços gratuitamente em troca de uma menção".
Polêmicas à parte, o que se vê no fundo são muitos estabelecimento pedindo um passo para trás para "proteger experiências 'offline'" e garantir que aqueles que estão no local para viver uma experiência "real" o façam sem transtornos e incômodo.
* Por José Mion, com informações de Meera Navlakha para o Mashable. Foto: Shutterstock.
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